A inteligência artificial (IA) é mais que uma revolução industrial e tecnológica. Tem o potencial de provocar uma profunda mudança de paradigma para a sociedade, transformando nossas relações com o conhecimento, o trabalho, a informação, a cultura e até mesmo a linguagem. Trata-se de uma questão política e de cidadania. Por isso a França decidiu intensificar o diálogo internacional sobre o tema e sediar, nos dias 10 e 11 de fevereiro de 2025, a Cúpula de Ação para IA, em Paris.
A questão é no fundo simples: como fazer com que a revolução impulsionada pela IA seja bem-sucedida? O desafio crucial é permitir que ela cumpra sua promessa inicial de progresso e emancipação graças à criação de um marco regulatório comum, ético e responsável, que permita conter os riscos inerentes ao desenvolvimento tecnológico.
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A cúpula tem como foco três objetivos:
1) Uma IA acessível a todos para que cada cidadão possa ser beneficiado por essa tecnologia e desenvolver novas ideias para maximizar o potencial dela. No intuito de reduzir a desigualdade digital e conter a concentração excessiva de mercado, lançaremos uma ampla iniciativa sobre IA para o interesse público, buscando incentivar o compartilhamento de potência de cálculo, de dados estruturados e de ferramentas abertas, bem como o desenvolvimento de talentos do futuro.
2) Uma IA sustentável para que a transição tecnológica não prejudique a transição ambiental. Apesar de seu grande potencial para a proteção do planeta, a IA está atualmente numa trajetória insustentável, com projeções de demanda energética, já em 2026, dez vezes maior que em 2023. Em resposta, uma coalizão internacional será lançada, com o objetivo de aprofundar a pesquisa sobre o custo ambiental da IA, avaliar os modelos sob o prisma da sustentabilidade, definir novos padrões e aumentar os investimentos verdes nas cadeias de valor.
3) Uma IA inclusiva. Devemos construir coletivamente um sistema de governança eficaz e inclusivo. A governança não se limita a questões éticas e de segurança. Também inclui todos os temas ligados à IA, como liberdades fundamentais, propriedade intelectual, concentração de mercado e acesso a dados. Precisamos da participação de todos, desde governos e empresas até a sociedade civil, para definirmos juntos uma arquitetura internacional comum.
A França não caminha rumo à Cúpula sozinha. Mais de 700 parceiros, públicos e privados, pesquisadores e ONGs de todos os continentes têm contribuído para sua preparação. Nenhum tema será negligenciado: do futuro do trabalho à IA frugal, da segurança dos modelos tecnológicos aos ecossistemas de inovação, da necessidade de diversidade linguística e cultural à proteção de dados pessoais.
O Brasil tem desempenhado papel crucial, como país do Sul, destacando a importância de uma IA plural e aberta e da proteção dos valores democráticos. É uma grande satisfação poder contar com o apoio do Brasil na preparação da Cúpula de 2025, dando seguimento aos resultados do G20.
*Emmanuel Lenain é embaixador da França no Brasil