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quinta-feira, março 13, 2025

World Liberty Financial, da família Trump, discutiu criação de ‘stablecoin’ e projetos cripto com a Binance

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A World Liberty Financial, uma das empresas de criptoativos da família Trump, discutiu fazer negócios com a maior plataforma de ativos digitais do mundo, a Binance, cujo fundador se declarou culpado por não tomar as medidas necessárias para impedir que terroristas, acusados de abusar de crianças e entidades em países sancionados usassem seus serviços, de acordo com quatro pessoas com conhecimento das negociações.

Não está claro em que estágio as discussões chegaram ou se elas resultarão em transações ou empreendimentos, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque as negociações são privadas. Duas delas disseram que as conversas incluíram a possibilidade de a Binance desenvolver uma stablecoin — uma criptomoeda lastreada em dólar — com a World Liberty, que o presidente Donald Trump e seus filhos começaram a promover em setembro. A família Trump recebem três quartos da receita líquida da World Liberty, de acordo com os documentos de fundação.

Além disso, representantes da família Trump conversaram com a Binance sobre assumir uma participação em seu braço nos EUA, Binance.US, informou o “Wall Street Journal” na quinta-feira, citando pessoas familiarizadas com o assunto. Em uma postagem no X, o fundador da Binance, Changpeng Zhao, disse que não discutiu sobre um acordo Binance.US com ninguém.

Zhao se declarou culpado em 2023 por falhas nos controles antilavagem de dinheiro, que permitiram que a Binance fosse usada por grupos criminosos e organizações terroristas, incluindo o Hamas. Zhao, conhecido como “CZ”, foi libertado de uma casa de recuperação em Long Beach, Califórnia, em setembro, após cumprir uma sentença de quatro meses. A Binance aceitou pagar uma multa de US$ 4,3 bilhões. Zhao tem pressionado o governo Trump a lhe conceder um perdão, de acordo com o relatório do “Wall Street Journal”.

Três meses após deixar a casa de recuperação, Zhao se encontrou com Steve Witkoff, um dos cofundadores da World Liberty, em Abu Dhabi, na conferência Bitcoin MENA 2024, disseram duas pessoas. Witkoff é o enviado do presidente para o Oriente Médio. Ele deve se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin esta semana como parte dos esforços do governo Trump para interromper a guerra que começou quando a Rússia invadiu a Ucrânia há três anos.

O tema da reunião de Witkoff com Zhao em dezembro não está claro. As conversas entre as empresas de criptomoedas que eles fundaram ocorreram desde então, de acordo com as quatro pessoas com conhecimento do assunto.

Witkoff não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, nem um porta-voz da Casa Branca. Witkoff disse que está em processo de venda de seus criptoativos, bem como de suas participações em imóveis, transferindo participações para seus filhos, como forma de contornar potenciais conflitos de interesse. Um representante da Binance.US se recusou a comentar o caso nesta quinta-feira, e representantes da World Liberty não responderam aos pedidos de comentário.

Zhao ainda é o acionista controlador da Binance, com um patrimônio líquido de US$ 36,9 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index. Ele deixou o cargo de CEO em novembro de 2023, quando se declarou culpado por não manter um programa antilavagem de dinheiro considerado eficiente. Richard Teng, que substituiu Zhao como CEO, disse em fevereiro que vê uma oportunidade para um “novo início” sob Trump, embora não tenha especificado nenhum plano específico.

Fazer negócios com a Binance pode representar uma escalada no envolvimento de Trump na indústria de criptomoedas, além de um potencial conflito de interesses. O governo Trump está atualmente reeditando regulamentações que podem afetar interesses da Binance e de seus concorrentes.

Sob Trump, a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM americana) colocou em ritmo de espera o “enforcement” [aplicação] das regras para criptoativos, incluindo um processo judicial contra a Binance e Zhao. Esse processo, que não foi resolvido pela confissão de culpa de Zhao ou pela multa da Binance, alega que a empresa permitiu indevidamente que clientes dos EUA usassem a plataforma, fez má gestão dos ativos de investidores e se envolveu em manipulação de negociações de ativos digitais.

De golpe a entusiasta cripto

Trump chegou a chamar o bitcoin de “golpe” em 2021. Mas durante sua segunda campanha presidencial, ele mudou de curso, aparecendo em uma conferência sobre bitcoin em Nashville em julho de 2024 e prometendo fazer dos EUA a “capital cripto do planeta”. Além de reduzir a regulação, seu governo está propondo impulsionar a criptomoeda fazendo com que o governo possua uma reserva de bitcoin e outras criptomoedas.

Algumas semanas após a conferência de Nashville, Trump e seus filhos começaram a promover a World Liberty, que diz estar desenvolvendo uma plataforma para negociar criptomoedas. “Estamos abraçando o futuro com criptomoedas e deixando os grandes bancos lentos e desatualizados para trás”, disse Trump em um vídeo postado nas redes sociais.

A World Liberty foi fundada por dois empreendedores pouco conhecidos com currículos incomuns. Eles foram apresentados aos Trumps por Witkoff, um incorporador imobiliário da Flórida que joga golfe com o presidente. Um deles, Chase Herro, havia se engajado anteriormente em uma empresa de produto para “limpeza de cólon” para perda de peso, além de um curso de US$ 149 mensais sobre como enriquecer rapidamente. Ele já se auto considerou como o “safado da internet”.

Trump e seus filhos promoveram a World Liberty em uma transmissão ao vivo de Mar-a-Lago em setembro, mas as vendas de sua criptomoeda proprietária foram lentas até Trump ser eleito presidente. A empresa já vendeu US$ 300 milhões em tokens World Liberty, de acordo com o Dune Analytics, um site de dados cripto, embora os compradores dos tokens ainda não tenham permissão para revendê-los e não tenham direito a nenhum lucro.

Os Trumps recebem 75% da receita líquida, incluindo os lucros das vendas de tokens, como uma taxa de remuneração, de acordo com o documento de oferta da World Liberty. Witkoff e seus filhos recebem 12,5%, de acordo com o documento, que lista o título de Trump como “Chief Crypto Advocate”. Seus filhos Eric, Barron e Don Jr. são mencionados como “Web3 Ambassadors”. (World Liberty é separada do memecoin de Trump, $TRUMP, que foi lançada alguns dias antes de sua posse. O valor desse token subiu para mais de US$ 70, mas caiu para cerca de US$ 10.)

A empresa tem sugerido planos para uma stablecoin desde outubro, quando seus organizadores os elogiaram em uma transmissão ao vivo no X. Stablecoins, que têm seus valores fixados em US$ 1 porque são lastreados por ativos tangíveis, são a parte mais lucrativa da indústria de criptomoedas. A Tether Holdings, emissora da stablecoin mais popular do mundo, ganha receita de transação para negociações e coleta juros sobre os ativos de reserva que lastreiam suas moedas. Seu lucro no ano passado foi de US$ 13 bilhões. Stablecoins são geralmente negociadas em plataformas de ativos digitiais. A Binance, que responde por mais da metade de todas as negociações de criptomoedas, é um dos maiores mercados para elas.

Em 7 de março, durante uma reunião com executivos de criptoativos na Casa Branca, Trump prometeu apoiar os esforços do Congresso para “fornecer certeza regulatória para stablecoins lastreadas em dólares”.

A Trump Organization, empresa da família Trump, apresentou um plano de ética antes do segundo mandato de Trump que não impõe restrições à busca de novas transações comerciais com empresas estrangeiras, uma ruptura com sua abordagem de gerenciamento de conflitos de interesse quando ele assumiu o cargo em 2017. Trump disse que seus interesses comerciais serão colocados em um fundo administrado por seus filhos e que ele não terá nenhum papel na tomada de decisões e acesso limitado a informações financeiras.

“Haverá, obviamente, um muro muito grande entre qualquer coisa que tenha a ver com nossa empresa e qualquer coisa a ver com o governo”, disse Eric Trump à Reuters em dezembro, em uma entrevista na conferência Bitcoin em Abu Dhabi.

A Binance, fundada por Zhao em Xangai em 2017, passou de país para país, evitando estabelecer uma sede em qualquer jurisdição e sofrendo questionamento de reguladores por ignorar as regras dos mercados financeiro e de capitais. A plataforma cripto já foi popular nos EUA, mas sua participação de mercado diminuiu devido a problemas regulatórios.

A investigação que resultou na confissão de culpa de Zhao foi abrangente. Os EUA alegaram que a Binance, em sua pressa para se expandir, desrespeitou as regras antilavagem de dinheiro. Os promotores disseram que a empresa permitiu US$ 898 milhões em transações do Irã, que estava sob sanções dos EUA, e que os executivos estavam bem cientes de que os maus atores estavam usando a plataforma.

A Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC) dos EUA chamou o programa de conformidade da Binance de “farsa” e disse que a empresa se envolveu em uma “estratégia calculada de arbitragem regulatória”. Essa falta de controles permitiu que grupos terroristas, incluindo Hamas, Al Qaeda, Jihad Islâmica Palestina e o Estado Islâmico do Iraque e Síria recebessem recursos por meio da plataforma, de acordo com o Departamento do Tesouro dos EUA.

“Suas falhas intencionais permitiram que o dinheiro fluísse para terroristas, criminosos cibernéticos e abusadores de crianças por meio de sua plataforma”, disse a então secretária do Tesouro Janet Yellen na época do acordo.

A Binance diz que agora tem melhores controles e segue regras em todo o mundo. Mas a empresa ainda está sendo investigada em alguns países. Promotores franceses intensificaram uma investigação de lavagem de dinheiro na Binance em janeiro. A Nigéria processou a Binance em fevereiro, buscando mais de US$ 80 bilhões pelo que o país alega serem perdas econômicas e impostos atrasados.

[Fonte Original]

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