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sexta-feira, março 14, 2025

Trump gera incerteza para o relatório climático mais citado do mundo

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Os diplomatas que começaram a trabalhar no próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – texto crucial sobre o aquecimento global que ajuda a moldar políticas para governos e empresas – se reunirão na China esta semana, sem autoridades dos Estados Unidos.

Os cientistas americanos que participam das avaliações globais do IPCC receberam do governo Trump uma ordem para interromper seus trabalhos, segundo informou a imprensa no fim da semana passada, e a principal cientista da NASA, Kate Calvin, que ocupa um papel de liderança no novo ciclo de relatórios, não está mais participando da elaboração do relatório devido a essa ordem, informou a “CNN”, citando um porta-voz da agência espacial. A NASA, Calvin e a Casa Branca não responderam imediatamente a pedidos para comentários.

O Secretariado do IPCC não recebeu nenhum comunicado oficial sobre qualquer mudança no status oficial da seção dos EUA da Unidade de Apoio Técnico do Grupo de Trabalho III – responsável por fornecer orientação científica e técnica-, disse um porta-voz do IPCC em um e-mail. “Enquanto aguardamos mais esclarecimentos, nos abstemos de especular ou comentar esse assunto”, disse o porta-voz.

A ausência dos EUA ocorre em meio a cortes amplos no financiamento a pesquisas e um recuo da diplomacia climática no governo Trump, levantando novos questionamentos sobre o futuro do IPCC sem a liderança dos EUA. O texto elaborado pelo grupo são amplamente vistos como a fonte mais confiável de informações sobre as mudanças climáticas do mundo.

“Sem os EUA, o IPCC fracassa”, disse Benjamin Horton, diretor do Observatório Terrestre de Cingapura, que já contribuiu para relatórios de avaliações anteriores. “Os EUA colocam mais dinheiro, mais pessoal, coletam mais dados e operam mais modelos para a ciência do clima do que todo o resto do mundo junto”.

Cerca de 18% dos autores do IPCC são dos EUA, mais do que o dobro do segundo maior colaborador, o Reino Unido, segundo uma análise de 2023 da Carbon Brief.

A reunião de 24 a 28 de fevereiro em Hangzhou girará em torno dos planos e orçamentos para os componentes do sétimo relatório de avaliação do IPCC, que deve ser divulgado em 2029, além de tecnologias de remoção e captura de carbono. Esses relatórios sintetizam o consenso científico sobre a situação das mudanças climáticas, orientando decisões políticas e negociações.

Na abertura da reunião em Hangzhou nesta segunda-feira (24), Inger Andersen, diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, disse em uma mensagem de vídeo que as metas do histórico Acordo de Paris – que estabelece manter o aquecimento global bem abaixo de 2ºC – estão ameaçadas e “cada fração de grau evitada” é importante em termos dos impactos prejudiciais e mortais.

“Ciência é física, não política”, disse ela. “A ciência não pode ser politizada porque a ciência sempre continuará sendo ciência. O IPCC tem a influência para levar essa mensagem para o mundo e nos mostrar o que precisa ser feito, a começar com as decisões tomadas nesta sessão.”

O IPCC foi formado em 1988 sob os comando da UNEP e da Organização Meteorológica Mundial.

O IPCC é amplamente consultado para a formulação de políticas globais, negócios e investimentos. O mundo começou um movimento em direção à neutralidade de carbono em 2018, depois que o painel publicou um relatório especial sobre as temperaturas globais.

O principal órgão da ciência do clima já produziu seis avaliações desde sua fundação, cada uma com milhares de páginas. Com o tempo, os relatórios do IPCC se tornaram mais assertivos e detalhados sobre a contribuição da humanidade para o aquecimento do planeta. Em 1995, o IPCC reconheceu que havia evidências de “uma influência humana perceptível no clima global”. Em 2007, concluiu que “o aquecimento do sistema climático é inequívoco”. Em 2021, afirmou: “É inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, os oceanos e a terra”.

Nem todos os cientistas acham que a existência do IPCC depende dos EUA. Detlef van Vuueren, um professor da Universidade de Utrecht, pesquisador do clima na PBL Netherlands Environmental Assessment Agency e ex-colaborador do IPCC, diz que o grupo sobreviverá se os EUA decidirem deixar a organização de vez, apesar do papel monumental desempenhado pelo país ao longo de décadas.

“Obviamente é muito problemático que um país que contribuiu tanto para o IPCC, mas também para as emissões globais, decida que os fatos não são uma boa base para orientar a política climática”, afirma ele.

[Fonte Original]

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