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sábado, janeiro 11, 2025

BC cita câmbio e clima entre fatores para IPCA acima da meta

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O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, publicou hoje uma carta aberta encaminhada ao ministro da Fazenda e presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN), Fernando Haddad, na qual explica os fatores que levaram a inflação a terminar o ano de 2024 em 4,83%, acima do teto da meta. Ele afirma que a inflação estourou o teto da meta devido aos seguintes fatores: ritmo forte de crescimento da economia; depreciação cambial e questões climáticas, em contexto de expectativas de inflação desancoradas e inércia da inflação do ano anterior.

Já no sentido contrário, colaborou para reduzir a inflação observada a queda do preço internacional do petróleo no segundo semestre de 2024.

O BC ressaltou que a alta da Selic esperada para quatro trimestres à frente, extraída do Focus, a partir do segundo trimestre do ano passado “contribuiu para evitar um aumento mais acentuado” das suas próprias projeções de inflação ao longo de 2024.

A meta de inflação era de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.) para mais ou para menos. A alta de 4,83% do IPCA em 2024 também ficou acima da taxa de 2023 (4,62%), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados hoje.

Ainda na carta, o presidente do BC destaca que a pressão inflacionária envolveu os diferentes segmentos que compõem o IPCA, mas com “pressão mais localizada em serviços e administrados”. No caso de serviços, a inflação foi “particularmente pressionada por fatores inerciais e atividade econômica”. Já nos administrados, a maior contribuição nesse segmento “adveio da elevação dos preços de gasolina (9,70%)”, seguido pelas “taxas de inflação de planos de saúde (7,88%) e de produtos farmacêuticos (5,96%)”.

Segundo o BC, a depreciação cambial contribuiu em 2024 com 1,21 ponto percentual do impacto de 0,72 ponto que a inflação importada teve para que o IPCA do ano passado superasse a meta.

Já as commodities, segundo medidas pelo Índice de Commodities – Brasil (IC-Br), tiveram impacto de 0,1 ponto, enquanto a queda do preço internacional do petróleo atuou na direção contrária, com efeito baixista de 0,59 ponto. E a inércia de 2023 contribuiu com 0,52 ponto para o estouro da meta.

Por fim, o hiato do produto contribuiu com 0,49 ponto do IPCA acima da meta, enquanto a diferença entre as expectativas de inflação dos agentes, medidas pela pesquisa Focus, e a meta para a inflação teve um peso de 0,3 ponto para estouro da meta.

Galípolo afirmou que a percepção dos agentes econômicos sobre a política fiscal afetou, de forma relevante, o prêmio de risco, as expectativas de inflação e taxa de câmbio em 2024, contribuindo para o estouro da meta de inflação.

“No âmbito doméstico, a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio”, diz o presidente do BC.

“Os termos de troca não desempenharam papel relevante, pois, depois de terem piorado por alguns meses em 2024, logo se recuperaram, situando-se no segundo semestre do ano em níveis semelhantes aos do mesmo período de 2023”, completa Galípolo.

Ele também pontuou que o grau de utilização dos fatores de produção foi crescente em 2024, com destaque para a mínima histórica alcançada pela taxa de desemprego. Também foi observada uma maior utilização do fator capital, com o índice de Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) com ajuste sazonal, subindo de 81,1% em dezembro de 2023 para pico de 83,4% em julho e setembro, maior nível desde maio de 2011.

“Apesar da redução nos meses seguintes, chegando a 81,1% em dezembro, o Nuci ainda está em patamar historicamente elevado”, destacou o presidente do BC, ao mencionar fatores que explicam a inflação acima do teto da meta.

Galípolo ainda pontuou que uma parcela dos efeitos diretos e indiretos da depreciação cambial observada em 2024 ainda deve se efetivar em 2025. Ele ainda escreve que, o fato de o real ter sido a moeda de maior depreciação em 2024, considerando seus pares, sugere que fatores domésticos e específicos do Brasil tiveram papel expressivo nesse movimento cambial.

“No âmbito doméstico, a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio”, escreveu Galípolo.

No âmbito externo, ele aponta que “a queda da Fed Funds Rate em ritmo mais lento que o esperado pelos mercados e as expectativas de alteração na política econômica norte-americana em decorrência do resultado das eleições naquele país” contribuíram para a valorização do dólar frente ao real.

“Assim, parcela dos efeitos diretos e indiretos do repasse cambial ainda deve se efetivar em 2025”, conclui o presidente do BC.

De acordo com as regras do regime de metas de inflação, quando a trajetória de preços do ano anterior fica acima ou abaixo desse intervalo, o presidente da autoridade monetária precisa enviar uma carta para o ministro da Fazenda, que também preside o CMN, justificando esse estouro.

A carta de Galípolo divulgada nesta sexta-feira é a oitava escrita por um presidente de Banco Central, desde a instituição do regime de metas de inflação, em 1999. A mais recente foi publicada em janeiro de 2023, por Roberto Campos Neto, quando a inflação terminou o ano de 2022 em 5,79%, acima do teto de 5%.

O presidente interino do Banco Central, Gabriel Galípolo — Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

[Fonte Original]

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