As stablecoins estão mudando a forma como o Brasil lida com câmbio e transações internacionais. Com cerca de 70% das operações cripto no país feitas em stablecoins, essas moedas digitais de valor estável já não são apenas uma tendência — elas são uma realidade consolidada.
Para Alvin Kan, COO da Bitget Wallet, o movimento é irreversível: “Os bancos precisam reconhecer as stablecoins como instrumentos financeiros legítimos ou correm o risco de se tornarem obsoletos”. Ele destaca que a clareza regulatória será fundamental, mas o rumo está traçado: as stablecoins vão redesenhar o futuro do dinheiro.
Segundo Arthur Carvalho, analista do setor, as stablecoins criam uma ponte robusta entre o câmbio tradicional e o ecossistema cripto. Elas oferecem estabilidade, agilidade e acessibilidade, funcionando como um novo tipo de “dólar digital”. Ao manterem paridade com moedas fiduciárias, como o dólar americano, essas moedas reduzem a volatilidade e aumentam a usabilidade das criptos no dia a dia.
A Receita Federal revelou que o mercado de criptomoedas movimentou R$ 248 bilhões entre janeiro e setembro de 2024, demonstrando que o setor já tem peso relevante na economia brasileira. Parte desse sucesso se deve ao papel das stablecoins como moeda de troca, reserva de valor e ponte para serviços financeiros mais eficientes.
O Itaú Unibanco, por exemplo, estuda lançar sua própria stablecoin. A medida segue uma tendência global. Stablecoins emitidas por bancos oferecem integração com serviços existentes, maior segurança e facilidade de uso. Mas, como lembra Alvin Kan, “crypto-native stablecoins podem entregar mais retorno via DeFi, embora com riscos maiores”.
Essa dualidade entre conveniência bancária e liberdade descentralizada deverá moldar o comportamento do consumidor nos próximos anos. Muitos buscarão o melhor dos dois mundos: rendimento elevado e proteção institucional.
Tether, a líder das stablecoins, ganha força e respaldo
Para Rocelo Lopes, CEO da SmartPay, a Tether (USDT) vai liderar esse processo no Brasil e no mundo. Em sua avaliação: “O USDT será uma das maiores ferramentas de inclusão financeira global”. Segundo ele, a presença do CEO da Tether na Casa Branca sinaliza que os EUA enxergam com bons olhos a atuação da empresa.
Rocelo reforça a confiabilidade da Tether: “Se ela diz que tem US$ 140 bilhões em títulos do Tesouro, o governo sabe. E se não tivesse, já teria sido desmentida”. Ele desafia: “Tente sacar dois mil reais em USDT em um caixa eletrônico. Dá certo. Essa liquidez instantânea prova que o modelo funciona”.
No evento B8 Connect, por exemplo, Rocelo mostrou como é possível pagar medicamentos ou fazer compras de mercado com stablecoin, provando a aplicabilidade prática da moeda.
Câmbio tradicional e criptomoedas caminham para a fusão
Com o real frequentemente perdendo valor frente ao dólar, muitos brasileiros buscam proteção em ativos digitais. A lógica é simples: stablecoins oferecem uma porta de entrada segura e familiar para o universo cripto, além de servirem como hedge contra desvalorização cambial.
Arthur Carvalho lembra que a oscilação do dólar impacta diretamente o preço das criptomoedas, o que torna o câmbio ainda mais relevante para investidores. “Se o real desvaloriza, o custo para comprar Bitcoin ou Ethereum aumenta. Stablecoins ajudam a suavizar esse impacto”.
Se os marcos regulatórios avançarem, as stablecoins poderão substituir parte significativa das transações cambiais tradicionais. A integração com o sistema bancário, a entrada de emissores como Itaú e o crescimento da Tether são apenas os primeiros passos.
“A evolução do mercado é contínua”, conclui Rocelo. “Talvez o Bitcoin substitua o USDT um dia. Mas, até lá, as stablecoins serão o coração do novo sistema monetário global”.