Aviões no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS), alagado pelas fortes chuvas de maio deste ano (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
Mark Fisher, pensador, escritor e crítico cultural britânico – chamado por Amauri Gonzo de Walter Benjamin do século 21 –, produziu, com o conceito de realismo capitalista, uma chave de compreensão fundamental para o mundo orientado pelo capitalismo tardio, especialmente após a crise financeira de 2008, quando se espalhou um rastro de desesperança. Ao explorar as intersecções entre psicanálise, política, cultura pop, filosofia e economia, Fisher elaborou uma análise precisa acerca do que significa viver em uma cultura na qual o slogan “there is no alternative” , de Margaret Thatcher, se impôs com impressionante força libidinal.
Fisher saiu de cena em janeiro de 2017, em meio a uma depressão para a qual não pôde encontrar outra alternativa que não o suicídio. Também sucumbiu por efeito da extrema clareza de suas análises. Ao suicidar-se, fez a transmissão de uma última recusa, não podia suportar a vida submersa em um deserto do real, meio vivo e meio morto. Possivelmente, com a morte autoprovocada, tenha evocado o lugar ao qual podemos chegar quando banalizamos a sensação de viver em um sistema dominado pelo realismo capitalista. Um mundo em que a tristeza não é só um estado mental, mas produto de uma sociedade que normaliza a desesperança e a ausência de mudanças, desenhando um futuro desprovido de futuro.
É importante lembrar que, apesar de o futuro ter sido, ao longo da História, um enigma central para a humanidade, nem sempre o tempo vindouro foi sorvido com esperança. Na Grécia antiga, a adivinhação dos sonhos
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