Apesar de os índices de inflação global estarem convergindo para a meta dos Bancos Centrais nos últimos meses, o cenário para os próximos anos é preocupante devido à possibilidade de novas tensões comerciais e medidas protecionistas que podem ter impacto global, disse, nesta sexta-feira (17), o diretor do Departamento de Pesquisas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas.
“Expectativas de inflação no curto prazo estão acima das metas dos Bancos Centrais, que precisarão agir com força em caso de descontrole dos preços”, disse o membro do FMI, ao apresentar a atualização do relatório Panorama Econômico Mundial.
O fundo prevê que o crescimento da economia global deve ser de 3,2%, em 2024, e de 3,3%, em 2025, abaixo da média do período pré-pandemia, de 3,7%. A previsão de baixo crescimento é justificada pela possibilidade da intensificação de políticas protecionistas, nova onda de tarifas e redução dos investimentos e dos fluxos comerciais que podem provocar novos impactos nas cadeias de fornecimento globais.
Gourinchas disse que as políticas prometidas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que toma posse na próxima segunda-feira (20), podem “aumentar a inflação no curto prazo”, e que os cortes de impostos propostos por ele poderiam sobreaquecer a economia dos EUA e a inflação.
No sentido contrário, o aumento de tarifas prometido pelo republicano sobre produtos estrangeiros poderia, pelo menos temporariamente, elevar os preços e prejudicar os países exportadores ao redor do mundo, devido ao possível fortalecimento do dólar com essas ações.
“O dólar forte significa preços altos de bens e possível aumento de pressões inflacionárias. Além de impactos externos, o aumento de pressão de preços nos EUA pode afetar a redução dos juros pelo Fed e pressionar o mercado global”, disse Gourinchas.
O diretor do FMI também falou sobre a China e disse ser necessário que o país foque seus esforços em estimular a demanda interna, uma vez que o mercado internacional – que tem na China um de seus principais atores – pode sofrer desaceleração com possibilidade de novas tensões comerciais.
“Projetamos crescimento maior da China em 2025 devido a medidas fiscais no último trimestre que compensaram as incertezas comerciais que afetaram a atividade. No cenário geral, a economia da China precisa focar em incentivar o consumo interno e isso ainda não aconteceu”, observou Pierre-Olivier Gourinchas.
“Números de 2024 mostram que a economia chinesa se beneficiou do setor externo e isso é algo que será difícil manter no futuro. A economia chinesa é grande e não pode depender do resto do mundo. Essa mudança é algo que defendemos faz tempo e imagino que foi incorporado pelo governo chinês”, completou.
A China anunciou, nesta sexta-feiar, que atingiu a meta de crescimento para 2024 e teve alta de 5%. Em 2025, o FMI espera um crescimento de 4,6% da economia chinesa.
A Argentina também foi destaque na coletiva, com Gourinchas afirmando que a economia do país está se “recuperando de forma bastante robusta”. Segundo ele, o país fez progressos “impressionantes” na redução da inflação.
“A economia argentina iniciou uma retomada no terceiro trimestre de 2024, que deve continuar em 2025, alimentada por aumento real nos salários e na disponibilidade de créditos, que ajudarão a estabilizar o crescimento argentino”, disse o diretor do FMI.
O FMI projetou um crescimento de 5% para a Argentina em 2025 e 2026, após uma contração de 2,8% em 2024, inalterada em relação à previsão de outubro.