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domingo, dezembro 22, 2024

Crítica | Bem-Vindo à Casa dos Mortos (Goosebumps #1), de R. L. Stine – Plano Crítico

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Quando iniciou a sua série Arrepios, com Bem-Vindo à Casa dos Mortos, o escritor R.L. Stine já tinha uma carreira bem estruturada, escrevendo livros de terror para jovens, com sua série Rua do Medo, que estreou em 1989. Em 1992, quando Welcome to Dead House chegou ao público, Stine já estava no 14º volume de Fear Street. Essa sólida experiência com um gênero e público específicos tornou a estreia de Goosebumps especialmente intrigante, o que talvez explique o seu estrondoso e rápido sucesso de público. Nesta primeira aventura do popular projeto, acompanhamos Amanda e Josh em sua mudança para a sombria cidade de Dark Falls, motivada pela inesperada herança de um tio esquecido: uma casa medonha que precisava de reformas, envolta em árvores que acentuam ainda mais sua atmosfera ameaçadora.

A ambientação inicial, marcada por figuras fantasmagóricas e ruas e casas vizinhas aparentemente desertas, cria no leitor uma grande apreensão pelo que está por vir, e em muitas passagens, realmente imaginamos que o texto adotará resoluções bem maduras para a proposta, o que não acontece, claro. Mas, ao invés de intensificar o suspense (mesmo com o manto infantojuvenil), o autor se perde nos clichês cada vez mais bobos e nos desfechos que se alternam entre previsíveis e confusos, muitos deles, pisoteando boas cenas de preparação escritas nos capítulos anteriores.

Um dos principais pontos fracos da obra é a superficialidade de seus personagens. Não é porque estamos lendo um livro para uma faixa etária mais jovem que devemos aceitar diálogos ruins, sem muito propósito imediato e praticamente nenhum aprofundamento de personagens, nem mesmo dos protagonistas. Amanda e Josh carecem de mais informações para além das manias superficiais que o autor nos faz saber sobre eles, e o mesmo ocorre com os pais, que parecem majoritariamente alheios à construção da história, mas depois são convenientemente inseridos no núcleo do problema, a fim de serem salvos, da maneira mais inacreditável possível, pelos próprios filhos. A ausência de uma exploração psicológica dos personagens centrais impede qualquer conexão significativa e faz com que o leitor não sinta o peso das ações e sentimentos expressos por cada um nos momentos mais intensos do volume.

Talvez, ainda pior que isso, seja a exposição de Dark Falls. O local é apresentado como uma “cidade amaldiçoada”, mas tudo em relação ao espaço é narrativamente raso, deixando inúmeras questões sem resposta, mesmo depois de um arremedo de origem que o autor resolve nos dar, já na segunda metade do livro. A omissão de detalhes sobre o funcionamento da cidade, a ausência ou um menor tráfego de pessoas e a própria condição dos fantasmas-corpóreos que temos aqui, ao invés de fortalecer o mistério, gera frustração e afasta o público da imersão esperada. As perguntas sobre os policiais, sobre os vizinhos, sobre a festa dos pais dos protagonistas e sobre o fato de ninguém ter achado estranho um local sem gente por toda a sua extensão é absurdo – e olhem que eu já estou suspendendo a descrença para a aceitação embasbacada do pai de Josh e Amanda em relação à herança de uma casa, e como os papéis conseguiram ser arranjados pelos fantasmas. 

O leitor se diverte nas dezenas de “sustos explicados” que o autor cria já nas primeiras páginas, respondendo de forma bastante objetiva e realista às medonhas sugestões e assombrações. Ainda acho que ele exagerou na quantidade de momentos desse tipo, mas a maioria dessas cenas ainda é aceitável. O que realmente não dá para aceitar é a batalha no cemitério contra os fantasmas-corpóreos (que, aparentemente, podem morrer por luz forte e direta incidida sobre seus corpos… e também esmagados por árvores), e a possibilidade de não terem sido vencidos, sugerindo um ciclo sem fim para a chegada de novos moradores em Dark Falls. É insano pensar nessa condição, pois a família de Josh e Am anda estava fugindo e, como num passe de mágica, encontram-se com moradores novos para “substituí-los” no jogo mortal dos vilões locais. Fica difícil de engolir. Bem-Vindo à Casa dos Mortos  não é um livro terrível, porque a primeira parte é cativante, mas o desenvolvimento do principal conflito da obra e o clímax de todo o projeto certamente se encontram no patamar de intragáveis, ao lado da prateleira da perda de tempo. Ainda bem que é um livro curto.

Goosebumps #1: Bem-Vindo à Casa dos Mortos (Welcome to Dead House) — EUA, julho de 1992
Autor: R. L. Stine
Editora original: Scholastic Press
No Brasil: Editora Fundamento, 2006
Capista original: Tim Jacobus
103 páginas



[Fonte Original]

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