O sofrimento da alma humana é, hoje, um assunto central da cultura. Num momento de inflação narcísica como o que vivemos, assistimos a uma proliferação de discursos ficcionais de que quase todo e qualquer sofrimento que permeia a experiência humana, como o adoecer, o envelhecer, a autonomia dos processos corporais e da ação do tempo, pode ser controlado ou suprimido por intervenções de todo tipo. Tal perspectiva traz consigo certa fantasia de controle quase absoluto sobre o mal-estar que nos atinge. A ideia da inexorabilidade do sofrimento enquanto experiência filosófica e existencial, um fundamento da experiência da vida, parece ter se convertido ao longo do tempo numa expectativa fantasiosa de controle e supressão da angústia.
Na dimensão psíquica do sofrimento humano, observamos algumas particularidades desse modo de abordar nossos afetos. Se, por muito tempo, a psiquiatria possuiu poucas ferramentas de estudo e intervenção da psique e do sofrimento que a acompanha, especialmente da sua emergência no século 19 à primeira metade do século 20, vimos nas últimas décadas um crescimento exponencial da pesquisa em torno do tema, sobretudo no campo das neurociências e nas possibilidades de intervenção farmacológica.
Observamos que não é casual ou aleatório o desenvolvimento concomitante das classificações psiquiátricas dos fenômenos relativos aos transtornos mentais, por um lado, e o avanço das pesquisas no campo das ciências biológicas que podem supostamente auxiliar na supressão do sofrimento psíquico dos aspectos negativos enseja
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »