2024 está prestes a terminar muito diferente do que o mercado financeiro projetava. Ao invés de uma queda da Selic para um patamar abaixo da casa dos 10%, como muitos economistas projetavam, a taxa básica brasileira terminará o ano a 12,25% ao ano.
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Nesta quarta-feira (11), o Comitê de Política Monetária do Banco Central, na última reunião presidida por Roberto Campos Neto antes da posse de Gabriel Galípolo, decidiu elevar a Selic em 1 ponto percentual — em linha com a expectativa da maior parte do mercado. No comunicado, o Copom aponta que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante.
Na decisão unânime, os diretores do Banco Central apontaram que o cenário está “menos incerto e mais adverso” do que na reunião anterior — quando a alta da Selic havia sido de 0,50 p.p. Agora, há uma sinalização de, pelo menos, mais duas altas de 1 p.p contratadas para o próximo ano, o que deve levar a taxa básica de juros para 14,25% — um número que boa parte dos bancos de investimentos e casas de análise já trabalhavam.
No comunicado, o Copom ressaltou a reação do mercado aos mais recentes desdobramentos com relação à política fiscal do governo. O pacote de gastos, anunciado há duas semanas, foi o principal responsável pela forte desvalorização da moeda local, queda da bolsa e pressão na curva de juros.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa”, apontaram os diretores da autarquia.
Além disso, o BC também deixou claro que há outros fatores colaborando para a desancoragem das expectativas de inflação para além da depreciação do câmbio: resiliência na inflação de serviços, conjunção de políticas econômicas externa e interna com impacto inflacionário, desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, além dos impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
“A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação […], das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, concluiu o BC.
Selic: Suficiente para o mercado?
Uma Selic terminal na casa dos 14% já era esperada por boa parte do mercado, mas, ainda assim, o tom do comunicado é lido como duro pelo mercado.
Para Daniel Cunha, estrategista-chefe do BCG Liquidez, o BC mostrou “humildade” ao reconhecer que estava atrasado e ficando atrás da curva de juros. “E mais importante, mostrou capacidade de reação e adaptação, recuperando as rédeas da condução da política monetária ao subir 1 p.p e retomar o ‘forward guidance’ com mais altas”, aponta. A expectativa é que o dólar repercuta a decisão em queda.
Já para Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, o ponto mais surpreendente do documento é a revisão de projeção para a inflação: de 3,6% para 4%.
“Nós estamos falando em uma taxa de juros terminal de 14% para um IPCA de 4%, juros reais na faixa de 10%. A condução das expectativas fiscais pelo governo desancorou completamente a política monetária. Esse esforço chega a ser não só prejudicial para a economia como um todo, mas também é contraproducente para aquilo que o governo federal quer, que são juros mais baixos e combate à inflação”, explica o economista.
Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, aponta que o comunicado o surpreendeu positivamente. “Precisava ser duro e realmente foi. Mesmo que juros elevados sejam ruins para a bolsa, o comunicado vai passar um recado importante de que o Banco Central vai buscar convergir a inflação para o centro da meta. Verão isso com bons olhos”.