Muito antes que Mark Fisher, lendo Bifo Berardi, anunciasse o lento cancelamento do futuro, Filippo Tommaso Marinetti apregoava em alto e bom som: “Estamos no promontório extremo dos séculos! Por que haveríamos de olhar para trás se queremos arrombar as misteriosas portas do impossível?”. Turbinado por um aguerrido desprezo pelo passado, seu vigoroso Manifesto futurista se lançava na contramão do moralismo, do feminismo e da “gangrena fétida” de professores, arqueólogos e antiquários, propagando, aos quatro ventos, a obsolescência de museus, bibliotecas e academias, comparados a funerárias e cemitérios.
O ano era 1909. Contra a tradição, a memória e a História, Marinetti e seus compatriotas entoavam loas ardentes a uma nova beleza disparada pelo culto onipresente da velocidade. Segundo eles, “a literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco”. Não por acaso, sua ode viril e militarista à combatividade da arte levaria seus jovens e fortes adeptos a uma grandiloquente apologia da estética da guerra como única higiene do mundo. E avisavam: “É da Itália que nós lançamos este nosso manifesto de violência arrebatadora e incendiária, com o qual fundamos hoje o ‘Futurismo’ ”.
Vislumbrando na atitude pirômano-futurista o melhor exemplo de estetização da política posta em marcha pelos propagandistas da guerra, Walter Benjamin chama atenção para as desastrosas ressonância
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »