A segunda alta seguida do Índice de Confiança do Consumidor (ICC) significou apenas uma “melhora muito modesta” do indicador, depois de um acúmulo negativo de 10,8 pontos entre dezembro e fevereiro. A avaliação é da economista Anna Carolina Gouveia, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), que lembra que os avanços de março e abril recuperaram apenas 1,2 ponto, ou 11%, das três quedas anteriores.
Em abril, o ICC subiu 0,5 ponto, para 84,8 pontos, com destaque para o Índice de Expectativas (IE), que saltou 0,7 ponto, a 88,1 pontos. O Índice de Situação Atual (ISA) teve leve alta de 0,1 ponto, para 81,1 pontos.
“Ainda não se pode falar em recuperação. O nível do ICC, na casa dos 80 pontos, é pessimista”, frisa Gouveia. “Mesmo com as melhoras pontuais, a confiança do consumidor continua refletindo um forte pessimismo disseminado”, acrescenta.
Os dois quesitos que avaliam o momento atual, situação econômica local atual e situação financeira atual da família, variaram em sentidos opostos, 0,7 e -0,6 ponto, para 91,9 e 70,6 pontos, respectivamente. Nos quesitos que compõem as expectativas, subiram os indicadores de situação econômica local futura e de situação financeira futura da família, com avanços de 2,7 e 1,1 pontos, respectivamente. O indicador de compras previstas de bens duráveis recuou 1,8 ponto.
A economista do FGV Ibre destaca que a confiança é pior na faixa de renda menor. Os dados da pesquisa mostram que na faixa de renda até R$ 2.100,00 por mês o ICC caiu 3,7 pontos em abril, para 75,3 pontos, na quinta queda seguida. Desde dezembro, essa faixa de renda acumula recuo de 24 pontos.
“São os consumidores mais pessimistas os mais pobres. O nível de pessimismo nessa faixa é muito elevado, com 75,3 pontos. Em nenhum momento teve compensação nesta faixa, são cinco quedas seguidas”, ressalta Gouveia, que acredita que a percepção sobre a inflação dos alimentos tem contribuído para a confiança mais baixa. “Além do alto endividamento e da taxa de juros muito elevada, o que dificulta o pagamento de dívidas e também impede compras mais caras, com parcelamento”, acrescenta a economista, lembrando que os mais pobres muitas vezes não conseguem substitutos nas cestas de alimentos, além de não possuírem ativos financeiros que garantam alguma proteção contra a inflação em alta.
Na demais faixas de renda, houve, em abril, alta de 2 pontos nas famílias com renda entre R$ 2.100,01 e R$ 4.800,00, para 86,5 pontos; e avanço de 6 pontos, para 88 pontos, na faixa de renda mensal entre R$ 4.800,01 e R$ 9.600,00. Na faixa mais alta, acima de R$ 9.600,01, houve queda de 1 ponto no ICC em abril, para 88,9 pontos.