Enquanto os cientistas correm contra o tempo para conseguir calcular corretamente as probabilidades de o asteroide 2024 YR4 atingir a Terra em 2032, antes que o ameaçador objeto espacial se afaste do nosso campo de visão, surge agora um novo alvo. Em uma postagem no Bluesky, um cientista da pesquisa astronômica Catalina Sky Survey (CSS) aponta que também a Lua possui uma pequena chance (0,3%) de ser atingida.
Descoberto em 27 de dezembro pelo observatório ATLAS, no Chile, o YR4 tem, segundo as estimativas mais recentes, uma probabilidade de impacto de cerca de 2,3%, ou seja, uma chance em 43 de atingir o nosso planeta. Embora aparentemente baixa, a ameaça se torna significativa quando se leva em conta que a rocha espacial tem entre 40 e 90 metros de diâmetro.
Embora seu tamanho seja insuficiente para extinguir a civilização humana em 22 de dezembro de 2032, o asteroide tem potencial para acabar com uma grande cidade, liberando cerca de 8 megatons de energia com o impacto, ou seja, 8 milhões de toneladas de TNT, o equivalente a mais de 500 vezes a energia liberada pela bomba atômica que destruiu Hiroshima.
O que muda se o asteroide “destruidor de cidades” atingir a Lua?
Engenheiro de operações da CSS, que rastreia asteroides e cometas próximos à Terra (NEOs) potencialmente perigosos, o professor David Rankin, da Universidade do Arizona, é o autor dos cálculos orbitais que incluíram a Lua na rota de colisão do asteroide. Para ele, o fato de nosso satélite sofrer o impacto no lugar dos 8 bilhões de habitantes da Terra seria “um incrível plot twist cósmico”.
Os efeitos dessa possível colisão, mesmo visíveis do nosso planeta, não afetariam diretamente a vida na Terra, explica Rankin à New Scientist. “Existe a possibilidade de que isso ejete algum material de volta que possa atingir a Terra, mas duvido muito que cause qualquer grande ameaça”. Ainda assim, esse impacto liberaria mais energia do que 340 bombas de Hiroshima.
Também entrevistado pela publicação britânica, o professor de ciência planetária do Imperial College London, Gareth Collins, garante que “estaríamos bastante seguros na Terra”. Ele acrescentou que qualquer material ejetado como resultado da colisão do asteroide YR4 com a Lua provavelmente queimaria na atmosfera da Terra.
Consequências de um impacto de asteroide na Lua

Durante a sua existência, a Lua meio que se acostumou com impactos de rochas espaciais. Como não tem uma atmosfera capaz de desacelerar esses “mísseis naturais”, o mais provável é que, em caso de impacto, o 2024 YR4 mergulhasse direto na superfície lunar a impressionantes 50 mil quilômetros por hora, seguido de uma potente explosão.
A consequência mais visível seria uma cratera (mais uma!) com até 2 quilômetros de diâmetro. Isso é bem menor do que os 200 quilômetros da famosa Cratera de Chicxulub, formada pelo impacto do meteoro que contribuiu para a extinção dos dinossauros, e apenas um pequeno buraco, se comparado à maior cratera da Lua, a bacia do Pólo Sul-Aitken, com mais de 2,4 mil quilômetros de diâmetro.
Apesar de todas essas hipóteses, fato é que a órbita de YR4 ainda é incerta, com previsões baseadas em centenas de observações. A maioria delas sugere que não atingirá a Terra em 2032, mas chances de impacto existem. Observações futuras podem alterar essas probabilidades. Também dentro da faixa de incerteza, a Lua, por sua vez, pode ser atingida em locais que variam da planície Mare Crisium à cratera Tycho, no lado visível para a Terra.
Telescópio James Webb começará a vigiar o YR4

As observações feitas pelos astrônomos do 2024 YR4 até agora vieram de telescópios na Terra, e estimam o tamanho do asteroide pela medição da quantidade de luz refletida nele. Por serem bastante imprecisas, o Telescópio Espacial James Webb irá estudar o tamanho real do asteroide “potencialmente perigoso” 2024 YR4 duas vezes nos próximos meses, em caráter emergencial.
A postagem recente no blog da Agência Espacial Europeia afirma que “o Webb é capaz de estudar a luz infravermelha (calor) que 2024 YR4 emite, em vez da luz visível que ele reflete. Observações infravermelhas podem oferecer uma estimativa muito melhor do tamanho de um asteroide, conforme explicado em um artigo publicado recentemente na revista Nature”.
Em entrevista à Live Science, Rankin lembra que “A partir de agora, ainda há 97,9% de chance de [o asteroide] errar em relação à Terra”. Ele pondera que dobrar as chances não é algo significativo quando se trata de passar de 1% para 2%. Não é o mesmo que passar de 40% para 80%, diz ele. E conclui: “Este asteroide não é nada para perder o sono”.
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