“Mulheres são ensinadas a pedir licença. Virginia Woolf não pediu”, escreve Jurandy Valença, jornalista, gestor cultural e curador da exposição “Monólogo Interior”. Com cerca de 45 obras de 18 artistas, a mostra organizada pela Galeria 18 celebra os cem anos do lançamento do livro Mrs. Dalloway, de Woolf, escritora que “atacou o patriarcado com uma coragem e independência ímpar”, nas palavras do curador.
Para celebrá-la, a exposição une as artes visuais e a literatura, que, misturadas, criam um léxico próprio, apresentando uma nova interpretação às obras tanto de Woolf como das artistas em exposição, de modo que o espectador presencie a consciência desses monólogos interiores em conjunto – criando, enfim, diálogos. Entre suportes que vão da fotografia à escultura, a exposição se destaca pelo protagonismo do papel e do carvão, assim como o grafite, que são também materiais usados na escrita.
“O tempo, o cotidiano, a casa, a cidade e seus fluxos, as flores, o papel, o papelão, o carvão, o grafite e o suicídio” estão na lista de temas e imagens que se repetem nas obras expostas, lembra o curador. As flores, por exemplo, fazem referência à frase que abre o romance: “Mrs. Dalloway disse que ela própria iria comprar flores”. O suícidio, por outro lado, faz referência ao destino trágico da própria autora, e aparece enquanto performance na instalação em vídeo “Ophelia”, de Gabriela Greeb.
Lançado dois anos antes do Ulysses, de James Joyce, o livro Mrs. Dalloway narra um dia da vida da protagonista Clarissa Dalloway, uma mulher da alta sociedade de Londres cuja rotina é permeada por reflexões de memória, vida e morte. Sua narrativa transita entre o presente e o passado, ressaltando pensamentos dos personagens sobre vida, solidão, envelhecimento, loucura e relações humanas, em um arco temporal que permite ao leitor acesso a todas essas reflexões. Entre o fluxo de consciência e o monólogo interior – técnica de narração usada por autoras como Woolf e Clarice Lispector e que dá título à exposição –, Mrs. Dalloway foi responsável por uma revolução literária ao desafiar as formas do romance e posicionar a mulher como protagonista de sua própria vida.
Nesse sentido, a exposição parte do método de Woolf para criar uma narrativa visual subjetiva centrada na diversidade das vivências cotidianas femininas e nas criações artísticas que delas despontam. Dessa busca participam as artistas Állisson pitz, Aun Helden, Claudia Tostes, Edith Derdyk, Fabiola e Christian Pentagna, Gabriela Fontes, Gabriela Greeb, Giselle Beiguelman, Luiza Mazzetto, Karen de Picciotto, Marcia Tiburi, Mayara Ferrão, Nelly Gutmacher, Nicole Mouracade, Paty Wolff, San Bertini, Thix e Waleska Reuter.
“Os meus monólogos internos e os das artistas convidadas, personificados na seleção de obras, constituem, em seu conjunto, subjetividades particulares, com as quais lidamos enquanto artistas e escritores. Isso surge na narrativa visual da mostra coletiva por intermédio dos trabalhos expostos”, conclui Valença, que celebra o “feminismo pioneiro” de Virginia Woolf.