Depois de um período de empolgação e deslumbramento, o ano de 2024 foi marcado por evoluções em larga escala no campo da inteligência artificial (IA). A área foi uma das mais quentes na indústria da tecnologia, com uma série de novidades de gigantes ou startups.
Os últimos meses no campo foram recheados de anúncios e evoluções de chatbots ou modelos de linguagem — a IA até rendeu um Nobel de Física e fez uma empresa virar a mais valiosa do mundo. Ao mesmo tempo, porém, surgiram novas controvérsias envolvendo práticas e atores no setor.
Como parte das retrospectivas de fim de ano, o TecMundo reuniu os principais acontecimentos do campo da IA em 2024.
A OpenAI dispara no mercado
A OpenAI, dona do ChatGPT, foi uma das que mais apresentou novidades ao longo de 2024. Nos primeiros meses do ano, ela revelou a GPT Store para comercialização de chatbots feitos por outras pessoas, além da ferramenta Sora, capaz de criar vídeos de poucos segundos com descrições em texto e disponibilizada só agora em dezembro.
O ChatGPT ainda ganhou novos recursos no primeiro semestre, com destaque para os modelos de linguagem 4-o e o 4-o mini e o mecanismo de busca SearchGPT, que depois foi integrado na própria plataforma.
Outras novidades da companhia incluem o ChatGPT Edu, um plano para uso por estudantes e instituições, e a modalidade de assinatura ChatGPT Pro, que custa mais de R$ 1 mil por mês.
Setembro foi marcado pela chegada de versões ainda mais evoluídas, os modelos o1 e o1-mini, que podem resolver questões complexas com raciocínio similar ao humano. Já a OpenAI começou a mudar a própria estrutura, pronta para virar uma empresa com fins lucrativos após receber um novo e grande investimento de US$ 6,6 bilhões.
Nascimento e evolução do Google Gemini
O ano da Google em IA começou logo em janeiro, com a empresa sendo uma parceira próxima da Samsung no Galaxy AI, o pacote de recursos que estreou na linha Galaxy S24. O destaque foi para o Circule para Pesquisar, função bastante usada nos dispositivos.
No mês seguinte, uma mudança radical de nome: o chatbot Bard é rebatizado para Gemini, que é também o modelo de linguagem da companhia e ganhou a versão 1.5 nesse período. A partir deste ponto, o Gemini começou a chegar nativamente em vários serviços da empresa, como Google Docs, Gmail e Google Maps.
A empresa lançou ainda alguns desdobramentos no setor, como o bloco de notas inteligente NotebookLM em junho de 2024, o recurso de conversa por voz Gemini Live em setembro, o app para iPhone em novembro e o modelo de linguagem evoluído Gemini 2.0 em dezembro.
Curiosamente, o CEO da empresa disse em entrevista que acredita que a melhor fase do mercado de IA já passou e o ano que vem será de menor empolgação.
Microsoft e o Copilot em tudo
A Microsoft apostou forte na integração de hardware e software para otimizar a IA. Isso foi refletido no lançamento em maio da família PC Copilot+, computadores já prontos em parceria da marca com fabricantes parceiras.
A aprovação não foi uma unanimidade, em especial por causa de um novo recurso: o Recall, que “vigia” as suas atividades e tira capturas de tela com frequência. Ela foi adiada após críticas da comunidade, mas acabou relançada com mudanças no final de 2024.
Já o Copilot em si segue evoluindo. Em março, ele liberou o GPT-4 Turbo gratuitamente para todos os usuários.
Apple, Meta e Grok: estreias de impacto
Outros dois nomes se destacaram ao longo do ano com chatbots e plataformas. Um deles é o Apple Intelligence, conjunto de ferramentas e funções para dispositivos da Maçã. Anunciado em junho, ele só estreou em outubro — e não de forma integral, já que algumas funções ficaram para trás, como a nova Siri e o suporte para o português.
Já o Grok, o chatbot da x.AI, startup de Elon Musk, se consolidou após ser liberado para assinantes do X Premium no fim de 2023. Ele gerou críticas por, em agosto, passar a criar imagens sem muitas preocupações com cenas de violência e até em retratar marcas ou pessoas famosas. Com limitações, ele foi liberado para todos os usuários em dezembro.
Por fim, a Meta AI foi lançada em outubro no Brasil, meses depois da estreia global e com vários recursos do modelo Llama 3 liberados — inclusive no popular mensageiro WhatsApp, onde ela virou piada por cometer alguns erros. O motivo foi atraso foi uma questão polêmica, já que a companhia coleta dados de usuários para alimentar a plataforma.
Outros recursos, chatbots e modelos de linguagem incluem também os seguintes lançamentos em 2024:
- O avançado modelo Claude 3, da Anthropic, em março, e a chegada dele no Brasil, em agosto;
- Uma variante mais avançada do Firefly, a IA de criação e edição de imagens da Adobe, em maio;
- A IA generativa de vídeos da ByteDance, dona da rede social TikTok, no mês de agosto
- A função de chamadas telefônicas do Duolingo em setembro;
- O aprimoramento da Bixby, a assistente pessoal da Samsung, em novembro.
Processos, polêmicas e controvérsias
Ao mesmo tempo em que evoluiu bastante, a IA também foi palco de uma série de polêmicas. Seja pela inundação de conteúdos de baixa qualidade nas redes sociais ou por ações controversas de empresas, o setor passou o ano sofrendo críticas.
Um dos problemas começo já nos primeiros meses do ano, quando dois produtos com IA no funcionamento deram errado: o ambicioso AI Pin, que projeta conteúdos na mão do usuário, e o Rabbit R1, uma espécie de chatbot de bolso. A dupla, ao menos, também serviu para segurar a empolgação no lançamento de outros hardwares na área.
Em uma tendência que se repetiu ao longo do ano, plataformas foram acusadas de violação de direitos autorais ao alimentar modelos de linguagem com obras sem autorização — incluindo livros e até vídeos do YouTube. Alguns dos processos abertos em 2024 contra OpenAI, Google e outras marcas devem ter o veredito em breve.
Falando em tribunais, outubro foi o mês em que a Character.AI foi processada por uma mãe que perdeu o filho em um incidente trágico nos EUA. O adolescente teria ficado “obcecado” com um chatbot, que não soube lidar com situações graves de saúde mental.
Outro ponto paralelo envolve mudanças nas políticas de redes como o LinkedIn, o X e o Instagram, que passaram a usar dados e conteúdos postados por usuários para treinar IAs generativas próprias.
A atriz Scarlett Johansson se envolveu em uma polêmica parecida. Ela não autorizou o uso da sua voz em um chatbot da OpenAI, mas a empresa usou áudios muito parecidos no anúncio de um dos seus modelos de linguagem. Em outra briga, Elon Musk acusa a OpenAI tanto por ter sido “enganado” pelos colegas na cofundação da companhia quanto de práticas anticompetitivas de mercado.
Foi neste ano também que começaram preocupações energéticas no setor. O uso da IA gera gastos imensos de água e eletricidade, o que pode impactar em questões climáticas. Até por isso, empresas como Microsoft, Meta, Amazon e Google avançaram na utilização de energia nuclear como forma de alimentar data centers.
As próximas tendências de IA
Alguns acontecimentos de 2024 ajudam a entender um pouco do que esperar do tema no ano que vem. Entre as ferramentas, uma das tendências deve ser a popularização de IAs generativas de vídeo. Nomes como Sora, Veo e Nova devem ser mais comuns nos próximos meses.
Já plataformas multimodais que trabalham também com áudio podem ficar melhores e mais acessíveis, caso de uma nova IA generativa da Nvidia. Outra tecnologia anunciada que ainda será oficializada é o de serviços que fazem ações no seu próprio computador e até no navegador, como uma plataforma em desenvolvimento pela Google.
Por fim, dezembro marcou ainda o avanço do projeto de lei de regulamentação da IA no Brasil. O caminho ainda será longo e a sanção presidencial fica para 2025, mas o tema com certeza fará parte da política nacional em 2025.