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sexta-feira, abril 25, 2025

O que é estagflação?

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Quando um país ou uma região enfrentam altas taxas de desemprego, preços de itens básicos variando nas alturas e com baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o cenário pode ser considerado como de estagflação econômica. É como um “eclipse total” da economia, quando dois corpos celestes se posicionam um completamente na frente do outro: é raro, mas pode acontecer.

O termo vem do inglês “stagflation”, usado originalmente pelo político britânico Ian Macleod em 1965 – segundo o dicionário Merriam-Webster – para descrever a situação do Reino Unido à época, que encarava uma inflação alta e a desaceleração da economia, ao mesmo tempo. Macleod caracterizou a condição como “o pior dos dois mundos”.

Como surge a estagflação?

Marcel Moraes, professor de economia e finanças da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que a estagnação econômica é intermediária à falta de crescimento econômico e à recessão. “É como se a renda geral da população de um território não crescesse, mas também não diminuísse”, exemplifica.

A inflação, por outro lado, é mais “conhecida” pelos brasileiros. Historicamente, dura a longo prazo e pode ter diversas origens. Moraes aponta três tipos:

  • Inflação de demanda: é a pressão da demanda de consumo de bens e serviços sobre a oferta desses elementos. Quando muita gente procura por produtos e atividades e a quantidade da oferta é baixa, os preços aumentam de uma maneira geral;
  • Inflação de custos: é quando as matérias-primas das mercadorias encarecem e afetam a produção, o que se reflete no aumento do preço final;
  • Inflação inercial: é quando os preços aumentam durante um período sem causas específicas e resistem às políticas de estabilização.

O professor esclarece que a combinação de inflação com estagnação – a estagflação – é, teoricamente, atípica, porque são dois eventos que têm motivos opostos:

“Por exemplo, quando eu tenho pressão de demanda sobre a oferta, isso pressupõe que os agentes econômicos [as pessoas, as empresas, os governos] estão com renda para consumir bens e serviços. E isso não combina com estagnação econômica, combina mais com crescimento econômico”, ilustra Moraes.

Esse crescimento, em geral, acompanha o aumento da oferta de empregos e a elevação dos preços (a inflação). E, quando a economia desacelera, o mercado de trabalho se contrai e a inflação cai.

Como controlar a estagflação?

Contornar o cenário de estagflação é um desafio para autoridades responsáveis pelas políticas fiscais e monetárias que harmonizam as finanças e a economia de um território, como são os governos e os bancos centrais.

Se as duas entidades trabalham para conter a inflação, o resultado pode ser o desemprego e a desaceleração da economia, com a queda do PIB. Caso governo e banco central impulsionem a geração de empregos e a produtividade, os preços tendem a subir.

No Brasil, por exemplo, Moraes diz que o crescimento econômico anda a passos lentos e o país apresenta uma alta inflacionária. Nesse caso, o Banco Central tenta controlar a situação com o aumento da taxa básica de juros, a Selic.

“Mas quando o BC eleva a Selic, desestimula ainda mais o consumo; ele precisa combater a inflação, mas promove a redução do crescimento econômico, que já é baixo como o nosso. Vivemos num quadro de quase estagnação (alguns economistas acreditam que já estamos), porque se fizermos uma média dos últimos 10, 20 anos, o Brasil cresce cerca de 0,5%, 1% ao ano, o que é pouco”.

Um dos impactos da estagflação está nos bens de primeira necessidade, como o setor alimentício, já que as pessoas compram menos alimentos e procuram os mais baratos. Na outra ponta, indústrias que oferecem bens de maior valor agregado, como a automobilística, também sofrem com os cortes do consumo, o que fragiliza todo o ciclo econômico.

O professor da UFC indica alguns dos “remédios” para reverter a estagflação através do relaxamento da pressão entre a demanda e a oferta:

  • Aumentar o crédito para estimular que as pessoas consumam, mas sem ficarem superendividadas;
  • Oferecer crédito para produtores de bens e serviços, de modo a abastecer a demanda na medida que não provoque a inflação;
  • Redução de tributos para dar acesso a produtos e atividades com preços mais competitivos. Se o custo de produção reduz, o preço final reduz.

Moraes ressalta que a aplicação do último item é mais difícil para o caso brasileiro, já que o governo, em geral, precisa da arrecadação tributária para equilibrar as contas públicas.

Na década de 1970, os Estados Unidos viveram uma alta do desemprego e da inflação com o baixo crescimento econômico por conta da crise do petróleo em 1973, quando os países integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) viram a produção declinar e os preços dispararem.

Na mesma década, o Reino Unido, como testemunhado por Ian Macleod, também sofreu o baque petroleiro, mas passou por greves da indústria que abalaram o desenvolvimento econômico e social.

No Brasil de 1980, a enorme dívida externa, as altas taxas de desemprego e de inflação, a instabilidade fiscal, cambial e o PIB decadente marcaram o período como a “década perdida”, termo oficializado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), já que a situação também abarcou outros países do continente americano.

[Fonte Original]

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