Mesmo que eu esperasse só pancadaria sanguinolenta descerebrada de uma minissérie protagonizada pelo Wolverine cujo título é pura e simplesmente Vingança, a assinatura do roteiro por Jonathan Hickman parecia indicar que haveria algo mais do que apenas isso, talvez na linha da recente e surpreendentemente muito bacana Deadpool & Wolverine WWIII em que Joe Kelly e Adam Kubert souberam fazer do completo e absoluto caos uma história que equilibrava justamente o que um team-up desses promete com uma construção narrativa interessante. Infelizmente, porém, Wolverine: Vingança, minissérie em cinco edições que, apesar de não indicado em lugar algum, se passa em um universo alternativo, sequer parece algo escrito por Hickman, como se o roteirista tivesse apenas emprestado seu nome para um escritor fantasma qualquer e esse escritor fantasma sequer tivesse se dado ao trabalho de emular algo que Hickman faria.
Como é indicado logo na abertura, o Asteroide M caiu na Terra com Magneto que, ao morrer, gerou o maior pulso eletromagnético já visto que basicamente acabou com toda a eletricidade do hemisfério norte. Wolverine, que estava de férias na Terra Selvagem e, portanto, ignorando completamente o que estava acontecendo, é recrutado por Nick Fury (o original, o que de cara já entrega que essa história não é do universo principal da editora) para se juntar ao Capitão América, Soldado Invernal e o que restou da S.H.I.E.L.D. para roubar um poderoso gerador de energia na Rússia que está sob controle da nova Irmandade de Mutantes formada por Mestre Mental, Ômega Vermelho, Dentes-de-Sabre, Deadpool e Colossus (sim, Piotr Rasputin). Chegando lá, tudo dá devidamente errado para o Carcaju e tudo o que lhe resta, depois, é vingar-se. Uma premissa básica dessas em um universo livre de amarras de continuidade tinha que ser prato feito para Hickman aloprar completamente, pelo que chega a ser até estranho que tudo aconteça de maneira tão fácil, rápida e, pior ainda, burocrática nas edições seguintes, mesmo que haja uma pontinha de ambição no que foi escrito para criar uma nova versão do universo do Velho Logan com os saltos temporais que ocorrem.
Eu deveria ter prestado mais atenção, pois a Marvel Comics anunciou o lançamento quase simultâneo da versão Red Band dessa minissérie, prometendo muito mais violência e sangue, uma estratégia caça-níquel absolutamente patética que, pelo visto, deve funcionar com aqueles que se acham adultos lendo quadrinho que tem tripas voando para todo lado. Isso é um sinal de alerta para descompromisso mínimo com qualidade de maneira a impulsionar vendas com esses artifícios imbecis. E eu até cheguei a ler a primeira edição “censurada” só por desencargo de consciência, e tudo o que vi foi um mais do mesmo feito para agradar um público que parece fazer conexão entre violência e sangue e vísceras explícitas, enquanto que uma coisa não tem relação alguma com a outra. Claro que a arte de Greg Capullo é um atrativo e ele faz um bom trabalho. Infelizmente, porém, a ênfase, aqui, é no “bom”, porque é só isso mesmo e não ótimo, sensacional, incomparável e a melhor coisa do mundo desde a invenção do ar-condicionado como eu tenho certeza que muita gente achará. O que Capullo entrega segue a linha do roteiro do escritor fantasma que assina como Jonathan Hickman, ou seja, arte inacreditavelmente comportada e certinha para uma minissérie que tinha tábula rasa para ser o que quisesse ser, menos a mesma coisa novamente.
Capullo até perde a oportunidade para fazer sua arte sobrepujar e soterrar completamente o roteiro mequetrefe, com a típica forma sobre substância, já que ele abre mão de splash pages marcantes e de páginas duplas de fazer o queixo cair, algo que a história exigia. Tudo o que temos aqui é forma, apesar de superior à substância, que se mostra… formal demais, sem ousadia, sem risco, sem qualquer tentativa de sair das limitações do óbvio ululante e da arte feita para ser “universalmente adorada” e que, com isso, acaba sendo apenas e tão somente genérica. Bonita, sem dúvida, mas genérica, especialmente, repito, para a tela completamente em branco que o artista tinha à sua frente que lhe permitia literalmente “pintar o sete”, aloprar completamente para deixar sua marca mais uma vez. Só não direi que Capullo foi substituído por um desenhista fantasma, pois a arte é inegavelmente dele, mas a conclusão a que chego é que essa minissérie é como se fosse a materialização de Hickman e Capullo, já velhinhos e aposentados, em um lar para idosos jogando damas ao som de Kenny G e lembrando sobre como os velhos tempos eram bons.
Wolverine: Vingança (Wolverine: Revenge – EUA, 2024/25)
Contendo: Wolverine: Revenge #1 a 5
Roteiro: Jonathan Hickman
Arte: Greg Capullo
Arte-final: Tim Townsend
Cores: FCO Plascencia (#1 a 3), Alex Sinclair (#4 e 5)
Letras: Cory Petit
Editoria: Drew Baumgartner, Mark Basso, Tom Brevoort, C.B. Cebulski
Editora: Marvel Comics
Data original de publicação: 21 de agosto, 25 de setembro e 30 de outubro de 2024; 22 de janeiro e 26 de março de 2025)
Páginas: 144