Após desacelerar em fevereiro, a inflação de alimentos deve voltar a pisar no acelerador, novamente, pressionada pelo preço dos ovos e do café que não param de subir. A expectativa para o IPCA-15, a prévia da inflação de março, que será divulgada amanhã pelo IBGE, é que o grupo Alimentação e Bebidas acelera de 0,61%, registrado em fevereiro, para 1,42%. Para a alimentação em domicílio a estimativa é de alta de 1,55% ante a uma alta de 0,63% no mês anterior, diz Matheus Dias, pesquisador do FGV Ibre, que projeta uma variação de 0,61% para o IPCA-15. Ele explica, no entanto, que apesar da inflação de alimentos preocupar, a tendência é que depois de uma aceleração em março e abril, a taxa de acomode:
– A inflação de alimentos deve começar a desacelerar a partir de maio, seguindo a sazonalidade normal dos alimentos. Considerando o cenário atual de que não teremos novos choques no clima, nem no câmbio – explica Dias.
É a resiliência da inflação de serviços que representa 37% da estrutura de ponderação do IPCA o que mais preocupa. Os serviços tem um peso mais relevante na formação da inflação: alimentação em domicílio responde por cerca de 16%. O segmento, diz o economista, é o verdadeiro protagonista da manutenção da inflação em patamares mais elevados. Entre os serviços com maior representatividade no IPCA se destacam aluguel residencial, condomínio e alimentação fora de casa. Quando observamos a evolução de preços desses itens, nos últimos cinco anos, se revela uma história de resistência à desaceleração, marcada por uma estabilidade elevada e até aceleração, ressalta Dias:
– Dá para observar que a inflação de alimentos tem uma volatilidade nos impactos, que acabam sendo resultado das variações percentuais muito fortes sejam positivas ou negativas. Por sua vez, os serviços possuem maior resistência em cair, mantendo um impacto sempre positivo sobre o IPCA. Isso tudo acumulado em 12 meses.
Dias chama atenção para o fato que a inflação de serviços tem maior peso entre as faixa de renda mais alta (com renda entre 15.180 e R$ 50 mil), representando em média 44% da inflação para esse grupo. Para as famílias de renda baixa (que ganham entre um e cinco salários mínimos), não passa de 25%, mostra análise feita a partir do IPC-FGV. De outro lado, o peso da inflação de alimentos é 11% da cesta inflação dos mais ricos, enquanto as famílias de baixa renda gastam 22% dos ganhos com alimentos, o que faz com esse grupo sinta mais no bolso a alta desses preços.
– Em ambos os grupos, no entanto, consomem serviços em uma porção não desprezível, o que tona ainda mais preocupante a dificuldade em controlar a inflação de serviços – reforça o pesquisador do FGV Ibre.