Naquela ocasião, o filme também rendeu uma indicação ao prêmio de melhor atriz para sua protagonista, Fernanda Montenegro, mãe de Torres e que tem uma pequena participação em “Ainda Estou Aqui”. Mãe e filha são as únicas brasileiras a disputar uma categoria de atuação na cerimônia.
“Ainda Estou Aqui” triunfou no Festival de Veneza, onde foi premiado com o melhor roteiro, mas o caminho para o Oscar não parecia tão claro, competindo com a grande favorita Emilia Pérez, o musical sobre um chefe do narcotráfico que se submete a uma cirurgia de redesignação de gênero. Mas o filme da Netflix foi abalado por polêmicas com sua protagonista e críticas ao retrato sobre o México, quando “Ainda Estou Aqui” começou a ganhar força. Em janeiro, Torres, de 59 anos, foi premiada com o Globo de Ouro de melhor atriz, outro marco para o país.
Embora não seja o primeiro filme a retratar os duros anos da ditadura militar que controlou o Brasil entre 1964 e 1985, a produção de Salles, ambientada principalmente no Rio de Janeiro, despertou grandes emoções no país. Seu sucesso não só se tornou motivo de orgulho e levou milhares de pessoas às salas de cinema para enfrentar o passado que enlutou os brasileiros, como também trouxe consequências concretas.
O Supremo Tribunal Federal aprovou a investigação das circunstâncias da morte de Paiva e reabriu o debate sobre a Lei da Anistia adotada em 1979, que impediu a punição do regime pelas mais de 400 mortes e desaparecimentos. Além disso, em janeiro, o Registro Civil alterou a certidão de óbito de Paiva, que só foi emitida em 1996, apesar de ter desaparecido em 1971 e de seu corpo nunca ter sido encontrado.
Na primeira versão, emitida após a incansável luta de sua viúva, Eunice, o ex-deputado figurava como desaparecido. Na nova versão, após o filme, estabeleceu-se que sua morte foi “não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente”.