A plataforma 99 vai investir R$ 1 bilhão para expandir sua operação de logística no Brasil e retomar o 99Food — serviço de entrega de refeições prontas — que havia encerrado em 2023. A decisão reacende a competição no mercado de “delivery” brasileiro, que tem o iFood como principal “player” nacional.
O anúncio foi feito por Stephen Zhu, presidente global da DiDi’s International Business Group, empresa chinesa que controla a 99, durante encontro com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, em Brasília, nesta quarta-feira (16). Segundo a empresa, o serviço começará a ser disponibilizado para consumidores, restaurantes e entregadores em meados deste ano.
Desde que encerrou as operações de “delivery” no país, a 99 direcionou seus esforços para desenvolver o serviço de logística, tanto para o transporte de pessoas quanto de encomendas. Atualmente, a empresa atua em mais de 3.300 municípios, e a ideia é aproveitar essa capilaridade para retornar mais forte na entrega de refeições.
Lançada em novembro de 2019, em Belo Horizonte (MG), a 99Food informou, em janeiro de 2022, que atuava em 59 cidades brasileiras de 22 estados, com 114 mil restaurantes cadastrados. Em 2023, a plataforma decidiu encerrar a operação no Brasil. Pouco menos de um ano antes, a Uber fez um movimento parecido, interrompendo o serviço de entregas de refeições prontas dentro do app UberEats.
Contratos de exclusividade do iFood
Além dos desafios de cada operação, os contratos de exclusividade entre iFood e grandes redes de restaurantes eram apontados como empecilhos para uma competição saudável no país.
Essa prática foi reportada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que após análise impôs um Termo de Compromisso de Cessação (TCC) ao iFood, impedindo contratos de exclusividade com redes de restaurantes com mais de 30 estabelecimentos.
De lá para cá, o iFood e a colombiana Rappi permaneceram oferecendo o serviço em nível nacional, mas o crescimento da operação brasileira foi exponencial. Presente em cerca de 1.500 cidades, o iFood informa que tem 55 milhões de clientes cadastrados, 380 mil estabelecimentos e transaciona cerca de R$ 8 bilhões por mês.
Em 2023, suas atividades movimentaram R$ 110,7 bilhões em diversos setores da cadeia produtiva, o que corresponde a 0,55% do Produto Interno Bruto (PIB).
Desde 2022, o iFood é controlado pela holandesa Prosus, subsidiária de investimentos internacionais do conglomerado de mídia sul-africano Naspers, o que deu ainda mais força à empresa. Em fevereiro deste ano, o grupo anunciou um acordo para comprar a também holandesa Just Eat Takeaway.com por US$ 4,29 bilhões, criando a quarta maior empresa de “delivery” de comida do mundo em valor bruto de transações.
Para a Rappi, o Brasil é o terceiro mercado mais importante, atrás da Colômbia e México. Mas a empresa já deixou claro que sua prioridade aqui são as entregas ultrarrápidas, o chamado Rappi Turbo. Eles não abrem dados sobre a operação local.
Segundo a consultoria Euromonitor Internacional, o iFood detém 70% do mercado de entrega de refeições, enquanto a Rappi possui apenas 7%. O iFood discorda desses números, mas não fornece dados alternativos. Segundo a plataforma, canais como telefone e WhatsApp ainda têm um papel relevante.
A volta da 99 pode ser um indicativo de que o mercado de “delivery” no Brasil ainda é competitivo. Além disso, o aumento da concorrência tende a ser positivo tanto para o consumidor quanto para os estabelecimentos.
Vale lembrar que essa não é a primeira vez que o mercado brasileiro atrai o interesse de gigantes desse setor. Em março, o Valor noticiou que a americana DoorDash iniciou conversas para comprar a operação global da Rappi em 2024, mas o negócio não teria avançado por uma incompatibilidade na visão sobre o valor dos ativos.
Mais recentemente, o possível avanço da chinesa Meituan nos preparativos para desembarcar no Brasil ganhou destaque no noticiário. Segundo pessoas a par do assunto, executivos da companhia estão se reunindo com empresários brasileiros do setor e conversando com fornecedores e operadores logísticos locais. No entanto, como em outras ocasiões, ainda não há certeza sobre a sua vinda.