O dólar à vista exibiu leve queda frente ao real nesta sexta-feira, em um dia em que houve mais dificuldade dos agentes financeiros para estabelecer direção para os ativos. Com bastante incerteza ainda no radar em relação à guerra tarifária entre Estados Unidos e China, os investidores seguiram mais cautelosos, mas sem fazer grandes apostas ou buscar refúgio em ativos de segurança. Pela manhã, o dólar oscilou entre leves altas e quedas discretas no mercado brasileiro, mas no início da tarde passou a operar mais em território negativo. Apesar de um recuo tímido hoje, na semana o dólar registrou depreciação de 2,02%.
Encerradas as negociações desta sexta no mercado “spot”, o dólar registrou desvalorização de 0,08%, cotado a R$ 5,6868, depois de ter batido na mínima de R$ 5,6646 e encostado na máxima de R$ 5,7069, enquanto o euro comercial exibiu depreciação de 0,26%, a R$ 6,4625. Na semana, a moeda europeia recuou 2,09%. No exterior, perto do fechamento, o dólar também recuava 0,42% ante o peso mexicano e 0,80% contra o peso colombiano, mas o índice DXY subia 0,20%, aos 99,574 pontos.
As negociações desta sexta-feira foram marcadas por um sentimento ambíguo no mercado: enquanto as notícias sobre a China (ponderando uma redução nas tarifas) poderiam dar um respiro à tensão comercial, a perspectiva mais negativa dos consumidores americanos para a inflação no país estaria alimentando um temor sobre a economia dos EUA.
O banco americano Wells Fargo voltou a reduzir sua projeção para o câmbio brasileiro no fim deste ano, mas mantendo a leitura que pode haver um estresse no mercado local. Em março, a projeção do banco era que o dólar terminasse o ano a R$ 6,10, enquanto na projeção de abril essa previsão passou para R$ 5,70. “Moedas de lugares onde os fundamentos subjacentes são fracos e a política mais volátil podem ter desempenho inferior, com o Brasil e a Colômbia sendo os principais candidatos neste sentido.”
O Goldman Sachs, no entanto, continua a ver o real com uma boa performance. “Embora reconheçamos que os elevados riscos de recessão representem um cenário desafiador para os mercados emergentes de moedas, nossa posição de compra preferida na América Latina continua sendo o real, dada a sua atratividade, combinação de valor, carry e exposição limitada ao comércio global (desconsiderando aqui as commodities)”, afirmam. Na semana passada, o Goldman iniciou uma recomendação de compra de real contra peso mexicano, de olho no diferencial de juros entre as divisas.
Também tem chamado a atenção dos agentes financeiros o movimento diferente entre dólar e euro, no mercado cambial brasileiro. Enquanto no acumulado do ano, o dólar recua cerca de 8%, o euro aprecia 0,5% frente ao real. A perspectiva de que a moeda americana siga mais fraca daqui para frente (diante das incertezas tarifárias) e que o euro recupere terreno (com ajuda do pacote fiscal europeu) explica esse distanciamento. Para o Deutsche Bank, por exemplo, enquanto no fim de 2026 o dólar deve bater a marca de R$ 6,50, o euro deve chegar a R$ 8,10, conforme mostra o relatório do Deutsche Bank Research, escrito pelos estrategistas Tim Baker e George Saravelos.
No acumulado desta semana, ambas as moedas têm perdas frente ao real. A dinâmica de fortalecimento do real nos últimos dias foi mais resultado de uma menor aversão a risco, mas à medida que as decisões de juros (tanto brasileira quanto americana) se aproximam, operadores esperam que essa dinâmica perca força.