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sexta-feira, dezembro 27, 2024

Só 10% dos investimentos de venture capital no Brasil são voltados para teses de Florestas e Clima

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No relatório “Contribuição do Venture Capital para Floresta e Clima” , encomendado pela gestora de investimento em impacto KPTL para a consultoria Impacta, identificou 1829 startups de impacto no Brasil, sendo 1466 focadas na temática de Floresta e Clima. Apenas 10% dos negócios investidos por venture capital mapeados pelo estudo são negócios florestais, com foco em reflorestamento e restauração.

Em um primeiro momento, a Impacta sistematizaram mais de 30 relatórios sobre as temáticas de análise. Depois, foram feitas 17 entrevistas com 15 instituições, incluindo a própria KPTL. A partir daí, foram mapeados os dados, considerando a perspectiva das gestoras, fundos e startups.

O venture capital é uma modalidade de investimento que compra participação em empresas que estão em estágio inicial e médio de crescimento. É uma área que demanda altos investimentos iniciais e capital paciente, uma vez que os retornos só vêm no longo prazo. Essas características, adicionadas aos riscos ambientais e de mercado, dificultam a atração de capital. Essas soluções frequentemente demandam altos investimentos iniciais e apresentam prazos de retorno mais longos, além de riscos ambientais e de mercado, o que dificulta a atração de capital.

Ainda segundo a pesquisa, 109 empresas de tecnologia com foco na urgência climática (climate techs) receberam investimentos. Dessas, 95 startups receberam aportes de gestoras de investimentos e outras 14 de Fundos de Investimento em Participação (FIPs) de venture capital.

No total, foram avaliadas 1971 rodadas de investimentos feitas por 49 gestoras de venture capital no país. Dessas, porém, só 5% foram rodadas de investimento em climate techs, startups com foco em soluções para a emergência climática. Foram ainda mapeados 1810 FIPs, sendo 89 focados em investimentos potenciais em Floresta e Clima e 28 FIPs de venture capital com investimentos potenciais em Floresta e Clima.

Segundo o estudo da Impacta, a interação do venture capital com a temática de floresta e clima ainda é pouco aproveitada. “A despeito do diferencial competitivo do país na agenda, o mercado de VC avança aos poucos”.

Para os autores, o avanço dos arcabouços legais e regulações sobre o assunto parecem desempenhar um papel chave. “Destinando bilhões de dólares a projetos sustentáveis, elas diretamente e indiretamente geram impacto nos mercados verdes, estimulando mais soluções e facilitando o processo de desenvolvimento dos mercados”, comentam os autores.

O Brasil, destacam eles, apesar de seu imenso potencial na temática de floresta e clima, ainda patina para escalar e formalizar a agenda. O volume de investimento vem crescendo, mas em ritmo menor do que o desejável.

Ao menos 69% das gestoras possuem ao menos um investimento em climate tech. Contudo, apenas 6,1% dos investimentos totais são direcionados para climate techs. Os números crescem, mesmo que de forma gradual.

”Ao longo da nossa trajetória de investimentos e aceleração de negócios de impacto percebemos que um dos grandes desafios para a larga escala é o de destravar gargalos estruturantes, como os detalhados no estudo”, comenta Gustavo Luz, diretor-executivo do Fundo Vale.

Ele cita as soluções de base tecnológicas com foco em redução de custo, aumento da eficiência, melhoramento genético, rastreabilidade da cadeia e garantia de integridade de benefícios socioambientais como as mais promissoras para acelerar a agenda de sustentabilidade do país.

“Dessa forma entendemos que nosso capital catalítico e paciente, em conjunto, com capital de venture capital pode oferecer condições adequadas para o nível de maturidade atual desse mercado”, reitera o executivo.

País de imenso potencial na temática de floresta e clima, o Brasil ainda patina para escalar e formalizar a agenda em diferentes setores, embora os números indiquem aumento dos recursos públicos e privados para iniciativas e projetos climáticos.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinou R$ 28,4 bilhões à pauta em 2023, crescimento de 61% em valores absolutos em relação a 2022. Proporcionalmente, a agenda florestal e de clima representa 24% da carteira de desembolso, 6% maior do que no ano anterior.

Considerando os principais atores de investimento de impacto no Brasil, o volume de ativos sob gestão (AUM) entre 2020 e 2021 mais do que dobrou durante o período analisado, para R$ 6,6 bilhões.

“Muitas vezes ouvimos questionamentos sobre Floresta e Clima ser uma tese possível para venture vapital dada a natureza particular dos negócios florestais. Fomos a fundo, numa pesquisa com dados inéditos, e vimos que não só podem ser parte da tese dos VCs, como o investimento e desenvolvimento de tecnologias para essas verticais é fator chave de sucesso para viabilizar esses mercados com maior eficiência, escalabilidade e transparência”, resume Felipe Vignoli, fundador da Impacta Finanças Sustentáveis.

Quando analisados os negócios de Floresta e Clima investidos por instrumentos de venture capital, três setores se destacam: Agropecuária e Sistemas Alimentares (45%), Energia e Biocombustíveis (17%) e Florestas e Uso do Solo (11%). O maior protagonismo de setores como Agropecuária e Energia se dá por uma série de fatores, de acordo com o estudo, como a relevância estratégica do setores, o maior fluxo de recursos públicos para pesquisa e um contexto regulatório favorável.

A pesquisa ainda mostra a disparidade no fomento à pesquisa e inovação entre setores, que R$ 92 milhões são destinados ao fundo do Agronegócio em 2024. Este é o segundo maior orçamento entre os fundos setoriais, ficando atrás apenas em infraestrutura. A agropecuária também recebeu em 2024 cerca de R$ 428 milhões para pesquisa e inovação, sendo R$ 192 milhões (45% do total) geridos pela Embrapa.

O Brasil, terceiro maior exportador mundial de produtos agropecuários, vive um momento de prosperidade no mercado de agtechs (Agricultural Technologies, são startups que desenvolvem soluções inovadoras para o agronegócio), impulsionado por fatores como a relevância estratégica da agricultura, o aumento de investimentos em pesquisa e inovação, e um contexto regulatório favorável à transição para uma economia de baixo carbono. Esses elementos têm impulsionado o avanço do setor agropecuário, com aumento de produtividade, redução de custos e agregação de valor aos produtos finais.

Por outro lado, o setor florestal, apesar de seu grande potencial econômico, ainda enfrenta desafios. A maior concentração de negócios na região Norte dificulta o acesso a recursos e mercados, enquanto o volume de investimentos públicos em pesquisa e inovação é inferior ao do agro. Além disso, o ambiente regulatório, embora positivo, ainda está em amadurecimento, dificultando a atração de investimentos para o setor.

A Amazônia pode ser uma das regiões para onde serão direcionados cada vez mais recursos. Segundo a Impacta, R$ 8 milhões foram destinados em 2024 ao Fundo Setorial da Amazônia e outros R$ 2,4 milhões à pesquisa e inovação para o desenvolvimento sustentável da biodiversidade amazônica. O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) para a Ciência, Tecnologia e Inovação recebeu outros R$ 8,48 milhões.

Para que o setor florestal acompanhe o crescimento do agro, é necessário mais investimento em pesquisa, inovação e uma regulamentação mais robusta. A combinação desses fatores pode garantir um futuro mais sustentável e próspero tanto para o agro quanto para a floresta no Brasil.

Segundo a plataforma de monitoramento de políticas para soluções baseadas na natureza da Nature4Climate, apenas 33% das políticas implementadas desde o Acordo de Paris têm orçamentos definidos. Outro dado alarmante é que apenas 19% dessas políticas incluem considerações sobre os povos indígenas. Embora os territórios indígenas representem 24% da floresta amazônica, eles recebem atualmente menos de 1% dos recursos destinados ao financiamento climático.

Agro é um setores que mais atraem recursos para soluções climáticas — Foto: Impacta

Outro resultado da análise da Impacta é que o foco de atuação do venture capital se inicia no início do processo de escalabilidade, definido pelo momento em que o custo médio total da tecnologia cai e, portanto, a produtividade aumenta. É o primeiro sinal de que o negócio tem potencial de gerar um múltiplo financeiro. As gestoras, portanto, atuam no elo de apoio para alavancar os negócios.

Atualmente, o portfólio da KPTL conta com 65 companhias, sendo a maioria delas em fase de tração. Dentre essas empresas, 10 estão diretamente envolvidas com atividades no bioma da Amazônia, abrangendo diversas áreas. Em junho, a KPTL lançou o Amazonia Regenerate Accelerator and Investment Fund, com apoio do BID Lab, o braço de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento. O fundo inicial conta com US$ 11 milhões (aproximadamente R$ 55 milhões) para seus primeiros investimentos, com a meta de atrair novos investidores internacionais e alcançar US$ 30 milhões (cerca de R$ 158 milhões) nos próximos 18 meses.

A análise das inovações no campo das soluções climáticas revela dois perfis distintos de investimentos. O primeiro consiste em tecnologias que aumentam a eficiência e acessibilidade das soluções climáticas em setores já estabelecidos, como agricultura, energia e transporte. O segundo foca em modelos de negócios inovadores, especialmente aqueles voltados para a restauração e reflorestamento, com ênfase na viabilidade financeira por meio do comércio de créditos de carbono. Essas soluções, potencializadas por tecnologias que promovem escalabilidade e rastreabilidade, têm ganhado destaque no cenário global.

No entanto, ao se observar o setor florestal, especialmente os negócios de reflorestamento e restauração, surgem desafios significativos para atrair investimentos de venture capital. Estes negócios são, frequentemente, intensivos em capital inicial e possuem prazos de retorno longos, além de apresentarem riscos ambientais, de mercado e legais. A vulnerabilidade a eventos climáticos extremos, a volatilidade dos preços dos produtos florestais e as complexidades regulatórias tornam os investimentos nesse setor mais arriscados, dificultando sua atratividade.

Porém, ao analisar mais profundamente os investimentos em florestas e uso do solo, nota-se que mais de 60% dos negócios voltados para restauração e reflorestamento utilizam tecnologias de medição e monitoramento, além de inteligência de dados. Esses modelos de negócio, centrados na comercialização de créditos de carbono, têm se mostrado mais atrativos para os investidores, pois oferecem soluções escaláveis e eficientes.

Consideradas “enablers” (na tradução, facilitadores), essas tecnologias desempenham um papel crucial na viabilização dos negócios florestais, aumentando sua escalabilidade e tornando-os mais atraentes para os investimentos de risco.

[Fonte Original]

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