O forte crescimento do mercado de crédito privado nos últimos dois anos tornou necessário atualizar a regulamentação para adequar o setor ao novo momento, defenderam gestores nesta quarta-feira em congresso pelo 48º aniversário da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no Rio.
Vivian Lee, sócia, co-CIO e gestora da estratégia de crédito da Ibiúna Investimentos, que participou de painel no evento, reforçou a necessidade de um arcabouço regulatório eficiente. “O crescimento traz dores para manter a transparência e a governança, que passam pela questão regulatória. ”
Ela lembrou que o aumento nas emissões de títulos de dívida levou a uma desintermediação do setor. “Fundos que alocavam em crédito compravam letras financeiras para capitalizar os bancos que, por sua vez, emprestavam às empresas. Hoje, quando olhamos apenas os fundos que compram crédito de forma relevante, vemos R$ 2 trilhões. Só neste ano foram mais de R$ 300 bilhões.”
Lee explicou que o mercado secundário de títulos de dívida era muito pequeno há 15 anos, quando a gestora começou a atuar no segmento, enquanto hoje é importante na busca de retorno mais alto pelos gestores. “Há dois anos, o volume mensal do secundário era de R$ 30 bilhões e, hoje, chega a R$ 60 bilhões”.
Segundo Artur Nehmi, da Sparta, que participou do mesmo painel, menos da metade dos detentores de títulos é conhecida. Ele afirma que só a parte que está com os fundos é identificada, o que é um problema. Ele cita o caso de uma grande varejista que entrou em recuperação judicial e somente dois bancos detinham 54% dos papéis. Os dois decidiram sozinhos a repactuação da dívida, que, no entanto, também compunha a carteira de fundos e pessoas físicas. “Falta isonomia e uma solução seria determinar a abertura do nome dos detentores a partir de determinada fatia da emissão.
Adriano Casarotto, da Western Asset, ressalta que a democratização do acesso gerou a dificuldade de reunir detentores dos títulos para deliberar em assembleia. “O mercado cresceu e parece que a roupa ficou apertada. Traz desenvolvimento porque dá acesso a custo de financiamento menor, tira dos bancos a dominância, mas traz insegurança para o investidor.”
Já Fayga Czerniakowski Delbem, superintendente de crédito privado da Itaú Asset, que intermediou o painel, fez questão de frisar que o crescimento do crédito neste ano mostra um ponto de maturidade importante do mercado, com liquidez no secundário, diferentes emissores, gestão ativa dos portfólios e players diversos. “É um movimento forte e consistente, mas temos desafios para continuar evoluindo.”
Na abertura do seminário, o presidente da Associação de Investidores do Mercado de Capitais (Amec), Fábio Coelho, afirmou que a entidade está preparando um conjunto de propostas de mudança na legislação para aperfeiçoar o mercado de crédito privado, que, segundo ele, ainda não alcançou o mesmo nível de transparência e desenvolvimento do mercado de ações. “O crédito privado foi o motor do mercado de capitais brasileiro.”
Carlos André, presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), apresentou dados do segmento, que, de janeiro a outubro deste ano, registrou emissões de R$ 633,6 bilhões, sendo R$ 565,6 bilhões de renda fixa, R$ 25 bilhões de renda variável e R$ 43 bilhões de híbridos. “O mercado de crédito privado vem se consolidando. Só de debêntures incentivadas de janeiro a outubro foram R$ 111,85 bilhões”, destacou.