Sinalizações mais positivas vindas do exterior potencializaram os ganhos do Ibovespa na sessão, que fechou em alta firme nesta segunda-feira, de 1,39%, aos 129.454 pontos. Durante o pregão, o índice oscilou entre os 127.683 pontos e os 129.955 pontos. A suspensão temporária das tarifas recíprocas sobre eletrônicos, anunciada pelos Estados Unidos, deu o primeiro impulso ao índice, ao promover um movimento mais favorável a ativos de risco ao redor do mundo ao longo do dia.
Os alívios a conta-gotas do presidente americano, Donald Trump, no entanto, mantêm elevados os receios do mercado sobre os próximos passos do líder republicano.
“Trump deixou muito claro que a intenção do governo é de levar o trabalho até o final. Porém, o formato final ninguém sabe. O sentimento é um pouco de alívio porque o primeiro dia [Liberation Day] foi um ‘desastre’. Mas não há segurança de um final feliz”, resume sócio da Portofino Multi Family Office, Adriano Cantreva.
Falas de diretores do Federal Reserve (Fed, banco central americano), que aventaram a possibilidade de um ciclo de corte de juros mais intenso, caso o governo adote uma política tarifária mais dura, também provocaram uma queda mais intensa dos juros futuros, o que ajudou a ampliar os ganhos do Ibovespa.
Segundo operadores, indícios de compras de investidores estrangeiros também podem ter impulsionado o índice na sessão. As ações da Petrobras encerraram o dia com movimento misto: as ordinárias fecharam em alta de 0,21%, enquanto as PN terminaram em queda de 0,38%. Participantes citam que um desempenho como esse indica uma possível compra de investidores internacionais, já que os recibos de ações negociados em NY (ADRs) do papel ordinário da petroleira tendem a ser mais líquidos.
Nesse sentido, operadores afirmam que as ações da Petrobras se beneficiaram por responderem pelas maiores participações do índice, juntamente com os papéis da Vale. As ações da mineradora encerraram com alta de 1,30%.
O dia foi volátil para os preços de petróleo, que oscilaram após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) revisar para baixo sua projeção para a demanda global da commodity para este ano e para 2026.
Em meio a um cenário em que o mercado precifica uma desaceleração mais profunda da atividade global, Cantreva avalia que os agentes financeiros devem diminuir o interesse por commodities como o petróleo. “Trump citou que deve aumentar a produção americana e é esperado um menor uso [da commodity] com a eletrificação. Esses dois fatores já diminuem a demanda por petróleo. Se ainda tivermos uma recessão, não vejo um cenário positivo para a commodity”, resume.
A Portofino tem adotado uma posição mais neutra em juros e bolsa brasileira. “Achamos que essa piora dos ativos não é ‘temporal’. Acreditamos que há uma probabilidade maior de termos um comércio mundial diferente do que tivemos nas últimas décadas”, observa o executivo. Já no exterior, o profissional conta que a casa tem feito compras pontuais no mercado acionário americano e que tem visto oportunidades pontuais no mercado de crédito privado dos EUA.
Outras casas, porém, têm preferido adotar uma estratégia mais cautelosa no mercado acionário americano. Assim, o desconforto com os próximos passos de Trump se reflete na menor exposição às ações americanas.
“Reduzimos EUA como um todo, estamos na mínima histórica de exposição lá. O que ainda temos é majoritariamente em empresas geradoras de caixa e fora das big techs, como a Philip Morris”, afirma o gestor Eduardo Grübler, da AMW (Asset Management Warren).
Em contrapartida, a carteira segue bem-posicionada em tecnologia chinesa e em empresas defensivas na Europa, com destaque para o setor bancário. No mercado local, o profissional destaca o alto grau de incerteza e observa que os investidores estão aproveitando o alívio recente para realizar lucros. Em sua avaliação, a alta registrada hoje no Ibovespa é apenas “pontual”.
A maior alta registrada entre as ações do Ibovespa foi dos papéis da Azul, que tiveram ganhos de 12,33%. A aérea vai realizar uma oferta de ações que pode movimentar até R$ 4,1 bilhões. Já na ponta contrária, os papéis da Minerva lideraram as perdas, no valor de 2,87%. Analistas do Goldman Sachs rebaixaram as ações de compra para neutra, com o preço-alvo em R$ 6,95.
O volume financeiro negociado na sessão foi de R$ 16,6 bilhões e de R$ 21,5 bilhões na B3. Já em Wall Street, os principais índices americanos fecharam em alta: o S&P 500 subiu 0,79%; o Dow Jones teve ganhos de 0,78%; e o Nasdaq avançou 0,64%.