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quarta-feira, dezembro 4, 2024

Crescimento disseminado da economia neste ano não deve se repetir em 2025

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Marcada por um crescimento disseminado, a atividade econômica teve como protagonista a indústria de transformação em 2024, mas também foi puxada por construção e serviços. O cenário deste ano, contudo, não deve se repetir em 2025. Ainda que a perspectiva seja de crescimento, um ambiente doméstico mais desafiador, com mais juros e política fiscal menos expansionista, e riscos externos, como reajuste de tarifas pelos Estados Unidos, podem reduzir o ímpeto desses setores, avaliam economistas.

Grande surpresa do ano, a indústria manufatureira teve desempenho melhor que o esperado, contrastando com o fraco ano de 2023. A construção, por sua vez, foi impulsionada pelo calendário eleitoral e pelo programa Minha Casa Minha Vida. O setor de serviços seguiu a trajetória positiva que vem tendo pós-pandemia e foi beneficiado pelo aumento da renda.

“Eu diria que 2024 tem sido um ano marcado por um crescimento bem disseminado entre os diferentes segmentos da economia. Mas, claro, não foi um ano tão bom para a agropecuária, que sofreu por problemas climáticos que afetaram safras importantes”, afirma Silvio Campos Neto, economista sênior e sócio da Tendências Consultoria.

“Tirando o fator mais pontual ligado à agropecuária, o ano mostra um bom desempenho de atividades industriais, o que é uma boa notícia, depois de a indústria vir patinando há muito tempo.”

Depois de ter crescido 1,6% em 2023, a indústria deve crescer 3,4% neste ano, segundo projeção da Tendências e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

Dentre os segmentos que mais se destacam na indústria de transformação, estão os de alimentos e bens de capital, especialmente ligados à parte de transportes, como ônibus e caminhões.

O crescimento da indústria é importante porque traz os “spillover effects” (de transbordamento) para a própria indústria, com impulso da produção de bens intermediários e de capital, mas também no emprego, no investimento, na arrecadação de impostos e nos serviços, afirma Silvia Matos, economista do FGV Ibre e coordenadora do Boletim Macro.

Dentro da indústria, segundo o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), a construção civil também foi um dos drivers da atividade neste ano. Após um período de pressão negativa, o setor reagiu impulsionado pelo Minha Casa Minha Vida. O ano de eleições municipais, marcado por obras de infraestrutura, teve contribuição importante.

Já o setor de serviços, com desempenho acima da expectativa desde o fim da pandemia, continuou sendo o principal motor da atividade econômica neste ano. A expectativa é que o setor avance 3,2% em 2024, de acordo com a Tendências Consultoria. O FGV Ibre espera alta de 3,5%.

O economista Mauricio Nakahodo destaca que os segmentos de serviços, incluindo o comércio, foram impulsionados pelas condições favoráveis do mercado de trabalho, com baixa taxa de desemprego e forte geração de empregos com carteira assinada.

Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, de janeiro a outubro deste ano foram gerados 2,1 milhões de novos postos de trabalho.

Nakahodo afirma que o setor de serviços lidera a geração de empregos, respondendo por mais de 50% do total.

“Para o restante do ano, o bom momento do mercado de trabalho pode continuar dando suporte à demanda doméstica e beneficiando esses segmentos”, acrescenta o economista.

Nesse sentido, afirma Lucas Assis, economista e analista da Tendências, números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua renovaram os sinais de aquecimento do mercado de trabalho brasileiro.

“Foram sucessivas expansões da população ocupada e dos rendimentos reais, mantendo a desocupação em níveis historicamente baixos e promovendo o crescimento da massa salarial”, afirma Assis.

De acordo com a Pnad Contínua, no trimestre encerrado em outubro, a população ocupada alcançou 103,6 milhões no período, um novo recorde histórico, com alta de 3,4% no ano (ou mais 3,4 milhões de pessoas).

Em relação ao mesmo período de 2023, lembra, o crescimento de ocupações formais superou o de informais: 2,3 milhões contra 1,1 milhão, respectivamente.

Frente ao trimestre de agosto a outubro do ano passado, sete grupamentos cresceram: indústria (5%), construção (5,1%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (3,3%), transporte, armazenagem e correio (5,7%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (4,5%), administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (4,4%) e outros serviços (7,2%).

Os grupos de serviços domésticos e alojamento e alimentação apresentaram estabilidade. E houve redução somente no de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (de queda de 5,3%).

“A continuidade da alta na população ocupada, sustentada pelo desempenho positivo do PIB, permanece como uma expectativa para o restante do ano. Para 2025, contudo, espera-se desaceleração da ocupação, devido à menor expansão de setores cíclicos e ao arrefecimento gradual da renda e do consumo domésticos”, diz.

“A expectativa é de manutenção da taxa de desocupação em patamares baixos nos próximos trimestres, o que reforça o quadro de escassez de mão de obra em setores específicos, ampliando o poder de barganha dos trabalhadores nas negociações salariais e pressionando custos produtivos e preços.”

No próximo ano, a atividade econômica deve perder força, o que reduz as projeções para o crescimento PIB. A Tendências espera que a economia cresça 2,9% em 2024, desacelerando para 1,7% em 2025. O FGV Ibre prevê alta de 3,3% do PIB neste ano e de 2,2% no próximo.

O menor ímpeto da atividade é explicado, em parte, pelo desaquecimento dos drivers que puxaram a economia em 2024.

“A indústria crescerá no ano que vem, mas a de transformação a um ritmo menor devido a fatores como crescimento menor da massa de renda ampliada e desaceleração do crédito, cujo custo está mais alto”, afirma Matos, ao prever desaceleração da indústria de transformação de 3,3% neste ano para 1,7%.

A indústria como um todo também tende a ter um ano mais desafiador em 2025, por causa do crédito mais caro, que pode afetar a demanda por bens duráveis e semiduráveis, assim como as condições de financiamento para bens de capital.

O FGV Ibre espera crescimento de 2,7% da indústria em 2025, enquanto a Tendências prevê alta de 2% no próximo ano.

A construção civil também deve desacelerar, uma vez que o setor demanda máquinas e equipamentos e encontrará condições mais apertadas de acesso ao crédito para obtê-los.

“Mesmo assim, eu ainda não vejo hoje uma contração [da construção em 2025]”, diz Matos.

A economista espera que o crescimento da construção passe de 5,1% neste ano para 1,3% no ano que vem.

Ela argumenta que, de modo geral, “o perfil da atividade econômica que se espera para o ano que vem é um pouco diferente do que vem sendo visto em 2024”.

“Em parte, porque haverá mais demanda externa do que interna. E, por conta disso, a cara de 2025 deve lembrar muito a de 2023”, diz Matos.

Em 2025, afirma a economista, a agropecuária deve voltar a ter protagonismo, puxada pelo crescimento das exportações.

Será um ano em que a contribuição das atividades mais exógenas para o PIB deve aumentar a sua participação, como ocorreu no ano passado.

No caso da indústria extrativa, por exemplo, o crescimento deve passar de 1% neste ano para 5,8% em 2025, segundo a última edição do Boletim Macro, publicada em 21 de novembro.

Para a agropecuária, o FGV Ibre espera expansão de 4,7% em 2025, após queda prevista de 2,1% neste ano. A Tendências, por sua vez, prevê alta de 1,3% para o setor no próximo ano.

A expectativa positiva para a agropecuária, argumenta Campos Neto, da Tendências, se deve aos sinais de uma “supersafra” de soja em 2025. “O único senão se deve a riscos climáticos. Se, por ventura, houver algum novo choque climático como tivemos em 2024, teremos dificuldades na parte de grãos”, diz.

“Para a pecuária, esperamos uma visão um pouco mais negativa para o curto prazo devido ao ciclo do setor, que está, novamente, em uma linha de redução de abates.”

A previsão é que a expansão da agropecuária deve ajudar a dar impulso importante para outros setores e seguimentos, como o de transportes, dentro de serviços, afirma Matos.

Nakahodo destaca ainda que o segmento de tecnologia da informação pode continuar expandindo por conta da transformação digital e pela necessidade de inovação nas empresas.

“O aumento do uso de soluções em nuvem, inteligência artificial e big data são fatores que devem continuar impulsionando esse setor”, diz.

A projeção para serviços em 2025 é de alta de 1,8%, segundo o FGV Ibre. A Tendência, por sua vez, prevê expansão de 1,7%.

Olhando para 2025 e os próximos anos, afirma Campos Neto, há desafios importantes adiante.

“Um deles é a própria questão da alta dos juros. Isso é um fator que vai pesar em alguns segmentos de atividade que são mais sensíveis a isso, desde o consumo de bens duráveis, ao próprio setor de construção e parte da indústria, que deve ser afetada tanto por isso quanto por um ambiente internacional mais desafiador”, observa.

“Há esse temor em relação aos EUA, que são um mercado importante para bens industriais do Brasil, de se tornar mais protecionista nesse novo governo Trump. A desaceleração continuada prevista para a China também é um fator de risco. Por isso esperamos uma desaceleração [da atividade aqui] respondendo a esses fatores, de juros mais altos, um mundo crescendo menos, riscos vindos de fora, além de uma política fiscal possivelmente menos expansionista.”

— Foto: Pexels

[Fonte Original]

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