O mal-estar na cisgeneridade: Introdução às imagens do fracasso – Revista Cult

 
As psicologias ocidentais emergiram no século 19 separando-se das escolas de filosofia, por um lado, e dos estudos da medicina, por outro. Em primeiro lugar, elas se estabelecem como campo de pesquisas experimentais e uma teoria da psicologia dos povos; na medicina, havia uma tentativa de se erigir qualquer coisa que se parecesse com uma psicopatologia. Em 1886, temos a publicação da Psychopatia sexualis, de Richard Krafft-Ebing, responsável por termos como heterossexualidade e masoquismo, originalmente parte do léxico psicopatológico de uma época. Toda essa movimentação se refere ao contexto de uma época e de um lugar; uma Europa branca e burguesa que se aproximava perigosamente de si mesma, torcida por um capitalismo neocolonial, neoindustrial, que, ao reinventar-se sucessivamente, espremia seus sujeitos até o fracasso de suas últimas concepções pré-fotográficas, pré-televisivas, pré-midiáticas, pré-bomba atômica.
Recusavam-se a aderir, nesse furor experimental e nomenclatural, filósofos que denunciavam a decadência, como um certo Friedrich Nietzsche, cuja obra influenciaria fatalmente um jovem Carl Jung, um então desiludido estudante de medicina, filho de pai pastor e mãe dona de casa, portadora de um quadro psiquiátrico grave. Convidado por Bleuler a fazer parte da equipe do respeitado hospital psiquiátrico Burghölzli, Jung propôs uma escuta profunda das pessoas ali internadas a partir das imagens que relatavam.
O que essas imagens lhe disseram? Para Jung, não se tratava propriamente de loucura, mas imagens que mais pareciam a ten