Se olharmos a polarização atual, vamos ver pessoas muito diferentes apoiando o mesmo candidato. Pessoas que, do ponto de vista da pauta positiva, não estariam no mesmo grupo, mas que estão se unindo pelo elemento negativo
Paulo Boggio
Professor do Mackenzie e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Neurociência Social e Afetiva, Boggio conta que essa inversão de tendência é captada por pesquisas norte-americanas.
A gente entra em grupos ou está em grupos com a tentativa de valorizar positivamente as próprias características. Obviamente precisaremos estar em grupos em que valorizamos as características deles
Paulo Boggio
Há dois termos usados no mundo acadêmico para definir essas relações, explica o cientista. Os seres humanos costumam se agregar em torno daquilo que amam —é o chamado “ingroup love” (“amor pelo que pertence ao grupo”)—, enquanto dedicamos ódio ao que é de fora do grupo —é o “outgroup hate” (“ódio ao que vem de fora do grupo”).
“Se eu for pensar em política, eu posso apoiar um candidato porque ouço e vejo nele pautas que considero importantes, que são positivas. Isso seria afiliação a um grupo por um ‘ingroup love’. Mas eu posso não votar em um candidato porque eu sou contra tudo o que ele propõe, porque odeio o que ele fala. Essa é uma identificação mais forte pelo ‘outgroup hate'”
Paulo Boggio
Em termos técnicos, o que está ocorrendo é que mais pessoas estão se unindo em torno do “outgroup hate” do que pelo “ingroup love”. E a guinada dessa tendência é uma possível explicação para a crescente polarização entre diferentes grupos, diz Boggio.