Uma confluência de fatores ajudou a estancar parte da sangria vista na véspera e ofereceu suporte para o Ibovespa apresentar um respiro na sessão desta quinta-feira. Depois de fechar na maior queda diária em mais de dois anos ontem, o principal índice da bolsa brasileira terminou o dia em alta de 0,34%, aos 121.188 pontos, oscilando entre os 120.768 pontos e os 121.770 pontos. Ao todo, 62 das 87 ações avançaram no pregão.
Falas do atual diretor de política monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, somadas ao leilão extraordinário do Tesouro Nacional, e à aprovação do texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do pacote fiscal na Câmara em dois turnos, desencadearam uma redução mais forte dos prêmios de riscos na sessão. Embora o texto ainda possa sofrer novas desidratações ao ser enviado ao Senado, perdeu força a visão de que os projetos pudessem ficar travados no Congresso no fim de ano.
A atuação histórica do Banco Central com uma intervenção de US$ 8 bilhões no mercado à vista de câmbio, sendo que US$ 5 bilhões em apenas um certame, também foi bem-recebida pelo mercado.
Na visão do gestor de renda variável da Persevera, Fernando Fontoura, a atuação do BC sobre o câmbio foi importante porque o dólar tem poder de ancoragem por ser a variável “onde tudo desemboca”. “Trazer ancoragem e descompressão é muito importante para a bolsa”, resumiu.
Depois de perder o patamar dos 121 mil pontos na véspera, um trader lembra que a marca de 120 mil pontos é importante. Por essa razão, o índice encontrou “suporte para não recuar ainda mais”. Em dezembro, o Ibovespa apresenta desvalorização de 3,56%, mas a impressão de participantes do mercado é que a bolsa brasileira conseguiu se manter mais resiliente na comparação com o mercado de câmbio e de juros.
“A bolsa se comporta de modo diferente de outros ativos mais relativos, do que câmbio e os juros, por exemplo, porque é um ativo real. É composta por empresas que têm um valuation. A bolsa não pode ficar negativa”, afirma o chefe de uma importante corretora de ações, em condição de anonimato. “O juro não tem um teto, mas a bolsa tem um piso, digamos assim, que a impede de cair tanto”, completa.
Depois de terminar como a maior queda da sessão anterior, as ações da novata Automob passaram por correção e fecharam na liderança das maiores altas, com um avanço de 34,29%. Papéis do Carrefour também subiram 8,20% com a notícia de que a companhia concluiu a transação com o fundo de investimento imobiliário Guardian Real Estate (GARE11), para a venda de 15 imóveis próprios por R$ 725 milhões. Ontem, a varejista também anunciou a distribuição de juros sobre capital próprio (JCP), no valor bruto de R$ 200 milhões, o equivalente a R$ 0,0948 por ação.
Por outro lado, ações de empresas de commodities foram penalizadas com o recuo nos preços do minério de ferro e a desvalorização do dólar frente ao real na sessão de hoje, caso da CSN (-2,53%), Vale (-1,90%) e CSN Mineração (-1,87%).
Com uma nova queda, o valor de mercado da Vale chegou a R$ 244,1 bilhões na sessão de hoje. Esse foi o menor valor já registrado pela companhia desde 15 de maio de 2020, quando atingiu R$ 240,2 bilhões.
Em relatório, a Tarraco Commodities Solution destacou que os preços do minério de ferro continuaram a se enfraquecer hoje, impactados pela baixa demanda no mercado siderúrgico da China e pelas incertezas macroeconômicas globais. Segundo a casa, boa parcela dos traders da commodity estão com uma visão mais pessimista.
Em dia de vencimento de opções sobre ações, o volume financeiro no índice foi de R$ 19,8 bilhões e de R$ 27,5 bilhões na B3. Já em NY, os índices americanos fecharam perto da estabilidade: o Nasdaq caiu 0,10%; o S&P 500 recuou 0,09%; e o Dow Jones teve alta de 0,04%.