Num ponto bem no fundo da Baía de Guanabara, na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapi-Mirim, árvores do manguezal, sensores eletrônicos e drones vão se conectar. O projeto Guanabara Verde, uma parceria entre o Instituto Mar Urbano, a Cooperativa Manguezal Fluminense e a ONG Guardiões do Mar, com patrocínio da empresa OceanPact, está desenvolvendo sensores para monitorar os fluxos de carbono nos manguezais, fortalecendo a conservação desses ecossistemas essenciais e contribuindo para o enfrentamento das mudanças climáticas.
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O projeto atua nos 12,5 hectares da APA de Guapi-Mirim, que abrange os municípios de São Gonçalo, Itaboraí, Guapimirim e Magé, a maior área de manguezal preservado do Estado do Rio de Janeiro.
De acordo com Fernando Borensztein, diretor de Novos Negócios e Sustentabilidade da OceanPact, os sensores fazem parte de um projeto amplo de pesquisa para restauração de manguezais com baixo custo e escalável, por meio do desenvolvimento de aceleradores biológicos de crescimento e da automação das operações de plantio com robôs e drones.
— Além dos robôs e drones, há um componente de sensoriamento remoto, para quantificação dos fluxos de carbono através dos processos de restauração. Ou seja, são sensores de parâmetros físicos, químicos e biológicos, que são instalados no sistema solo-ar-água e gerarão dados para que possamos fazer correlações com os fluxos de carbono, tendo um monitoramento real — explica Borensztein.
Ele diz, ainda, que a ideia é desenvolver um protocolo de restauração de manguezais que envolva tecnologia de ponta e saberes locais:
— Vamos testar diferentes métodos e identificar os mais adequados a cada região. É um projeto de pesquisa, desenvolvimento e inovação que estamos criando. Ao utilizarmos drones, facilitamos o monitoramento em larga escala, que seria manual.
O Guanabara Verde, criado em 2021, já tem 30,5 mil árvores de mangue replantadas na APA de Guapi-Mirim. Ricardo Gomes, diretor do Instituto Mar Urbano, explica a importância dos apoios para esse tipo de trabalho ambiental.
— O ato de plantar não é só uma ação de recuperação ambiental, é um ato de luta contra as mudanças climáticas, em um momento em que a gente se vê tão vulnerável — afirma ele.
De acordo com Gomes, apostar nos manguezais é o futuro, porque a economia mundial já está “com o olho no oceano”:
— A economia já está com o olho na geração de crédito de carbono azul. Poder ter essas ferramentas, saber o quanto esse manguezal está fixando de carbono, e isso virar uma metodologia replicável de fácil acesso, pode impulsionar outras ações de replantio, impulsionar a geração de crédito de carbono azul no planeta, não só no Rio de Janeiro.
Segundo o Mar Urbano, entre 1990 e 2020 estima-se que cerca de 1,04 milhão de hectares de manguezal foi perdido em todo o mundo. Em 2022, o instituto fez um levantamento que mostrou que, com apenas 1% do lucro de um ano das dez maiores empresas do mundo, é possível reverter quase 20 anos de perda de manguezais no planeta.
* Estagiária sob supervisão de Giampaolo Morgado Braga