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sexta-feira, abril 25, 2025

Novo regime cambial da Argentina arrisca reacender a inflação, alertam analistas

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Todas as manhãs, Carlos Abons e seus seis funcionários visitam lojas de materiais de construção em Buenos Aires, entregando materiais elétricos e encorajando os clientes a fazer novos pedidos para sua empresa familiar. Mas a segunda-feira (14) foi diferente para eles.

O presidente Javier Milei estava prestes a estrear seu plano para desfazer a maioria dos controles cambiais implementados nos últimos cinco anos, um pilar fundamental do novo programa de US$ 20 bilhões da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nas ruas de Buenos Aires, Abons ordenou que sua equipe esperasse.

“Decidimos não forçar as vendas”, disse o vendedor de 73 anos da Dalessandri, uma distribuidora de materiais elétricos. “Nossas vendas foram zero.”

Seu temor de que o novo regime de banda cambial pudesse levá-lo a vender produtos por um valor inferior ao custo de reposição foi imediatamente confirmados na manhã de segunda-feira (14). O peso se desvalorizou 10% quando os mercados oficiais abriram, enfraquecendo para 1.195 por dólar, ante 1.076 no fechamento de sexta-feira (11).

A decisão de Milei de afrouxar os controles cambiais está tendo um impacto sobre a economia real. Varejistas e importadores estão cautelosamente ajustando seus preços à medida que o peso enfraquece. E alguns temem que isso possa desencadear inflação, um problema que Milei conseguiu combater em grande parte em seu primeiro ano no cargo. A questão é se desta vez poderá ser diferente.

Empresas privadas de consultoria elevaram suas previsões de inflação para 2025, mesmo demonstrando otimismo com as novas políticas econômicas de Milei. O presidente libertário está flutuando o peso dentro de uma banda antes das importantes eleições de meio de mandato em outubro, mas depois de alcançar superávits fiscais e comerciais em seu primeiro ano de mandato.

Metade do efeito da desvalorização do peso se concentrará nos próximos três meses, segundo Juan Pablo Ronderos, sócio responsável por economia e mercados na consultoria argentina MAP. Ronderos elevou a previsão da MAP para a inflação anual em 10 pontos porcentuais, para 33%. “Estamos preocupados com o ritmo do núcleo da inflação em março e a isso se somará um repasse da desvalorização”, diz ele.

Outras empresas que elevaram suas previsões incluem a consultoria FMyA, que agora espera uma inflação de 32% para este ano, em vez dos 25% que previa na semana passada.

Muitos comerciantes de produtos importados decidiram repassar imediatamente o aumento de 10% na taxa de câmbio para os clientes. A razão é simples: muitos produtos são faturados em dólar, mas expressos em peso, na taxa de câmbio oficial do dia. Alguns preços dos produtos nacionais, muitos deles com insumos importados, também estão subindo.

“Estamos considerando um aumento de 10% para os produtos nacionais”, diz Abons. “Eles certamente vão aumentar quando eu for repô-los e provavelmente perderei dinheiro.”

Economistas e empresas veem dois motivos pelos quais não se espera que a inflação fuja de controle por enquanto, comparado a outras desvalorizações abruptas promovidas pela Argentina nos últimos anos. Um deles é a ampla confiança no programa econômico de Milei e muitas pessoas acreditam que o peso não continuará se desvalorizando agressivamente. O outro é que a demanda está tão deprimida que as empresas simplesmente não podem se dar ao luxo de aumentar os preços drasticamente.

Os varejistas estão em uma posição delicada. Por um lado, os produtos importados ficaram mais caros da noite para o dia. Por outro, há pouco apetite no mercado para absorver preços mais altos.

“Repassar um aumento direto de 10% ao consumidor de uma só vez é arriscado com uma demanda tão baixa”, diz Manuel Loitegui, gerente de produtos da Puppis, uma rede de petshops que importa quase tudo da China.

No setor de materiais de construção, o padrão é similar. Aqueles que vendem produtos importados repassam seus custos diretamente. “Houve alguns ajustes, mas minha sensação é de que ninguém quer que isso vá por água abaixo”, diz Pablo Gaitán, que dirige o depósito de madeira Corralón Ciudadela nos arredores de Buenos Aires. “Tentamos agir com cautela. Todos nós queremos vender.”

Fernando Furci, diretor-geral da Câmara Argentina de Importadores, está acostumado com a paralisação das vendas por dias durante esse tipo de evento. No entanto, ele acredita que os importadores estão se comportando de maneira diferente desta vez.

“Alguns estão entregando mercadorias com faturas em aberto, acertando os preços depois”, diz ele, acrescentando que isso mostra uma confiança real na situação. “A demanda está fraca. As margens estão pequenas. As empresas estão estudando cada movimento. Ninguém está em posição de agir agressivamente.”

[Fonte Original]

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