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segunda-feira, maio 12, 2025

Crítica | Demolidor: Quarentena (2021-2022) – Plano Crítico

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Último arco do sexto volume da série do Demolidor, Quarentena é mais uma preparação para a próxima fase no evento Devil’s Reign, do que necessariamente uma conclusão da narrativa principal dos arcos anteriores, mas Zdarsky consegue trazer um bom clímax, finalizando alguns núcleos e estabelecendo o que vem a seguir em sua longa passagem pelas histórias do Homem Sem Medo. Em síntese, o que temos é um arco que abandona algumas linhas narrativas (pelo menos temporariamente), como os conflitos de poder de Fisk com o grupo de bilionários que controla a cidade (aliás, esse lado mais político deixou muito a desejar ao longo do volume) ou então a guerra entre gangues, que tem um trabalho mínimo aqui com Butch fazendo algumas tramoias, mas que perde espaço na narrativa.

O foco é majoritariamente dividido entre os “Demolidores”: de um lado, Matt investigando a prisão, sob pedido do FBI, e do outro, Elektra tendo que lidar com o Mercenário à solta em Nova York pós-operação secreta do Fisk, momento em que descobrimos que o psicopata foi clonado. Ambos os núcleos são um pouco atrapalhados e corridos, como se Zdarsky quisesse finalizar isso o quanto antes para poder preparar os dois grandes eventos insinuados aqui: o conflito com A Mão e um novo ataque de Fisk, claramente enfurecido por notar que sabia a identidade do Demolidor. Nesse sentido, a organização ninja é apenas mencionada, enquanto o Rei do Crime tem uma participação subsidiária, aparecendo em cenas específicas que são importantes (sua conversa com Libris; seu encontro com Butch; e o ataque de um dos clones do Demolidor) ao mesmo tempo que vemos o desenrolar do seu relacionamento com a Mary, acabando até em um casório que mascara um futuro tranquilo do vilão.

Com essas linhas narrativas sem tanto desenvolvimento, Zdarsky faz uma certa ginástica para criar algum tipo de clímax. No núcleo de Matt, algumas contradições e hipocrisias do protagonista vem à tona na continuação do seu arco dramático, com a investigação da prisão escalonando rapidamente à medida que o personagem ataca o diretor da cadeia. A forma como vamos do início da investigação, a revelação de uma droga que altera o humor dos presos (metáfora para problemas de reincidência criminal de ex-presidiários), para a tomada da prisão e, por fim, a fuga do herói, é uma sequência de eventos cheia de atropelos. Dito isso, tudo é bem divertido de ler, passando pela ação e pelos questionamentos morais que perseguem o protagonista ao longo do caminho.

Com a trama da Elektra, a sensação é similar. Os planos de Fisk com o Mercenário e o twist da clonagem não são bem explicados, com tudo soando como uma desculpa para termos vários Mercenários reencenando uma luta com a assassina, quase como um déjà vu mais perturbado. Apesar de fazer pouco sentido narrativo, tampouco ser uma progressão orgânica da história do volume, o bloco é, mais uma vez, bem divertido. Os trechos de combate são artisticamente muito bonitos e com uma desenvoltura visual gostosíssima de ler. Também gosto da participação de outros heróis, agregando para uma discussão curiosa que surge ao final do arco: heróis estão acima da lei? Mais especificamente, se o sistema é corrupto, os vigilantes têm o direito de fazerem o que acham correto como bem entendem?

Essa parece ser a epifania do Demolidor, com um tom até agressivo e resoluto, como podemos ver no diálogo com Reed Richards. Acho a virada de chave moral do protagonista abrupta, indo de um homem torturado que queria sofrer penitência a qualquer custo para um super-herói que se sente no direito de estar acima da lei por conta do seu traje, mas o arco em si é orgânico, principalmente quando levamos em consideração os eventos na prisão e a maneira como o protagonista é obrigado a ver os problemas do sistema. Como ele pretende mudar ou agir frente a isso é bem interessante, ainda mais agora com sua parceria com a sempre tênue e perigosa Elektra. No fim, Quarentena é uma grande preparação, não apenas para esse novo Demolidor pós-dúvidas sobre carregar o manto e o que fazer com ele em face de problemas com a lei, mas também sobre o futuro de Hell’s Kitchen com um novo Rei do Crime, sobre um conflito ainda com muitos segredos sobre uma profecia milenar, e, claro, o que parece ser um embate direto entre Matt e Fisk sobre o vigilantismo, especialmente no que os atos do Demolidor significam para todos os heróis à sua volta. Esse final de volume parece um início de novo arco, com Zdarsky mostrando alguns problemas de abordagem, principalmente a quantidade de coisas que tenta fazer ao mesmo tempo, mas entregando um arco bem divertido e que estabelece diversos elementos e tramas curiosas para o restante da sua passagem na série.

Demolidor: Quarentena (Daredevil: Lockdown) — EUA, agosto de 2021 a fevereiro de 2022
Contendo: Daredevil – Vol.6 #31 a 36
No Brasil: Demolidor 3ª Série – n°7 (Panini, agosto de 2022)
Roteiro: Chip Zdarsky
Arte: Marco Checchetto, Adriano di Benedetto, Mike Hawthorne, Stefano Landini, Francesco Mobili, Manuel Garcia, Cam Smith, Scott Hanna, Victor Nava
Cores: Marcio Menyz, Bryan Valenza
Letras: Clayton Cowles
Editoria: Devin Lewis, Nick Lowe, C.B. Cebulski, Danny Khazem
Editora: Marvel Comics
124 páginas



[Fonte Original]

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