O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, projeta que a inflação ficará acima do teto da meta até o terceiro trimestre de 2025, devendo, a partir de então, entrar em queda, mas ainda se situando acima do centro da meta.
A avaliação consta na carta aberta encaminhada hoje ao ministro da Fazenda e presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN), Fernando Haddad, na qual ele explica os fatores que levaram a inflação a terminar o ano de 2024 em 4,83%, acima do teto da meta.
A projeção também já havia sido apresentada no cenário de referência do Relatório de Inflação (RI) de dezembro. Na carta de hoje, o BC também reforçou as projeções de inflação apresentadas no RI: 4,5% para 2025, 3,6% para 2026 e 3,2% até o segundo trimestre de 2027.
Contudo, Galípolo pondera que as expectativas de inflação da pesquisa Focus aumentaram de forma mais forte nos últimos meses, com a mediana da coleta feita no 3 de janeiro deste ano ficando em 5,0% para 2025, 4,0% para 2026 e 3,9% para 2027.
A meta de inflação a partir de 2025 virou contínua, mas foi mantida em 3% ao ano – o chamado centro, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, ou seja, podendo oscilar entre 1,50% (piso) e 4,50% (teto).
Na carta, o BC reiterou que a “magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”. Também apontou que “tem tomado as devidas providências para que a inflação atinja a meta para a inflação estabelecida” de 3% para o período que se iniciou em janeiro deste ano, “dentro da sistemática de metas contínuas”.
Na reunião de dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano, e disse que “antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”.
Na carta, o BC reforça a mensagem do Copom, afirmando que o ciclo de altas da Selic “dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
Além disso, reitera que “o cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado na atividade e maior abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais contracionista”.
Taxa de juros real ex-ante
O BC ainda afirmou que, considerando a estimativa implícita baseada nos números da edição mais recente do Boletim Focus, “a taxa de juros real ex-ante alcança pico de 9,8% no segundo trimestre de 2025, e depois entra em trajetória de queda, alcançando 6,4% no final do horizonte considerado, referente ao segundo trimestre de 2027”.
A taxa ex-ante em questão é a “mediana das expectativas para a taxa Selic acumulada quatro trimestres à frente, descontada das expectativas de inflação, ambas extraídas da pesquisa Focus e medidas em termos de médias trimestrais”.
No documento, a autoridade monetária destaca que as projeções para a taxa representam um aumento em relação ao patamar anterior, já que ela estava em 5,7% e 7,9% no primeiro e no último trimestres de 2024, respectivamente. Segundo o BC, esse aumento foi causado pela “elevação da meta para a taxa Selic e as expectativas dos agentes sobre seus movimentos futuros”.
Na reunião de dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano, e disse que “antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”.
Galípolo destacou na carta que a depreciação do real, combinada ao preço das commodities, contribuiu para o estouro da meta da inflação em 2024. Essa “significativa depreciação cambial” no ano passado decorreu “principalmente de fatores domésticos, complementada pela apreciação global do dólar norte-americano”.
Ainda pontuou que uma parcela dos efeitos diretos e indiretos da depreciação cambial observada em 2024 ainda deve se efetivar em 2025.