Quando os eleitores alemães forem às urnas neste domingo, o destino de empresas como a SKW Piesteritz estará no topo de suas preocupações. A fábrica química reduziu pela metade o bônus anual de Natal para os trabalhadores no ano passado e acabou de fechar uma de suas duas plantas de amônia.
Atingidos pelos altos custos de energia e pelo que chamam de regulamentação excessiva na Alemanha, os executivos dizem que podem ser forçados a transferir a produção para o exterior. Isso colocaria em risco 10 mil empregos na pequena comunidade de Lutherstadt Wittenberg, na região leste do país, que já sofreu com os cortes da empresa.
“É uma catástrofe”, disse Torsten Zugehör, o prefeito local.
A eleição alemã tem se concentrado em parte em questões polêmicas, como imigração, e mais recentemente na ameaça à aliança atlântica apresentada pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Mas, segundo entrevistas e pesquisas, a principal preocupação da vida cotidiana dos alemães — e o fator mais decisivo na escolha dos eleitores — é a economia estagnada do país.
Executivos, trabalhadores e políticos concordam que o próximo chanceler da Alemanha deve agir rapidamente para recuperar o setor industrial do país ou correrá o risco de uma crise econômica e política prolongada.
A competitividade alemã, historicamente motivo de orgulho nacional, “nunca esteve tão ruim como hoje”, disse Petr Cingr, presidente do conselho da SKW, que fabrica produtos como fertilizantes e aditivos para motores a diesel.
A economia alemã não cresce há cinco anos. Suas indústrias outrora poderosas enfrentam o que líderes empresariais e sindicais chamam de uma crise de competitividade. Problemas estruturais, como infraestrutura pública deteriorada (de pontes e estradas a escolas), falta de redes de internet de alta velocidade e serviços públicos ainda baseados em papel, têm prejudicado o crescimento. Regulamentações, altas taxas de impostos e, principalmente, o elevado custo da energia também pesam.
Os preços da energia dispararam após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. Desde então, caíram ligeiramente, mas ainda permanecem quase 20% acima da média europeia, segundo o Eurostat. Líderes empresariais dizem que medidas de Berlim e Bruxelas para reduzir as emissões de combustíveis fósseis e combater as mudanças climáticas agravaram o problema.
O aumento da concorrência da China, que consegue produzir máquinas e outros produtos industriais a custos mais baixos que as empresas alemãs, e a ameaça iminente de tarifas dos Estados Unidos intensificaram a pressão sobre a indústria alemã.
A BASF, maior empresa química do mundo, já começou a fechar fábricas na Alemanha e a transferir a produção para a China e os EUA. A SKW teme ser a próxima.
“Se isso se tornar uma operação permanentemente deficitária, não podemos descartar a possibilidade de que parte da produção seja realocada para a França ou a Áustria”, disse Carsten Franzke, chefe de operações da empresa.
Os principais candidatos ao cargo de chanceler prometeram mudanças para impulsionar o crescimento. Olaf Scholz, o atual chanceler do Partido Social-Democrata, prometeu aumentar os gastos do governo em setores estratégicos. Cartazes pelo país o apresentam como o candidato do “Made in Germany”.
O favorito para substituir Scholz, Friedrich Merz, da União Democrata-Cristã, prometeu reduzir regulamentações — incluindo a flexibilização de algumas metas climáticas —, cortar impostos e investir em novos reatores nucleares avançados para diminuir os custos de energia.
“A Alemanha está presa na estagnação”, disse Robert Habeck, ministro da Economia e candidato a chanceler pelo Partido Verde, no final do mês passado.
Nem todas as notícias econômicas são ruins. Embora setores tradicionais, como a indústria automobilística, estejam sofrendo, o setor de serviços do país tem crescido nos últimos anos. A taxa de desemprego é baixa, de 3,2%, e alguns economistas ressaltam que a Alemanha já enfrentou fases de desindustrialização antes.
“A Alemanha já passou por períodos de desindustrialização”, disse Marcel Fratzscher, presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica. Ele citou o desaparecimento da indústria têxtil na década de 1970 e da eletrônica uma década depois. “Para as empresas e funcionários afetados, foi difícil, mas a Alemanha se recuperou e se fortaleceu em outros setores”, afirmou.
A SKW opera em vários países europeus. Mas desde sua fundação, em 1993, a empresa, que fica às margens do rio Elba, tem focado em atender às necessidades dos agricultores locais.
“Nós vivemos e morremos com a Alemanha e a Europa”, disse Franzke.
Lutherstadt Wittenberg, por enquanto, vive e morre com a SKW. Além de pagar impostos, a empresa abriu sua creche e seu centro médico ao público. Doou dinheiro para parques infantis, equipes esportivas e eventos locais. Bombeiros da região treinam com a brigada de incêndio da fábrica. A empresa patrocina o baile de formatura da escola local.
Neste ano, porém, interrompeu novas doações, e a falta de lucros significa que não pagará impostos sobre negócios locais. Autoridades municipais dizem que precisarão cortar gastos com esportes e cultura para equilibrar o orçamento.
Se a SKW transferir suas operações, não há outra indústria para substituí-la, disse o prefeito Zugehör. Muitos trabalhadores altamente qualificados e suas famílias deixariam a região, o que comprometeria três décadas de esforços para criar um padrão de vida atrativo, afirmou.
“Não conseguiríamos compensar essa perda”, disse ele.
Entre os que podem partir está Valentin Koch, de 27 anos, que se mudou para Lutherstadt Wittenberg há sete anos vindo da região ocidental da Renânia-Palatinado, atraído pelas oportunidades de emprego. Ele conseguiu trabalho na SKW e foi promovido a operador de planta e gerente de turno adjunto.
Seu plano era permanecer na empresa pelas próximas duas ou três décadas, mas teme que isso não seja mais possível.
Koch conseguiu lidar com a inesperada redução no bônus de Natal do ano passado, apesar de ter comprado recentemente sua primeira casa. Mas nem todos tiveram essa sorte.
“Conheço pessoas que contavam com isso, que calcularam seus empréstimos com base nesses pagamentos”, disse Koch. “Isso deixa as pessoas mais preocupadas. E tudo depende da política.”
Muitas empresas, incluindo a SKW, afirmam que as diretrizes governamentais aumentaram seus custos e reduziram os lucros, especialmente as voltadas para a meta da Alemanha de se tornar neutra em carbono até 2045. Franzke espera que um novo governo conceda mais liberdade e flexibilidade para as empresas atingirem essa meta, incluindo o uso de tecnologias que o governo não tem incentivado.
Questionado sobre seu governo preferido para o futuro, Franzke elogiou os Democratas-Cristãos. Na semana passada, ele estava a caminho de entregar pessoalmente uma carta com recomendações da indústria para a economia a Merz, antes de um comício de campanha.
“Esperamos que, em algum momento, o bom senso prevaleça e a concorrência volte a se afirmar na Alemanha”, disse Franzke.
Koch também tem esperanças, mas está menos convencido sobre Merz. Poucos dias antes da eleição, ele ainda não havia decidido em quem votar.
“É difícil”, disse ele. “Realmente difícil.”