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sábado, janeiro 4, 2025

Dívida bruta deve recuar em dezembro, como resultado da venda de dólares pelo BC

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A forte venda de dólares pelo Banco Central (BC) nas últimas semanas deve levar a uma queda da relação entre a dívida bruta pública e o Produto Interno Bruto (PIB) em dezembro. Com a redução do volume de reservas internacionais, de mais de US$ 30 bilhões no acumulado do mês, há uma diminuição das operações compromissadas, um instrumento pelo qual o BC controla o volume de dinheiro em circulação na economia. Esse fenômeno reduz o endividamento bruto do governo. A dinâmica das contas públicas, porém, em nada melhora com isso – as estimativas continuam a apontar uma alta expressiva da dívida pública ao longo dos próximos anos, devido em especial ao forte aumento das despesas obrigatórias e também ao nível dos juros.

Nas contas do economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero, a dívida bruta deverá encerrar 2024 em 76,1% do PIB, abaixo dos 77,7% do PIB registrados em novembro. “Esse resultado, abaixo de projeções do mercado, de 78,1% do PIB, e inclusive do próprio governo, de 77,7% do PIB, reflete principalmente a forte queda em reservas internacionais no mês”, diz ele. No acumulado de dezembro, até o dia 27, elas recuaram US$ 30,7 bilhões, para um total de US$ 332,3 bilhões.

Num mês marcado por saídas expressivas de dólares, em especial pelo envio de remessas de lucros e dividendos por empresas multinacionais, o BC fez vendas significativas da moeda americana. No mercado à vista, foram US$ 21,574 bilhões. Além disso, o BC fez mais US$ 11 bilhões em leilões de linha, em que oferta a moeda com o compromisso de recomprá-la. Quando vende dólares das reservas, há um resgate das operações compromissadas, que entram no cômputo da dívida bruta. Apesar disso, o dólar continua acima de R$ 6, principalmente devido às incertezas fiscais, mas também por causa do cenário externo mais adverso para países emergentes, em que os juros americanos deverão cair menos do que se esperava. Na média de dezembro, o dólar ficou R$ 6,0968. No ano, subiu 27%, fechando 2024 cotado a R$ 6,1797.

Usualmente, quando há excesso de dinheiro em circulação, o BC vende títulos públicos com o compromisso de readquiri-los mais à frente; se há falta de recursos, ele compra títulos públicos e os revende mais à frente. Assim funcionam as operações compromissadas. Como vendeu um volume elevado de reservas em dezembro, há um resgate de uma parcela grande das compromissadas. O resultado deverá ser a queda da dívida bruta como proporção do PIB.

O indicador de outubro foi revisado de 78,6% do PIB para 77,8% do PIB, porque a divulgação do resultado das contas nacionais do terceiro trimestre elevou toda a série do PIB em valores nominais desde 2023, como destaca Montero. Com isso, a dívida passou a ser comparada a um PIB de valor maior. A de novembro ficou em 77,7% do PIB. Para dezembro, Montero estima a queda expressiva do indicador, para 76,1% do PIB, por causa do efeito da venda das reservas.

A dívida bruta é um dos principais indicadores de solvência de um país acompanhados pelos especialistas em contas públicas. O endividamento brasileiro é alto, mas o que mais preocupa é a sua trajetória. Ele terminou 2022 em 71,7% do PIB, atingiu 77,7% do PIB em novembro deste ano e, pelas estimativas mais recentes dos analistas, pode alcançar 84% a 86% do PIB em 2026. Com a revisão do PIB nominal e esse efeito da venda de reservas, é possível que os economistas reduzam um pouco as projeções para os próximos dois anos. Elas foram feitas antes da divulgação das contas nacionais com um PIB nominal maior e também antes da queda expressiva das reservas.

No entanto, a dívida deverá continuar em alta. Sem uma redução do ritmo de crescimento das despesas obrigatórias, não será possível gerar resultados primários (que excluem gastos financeiros) suficientes para estabilizar a dívida como proporção do PIB. E, sem um ajuste pelo lado das despesas, também não será possível reduzir estruturalmente os juros, o que mantém nas alturas as despesas financeiras do setor público. Além disso, vender dólares obviamente não é uma estratégia para reduzir a dívida – é um efeito colateral da queda do volume de reservas. O BC atua no câmbio em momentos em que percebe disfuncionalidade no mercado; em dezembro, houve saídas atipicamente altas de dólares do país.

Os economistas da Warren Investimentos notam que, no ano, a dívida bruta, ao atingir 77,7% do PIB em novembro, “subiu significativos 3,9 pontos percentuais do PIB, a principal preocupação na área fiscal do país”. A maior contribuição para a alta do indicador veio dos juros, enquanto a variação nominal do PIB jogou na outra direção. Para dezembro, eles destacam que os juros vão continuar a pressionar para cima a dívida pública. No entanto, o endividamento bruto terá como atenuante justamente “o resgate de compromissadas propiciado pela venda de dólares pelo Banco Central”, afirmam eles. Isso deve a levar à queda do indicador, como projetado por Montero.

— Foto: Shutterstock

[Fonte Original]

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