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quinta-feira, janeiro 2, 2025

Morre Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA, aos 100 anos

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O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter morreu neste domingo em sua residência na Geórgia, aos 100 anos. O democrata, que governou os EUA de 1977 a 1981 e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2002, lutava havia anos contra um câncer.

Há dois anos ele abriu mão de terapias curativas, após uma série de crises médicas causadas pela quimioterapia, e vinha se submetendo a tratamentos paliativos, informaram fontes da família ao jornal americano “The New York Times”.

Aos 100 anos, ele foi o presidente que viveu mais tempo na história dos EUA. Ele chefiou a Casa Branca por quatro anos tumultuados pela crise do petróleo, alta inflação e a crise dos reféns no Irã. Mas ele também assinou um acordo de limitação de armas estratégicas com a então União Soviética e ajudou a forjar os Acordos de Camp David entre o Egito e Israel.

Chip Carter, filho do ex-presidente, disse que seu pai foi um herói para “todos que acreditam na paz, nos direitos humanos e no amor altruísta”. Ele acrescentou: “O mundo é nossa família por causa da maneira como ele uniu as pessoas”, completou.

Carter tinha se tornado em setembro o primeiro ex-presidente dos EUA a completar 100 anos. Exerceu um único mandato até sofrer uma derrota eleitoral esmagadora para o republicano Ronald Reagan, em 1980. Depois, converteu-se em um aguerrido militante da promoção da democracia e dos direitos humanos pelo mundo.

Durante sua Presidênci, Carter foi o responsável pelo início do desmantelamento de ditaduras de direita que os EUA — em meio à Guerra Fria — ajudaram a espalhar pelo planeta anoa antes. Na América Latina, incentivou o iníco da complexa transição do ciclo de regimes militares para o de governos eleitos.

E enfrentou o que foi até então a pior crise externa desde o fim da Guerra do Vietnã, com a tomada de reféns na embaixada americana em Teerã, durante a Revolução Iraniana liderada pelo aiatolá Khomeini. O sequestro de 52 americanos começou em janeiro de 1979 e durou 444 dias, atravesando todo o período de campanha eleitoral, e só terminou no dia da posse de Reagan, em 20 de janeiro de 1981 — pulverizando qualquer chance de reeleição de Carter.

Após deixar a Casa Branca, ele fundou com sua mulher, Rosalynn, em 1982. sua ONG de monitoramento político, de direitos humanos e eleitoral — o Centro Carter. Pelo trabalho no centro, Carter ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2002 e passou a ser conhecido como um ex-presidente mais bem-sucedido do que quando estava na Presidência. Rosalynn Carter morreu em 2023 aos 96 anos.

James Earl Carter Jr. nasceu em 1 de outubro de 1924, em Plains, na Geórgia, filho de uma família importante da zona rural do sul do Estado. Ele entrou na Academia Naval dos EUA durante a 2 Guerra, e seguiu carreira como oficial da Marinha na época da Guerra Fria. Nos anos 50, com a morte de seu pai, Earl Carter, ele voltou a Plains com Rosalynn, com quem se casara em 1946, e sua jovem família para assumir a empresa de cultivo de amendoim da família.

Considerado um democrata moderado, o jovem Carter subiu rapidamente do conselho escolar local para o Senado estadual e daí para governador da Geórgia. Ele começou sua candidatura à Casa Branca como um azarão com um sorriso largo, valores morais batistas declarados e planos políticos que refletiam sua educação como engenheiro.

Carter era um governador pouco conhecido do Estado da Geórgia quando começou sua campanha para ser o candidato democrata à Presidência dos EUA nas eleições de 1976. Ele acabou derrotando o então presidente Gerald R. Ford, ao capitalizar a ideia de que era alguém de fora dos círculos de Washington, na esteira da Guerra do Vietnã e do escândalo de Watergate, que tinha tirado Richard Nixon do cargo em 1974.

Ele ganhou a simpatia de muitos americanos por causa de sua promessa de não enganar o povo do país depois do escândalo de Nixon e da derrota militar dos EUA no Sudeste Asiático.

“Se alguma vez eu mentir para vocês, se eu fizer uma declaração enganosa, não votem em mim. Eu não mereceria ser seu presidente”, dizia Carter com frequência durante os eventos de sua campanha eleitoral.

Carter, que chegou à maioridade política durante o movimento pelos direitos civis, foi o último candidato presidencial democrata a arrebatar o Deep South (o Sul profundo dos Estados Unidos), antes que a região se desviasse rapidamente para Reagan e os republicanos nas eleições seguintes.

Seu governo foi marcado pelas pressões da Guerra Fria, a turbulência dos choques nos mercados globais de petróleo e convulsões sociais com relação a racismo, direitos das mulheres e o papel dos EUA no mundo.

Uma de suas vitórias na política externa foi a intermediação de negociações de paz no Oriente Médio, ao manter o presidente egípcio, Anwar Sadat, e o primeiro-ministro israelense, Menachem Begin, na mesa de negociações por 13 dias em 1978, que levou ao acordo de Camp David. Essa experiência inspirou o centro que Carter fundou após terminar seu mandato e onde estabeleceria grande parte de seu legado político.

Na política interna, Carter desregulamentou parcialmente os setores aéreo, ferroviário e de transporte de cargas por caminhões e instituiu os Departamentos de Educação e de Energia e a Agência Federal de Gestão de Emergências. Ele demarcou milhões de acres no Alasca como parques nacionais ou refúgios de vida selvagem. E nomeou um número recorde de mulheres e pessoas não-brancas para cargos federais. Ele não chegou a fazer nenhuma indicação para a Suprema Corte, mas nomeou a advogada de direitos civis Ruth Bader Ginsburg para a segunda mais alta corte do país, o que a levaria para a Suprema Corte em 1993.

No seu mandato, Carter também aprofundou a abertura do governo de Ricahrd Nixon em relação à China e, embora tolerasse ditadores na Ásia, pressionou a América Latina a passar das ditaduras para a democracia.

Mas o apoio a Carter se fragmentou sob o peso da inflação de dois dígitos, das filas para comprar gasolina e da crise dos reféns no Irã, que durou 444 dias. Seu pior momento foi quando oito americanos morreram durante uma tentativa fracassada de resgate dos reféns, em abril de 1980, o que ajudou a garantir sua derrota esmagadora.

A partir de então, durante vários anos Carter ficou em grande medida longe da política eleitoral. Os democratas hesitaram em acolhê-lo. Os republicanos fizeram dele uma piada e o caricaturaram como um esquerdista infeliz. Na verdade, Carter governou mais como um tecnocrata; foi mais progressista em questões raciais e de igualdade de gênero do que prometera em sua campanha, mas um linha-dura em questões de orçamento, o que muitas vezes irritou os democratas mais esquerdistas, como o senador Ted Kennedy, de Massachusetts, que travou uma batalha duríssima contra ele nas prévias do partido em 1980.

Depois de deixar o cargo, Carter disse que tinha subestimado a importância de lidar com os poderosos de Washington, entre eles os meios de comunicação e as forças de lobby ancoradas na capital do país. Mas o ex-presidente insistiu em que sua abordagem como um todo era sólida e atingiu seus objetivos principais – “proteger a segurança e os interesses de nossa nação pacificamente” e “fortalecer os direitos humanos aqui e no exterior” – mesmo que ele tenha ficado espetacularmente longe de obter um segundo mandato.

O ex-presidente viveu a maior parte de sua vida em Plains, mas entre os 80 e os 90 anos viajou com frequência, como as viagens anuais para participar dos programas de construção de moradias da organização não-governamental Habitat for Humanity e as idas regulares ao exterior como parte do monitoramento eleitoral do Carter Center e de suas iniciativas para erradicar o verme-da-guiné em países em desenvolvimento. Sua saúde se deteriorou ao longo de sua décima década de vida. A pandemia da covid-19 limitou suas aparições públicas, mesmo em sua amada Igreja Batista Maranatha, onde deu aulas na Escola Dominical durante décadas diante de multidões de visitantes.

Em agosto de 2015, uma pequena massa cancerosa foi removida de seu fígado. No ano seguinte, Carter anunciou que não precisava de mais tratamento, pois uma droga experimental tinha eliminado, na avaliação dele, qualquer sinal de câncer.

Ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter — Foto: AP Photo/Associated Press

[Fonte Original]

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