Um brasileiro passou a fazer parte do seleto grupo de conselheiros do Fórum Econômico Mundial. É o paulistano Guilherme Brammer Jr., de 47 anos, convidado a levar o Brasil para a mesa de discussões sobre desafios globais como pobreza, mudanças climáticas, desigualdade e desenvolvimento econômico.
O convite veio em reconhecimento à sua participação nos encontros promovidos pelo Fórum. “Não teria sido convidado se não tivesse provocado, me exposto, como aprendi com os indianos”, diz Brammer, que participou da reunião anual em Davos, na Suíça, em 2022.
O engenheiro entrou na mira do Fórum Econômico Mundial ao vencer, em 2019, o Prêmio Empreendedor Social, realizado por “Folha de S. Paulo” e Fundação Schwab, uma das comunidades-irmãs do fórum, como fundador da greentech Boomera. Em 2020, Brammer foi reconhecido como Inovador Social do Ano pela Schwab.
O negócio de impacto criado por ele em 2011 inovou ao unir indústria, academia e cooperativas de catadores na reciclagem de resíduos difíceis. Em 2023, o Grupo Ambipar adquiriu a empresa.
Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, o empreendedor social conta o legado que pretende deixar como conselheiro sênior do Centro para Natureza e Clima, criado para acelerar a descarbonização industrial no planeta. E critica a maneira como brasileiros têm se posicionado no fórum global.
Pergunta – Você foi eleito Inovador Social do Ano em 2020 pela Fundação Schwab, após vencer o Prêmio Empreendedor Social em 2019. Qual foi o impacto desse reconhecimento?
Guilherme Brammer – O prêmio me projetou para a Fundação Schwab e para o Fórum Econômico Mundial. Sou profundamente grato. Fiquei encantado de ir a Davos, porque lá tive a chance de me conectar com pessoas brilhantes do mundo inteiro.
O Brasil desconhece o impacto desse fórum, tanto que envia representantes do segundo escalão. Há uma miopia de que as discussões estão longe da gente, mas no fundo é o ecossistema de negócios olhando o futuro do mundo.
Pergunta – Como outros países tiram melhor proveito do fórum?
Brammer – Indianos e africanos vão muito mais preparados. Agendam reuniões com ministros, fundos de investimento, negócios. A gente fica tirando selfies com Al Gore, administrando o inglês.
Nossas universidades poderiam nos preparar para esses ambientes, assim como aceleradoras de startups. Vi uma empreendedora indiana levar US$ 10 milhões de um fundo de investimento inglês com seu pitch. Ela foi preparada, acertou a mão.
Aprendi com os indianos que é preciso ser protagonista, mostrar a potência do Brasil para fundos gringos olhando países em desenvolvimento. Tem muito bilionário querendo devolver recursos para o mundo, tem dinheiro grande e paciente para inovação. Faltam soluções, chegar com projetos mais bem desenhados.
Pergunta – Como o convite para integrar o conselho do Centro para Natureza e Clima chegou a você?
Brammer – O centro é um espaço focado em acelerar a descarbonização industrial. São pelo menos 400 organizações públicas e 50 governos engajados em criar mecanismos para atingir metas do acordo de Paris.
Eles sabem que o Brasil está afastado desses espaços e a proposta é uma aproximação. É um convite feito a dez pessoas por ano e tem duração de um ano, renovável, a partir de outubro deste ano. Tem gente dos Estados Unidos, da Índia, da Colômbia, da África do Sul. Sou o primeiro brasileiro. Tomara que venham mais.
Pergunta – Qual será seu papel como conselheiro sênior no Fórum Econômico Mundial?
Brammer – Minha ideia é contribuir com a realidade brasileira nesse ambiente de discussão de alto nível. Quero levar empresas nacionais para esse ecossistema, mostrar que temos boas iniciativas em biociência, transição energética, economia circular, reflorestamento. E, por fim, contribuir com uma agenda positiva para a COP 30.
Pergunta – Será uma dedicação exclusiva?
Brammer – Não. Mas é um compromisso, uma dedicação de tempo totalmente voluntária. Tive 12 anos intensivos à frente da Boomera. Tirei um ano sabático para dar uma reorganizada na vida, estudar neurociência.
Penso que a solução para nossos problemas socioambientais não está na tecnologia da Nasa, e sim na maneira como pensamos o mundo. Estou mergulhado nesse aprendizado e, lá na frente, talvez volte a empreender.