Acessibilidade
A participação feminina na bolsa de valores vem crescendo. Segundo dados da B3, em 2021 havia 1,154 milhão de mulheres cadastradas na Bolsa e em 30 de setembro de 2024 a quantidade já era de 1,539 milhão, um aumento de 33% em pouco menos de três anos. E um dos segmentos do mercado em que o avanço da participação feminina é mais acelerado é no day trading. Essa técnica de investimentos privilegia negócios de curtíssimo prazo, em que uma ação é comprada e vendida no mesmo dia, para obter ganhos com a eventual oscilação de preços.
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Segundo um levantamento feito pela plataforma Axia Investing, que fornece instrumentos para a negociação e financia investidores para fazer day-trading, o total de investidora mais do que quintuplicou nesse período. Em 2021 elas representavam apenas 2,5% do total de 10 mil profissionais cadastrados na empresa. Atualmente, esse percentual cresceu para 15,66%.
Horários flexíveis
A bióloga Tatiana Helena Rodrigues Lima é uma dessas investidoras. Ela trabalhava com carteira assinada em uma autarquia da Prefeitura de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Decepcionada com a rotina, Lima buscou uma atividade que lhe oferecesse uma renda semelhante à do salário, mas que proporcionasse mais flexibilidade de horário.
Seu primeiro contato com o mercado financeiro aconteceu em 2020 por meio de alguns amigos que já faziam day trade. Ela se interessou, comprou um curso básico de finanças pela internet e começou a estudar. “Passei a receber muitas propagandas sobre day trade e uma delas, sobre mesa proprietária, chamou minha atenção”, diz ela. “Fui pesquisar. Fiquei desconfiada no começo, mas comecei a experimentar em maio de 2023. Em setembro me liguei a uma plataforma e migrei para a Axia em janeiro de 2024.”
Lima está satisfeita com os resultados e pretende continuar atuando como trader nos próximos anos. Hoje opera dólar e índice e nunca deixou de estudar. Tornou-se uma referência no bairro onde reside. “As pessoas me perguntam se é possível mesmo ganhar dinheiro com day trade e se a mesa proprietária paga corretamente. A resposta é sim para ambas as perguntas e eu busco incentivar, principalmente as mulheres, a entrarem neste mercado”.
Outro exemplo é Isabela Soares, de Salvador, Bahia. Mãe solo, ela estudava medicina na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e precisava de um trabalho em tempo parcial. Um amigo explicou como funcionava a bolsa de valores e disse que não era necessário muito dinheiro para começar. Soares também se interessou pelo day trading. “Consegui ganhar dinheiro para pagar os R$ 12 mil da minha formatura e manter minha casa, além de ajudar minha mãe, que ficou desempregada durante a pandemia” diz. Sua maior dificuldade com o day trading foi se acostumar com ganhos variáveis. “Em média eu garanto de R$ 2 mil a R$ 3 mil por mês, mas já aconteceu de eu obter resultado negativo e não receber nada.”
Questões culturais
O trader tem de estar preparado para ganhar e perder e deve ter consciência de que não vai ficar rico. “A grande vantagem é a flexibilidade. Eu só opero na B3 na bolsa de manhã, mas poderia fazer isso à tarde. E posso trabalhar de qualquer lugar usando apenas o celular. Eu consigo conciliar o day trading com o meu trabalho como médica no Hospital das Clínicas da UFBA”, diz.
Soares diz acreditar que o que impede um aumento da participação feminina no mercado são questões culturais. “As mulheres estão conformadas em ficar em casa cuidando dos filhos enquanto o homem trabalha fora. Mas as donas de casa podem cuidar dos filhos e terem própria renda no trading.”
Segundo Leonardo Megale, co-fundador da Axia Investing, o trading deve ser visto como uma profissão e não um hobby. “É uma atividade que exige preparo, estudos, dedicação, equilíbrio emocional e disciplina para lidar com a volatilidade constante do mercado”, diz ele.
Megale avalia como natural o crescimento da participação feminina. “A internet torna a informação mais acessível e aos poucos as investidoras vão percebendo que o trabalho de trader propicia renda e ocupa pouco tempo no dia a dia”, diz. “Dá para conciliar com outro emprego e é uma ótima opção para as mulheres que trabalham em home office e procuram uma fonte de renda adicional.”