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domingo, maio 4, 2025

Crítica | G.I. Joe (Comandos em Ação): Missões Silenciosas – Vol. 1 – Plano Crítico

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Entre o final do terceiro arco e começo do quarto de G.I. Joe, a Skybound/Image resolveu homenagear Interlúdio Silencioso, a história “muda” da famosa edição #21 da HQ, publicada lá pelos idos de 1984 pela Marvel Comics, e dedicou o mês de abril de 2025 às Missões Silenciosas, lançando cinco one-shots sem diálogos e onomatopeias por equipes criativas diferentes e focadas também em personagens diferentes, resultando em um literal interlúdio silencioso para dar um descanso ao incansável Larry Hama que segue escrevendo a HQ principal do universo original dos Joes. Como de hábito, essas cinco edições mais a clássica #21 foram compiladas em um encadernado que, pelo sucesso de vendas, promete ser o primeiro de uma longa tradição. Como são histórias completamente autocontidas e independentes de continuidade, decidi fazer uma crítica curta para cada uma, com exceção de Interlúdio Silencioso que ganhou comentários mais extensos em razão de sua importância histórica. Vamos às críticas na ordem de publicação?

G.I. Joe #21
Interlúdio Silencioso

Segundo o próprio Larry Hama, Interlúdio Silencioso surgiu não só da vontade dele de desafiar-se criando uma história sem diálogos, como de uma necessidade prática. Havia um prazo na Marvel Comics que ele precisava cumprir e, por alguma razão que se perdeu nas brumas do tempo, a edição #21 original havia se perdido e só havia três semanas para criar outra do zero. Ele, então, não só escreveu o roteiro, como, excepcionalmente, cuidou da arte, eliminando completamente qualquer texto da HQ de forma a abrir mão do trabalho do letrista, que demoraria mais uma semana. O resultado, então, foi a edição de G.I. Joe que muitos consideram como tendo marcado o momento em que a publicação mensal ultrapassou o patamar de ser apenas um veículo para vender “bonequinhos” da Hasbro e ganhou vida própria e respeito real de seus leitores.

Só para não deixar qualquer sombra de dúvida, Interlúdio Silencioso não é nem de muito, muito longe a primeira HQ sem falas e onomatopeias, mas ela é sim uma das mais citadas por aí como exemplo mainstream desse tipo de publicação, e, sem dúvida alguma, a mais importante que Larry Hama já escreveu para a série que ele continua até hoje escrevendo, mas para a Skybound/Image. E essa importância vem não só do que descrevi no parágrafo anterior, ou seja, como o momento de maturidade de G.I. Joe, como também pela introdução daquele que quase que imediatamente se tornaria um dos mais queridos personagens da franquia, o ninja de traje branco Storm Shadow, inicialmente da organização vilanesca Cobra. Mais ainda, em um momento de improviso conforme o próprio Hama diz, os quadros finais da edição não só conectam Storm Shadow a Snake Eyes, o silencioso ninja de traje preto que luta ao lado dos Joes, como estabelece, por meio dessa conexão gráfica – o símbolo vermelho no antebraço dos personagens – a existência do clã Arashikage. Em outras palavras, em uma HQ feita às pressas e com uma ideia solta ao final, Hama criou uma das mais prolíficas linhas narrativas de uma publicação mensal que se tornaria perene nos EUA, mesmo passando por várias editoras.

Sobre a história em si, ela é simples como deveria ser: Storm Shadow chega ao castelo Cobra depois de capturar Scarlett e Snake Eyes vem ao seu encalço. O que segue daí é, claro, a invasão do Joe ninja ao castelo de um lado e a fuga de Scarlett de outro, com a belíssima convergência final que igualmente mostra o quanto Storm Shadow é letal e o quanto Snake Eyes é hábil. O fato de a narrativa girar ao redor de ninjas – Scarlett, nessa altura, ainda não era uma ninja, mas mesmo assim funciona – mais do que justifica a eliminação dos diálogos e das onomatopeias, dada a natureza desses espiões/infiltradores que têm origem no Japão do século XII conforme dizem. Não considero a HQ o suprassumo da narrativa silenciosa como alguns fãs mais entusiasmados tendem a afirmar, mas o trabalho de Hama é realmente eficiente, mesmo que sua arte não seja particularmente interessante ou fluida. Mas Hama demonstra ter o que realmente interessa aqui, que é a progressão de quadros que, apenas com a arte, permite a perfeita compreensão do que está ocorrendo, ainda que, como disse, não haja particular complexidade no que é contado.

Não sou o maior fã de “momentos barulhentos” que são artificialmente emudecidos pela eliminação das palavras e sons de uma HQ, como são os casos de diálogos e tiros e explosões sem os respectivos balões de fala e onomatopeias, mas, para o mérito de Hama, ele consegue reduzir essas situações ao mínimo possível, focando muito mais no efetivo silêncio das ações de infiltração principalmente de Snake Eyes. Além disso, é muito interessante como ele, trabalhando com dois personagens que têm seus rostos quase totalmente cobertos (só vemos os olhos de Storm Shadow e nada de Snake Eyes), consegue passar os sentimentos com grande clareza, especialmente a rivalidade entre os dois ninjas e a intensidade de tudo o que eles fazem. Gosto também como o roteirista/desenhista não se rende à tentação de destacar apenas os dois, abrindo espaço também para Scarlett, que em momento algum é a “dama em perigo”, estando muito mais para “dama perigosa”. E é assim que, na pressa, no improviso e no mais completo silêncio, Larry Hama fez história!

G.I. Joe: A Real American Hero #21 – Silence Interlude (EUA, 1984)
Roteiro: Larry Hama
Arte: Larry Hama
Arte-final: Steve Leialoha
Cores: George Roussos
Editoria: Dennis O’Neil
Editora: Marvel Comics
Data original de publicação: março de 1984
Páginas: 23

Beach Head

Beach Head, o Joe constantemente de balaclava que surgiu em G.I. Joe #34, de 1986, é um sargento durão por excelência e, aqui, ele acaba em uma zona desmilitarizada toda destruída, mas ainda habitada, no que só posso deduzir que seja um país do Oriente Médio como a Síria. Baleado pelos soldados da organização Cobra que o perseguem, ele é salvo por crianças locais e pela mãe delas e, parcialmente recuperado, retorna para a pancadaria de maneira a terminar de trucidar aqueles que estão atrás dele, fazendo de tudo para ajudar a família que o albergou e os demais habitantes locais.

Para além da ambientação que carrega consigo um claro, direto e valioso comentário político, esse one-shot mudo não tem nada particularmente especial para além de, claro, não conter diálogos e onomatopeias. Não é uma históra ruim e o fato de Beach Head “parecer” um ninja ajuda na noção de uma narrativa apenas com imagens, mas, diferente do que Hama fez em Interlúdio Silencioso, o roteiro de Phil Hester não faz esforço para naturalmente suprimir os sons, basicamente criando uma história com todos os sons e falas normais, só que sem elas, se é que me entendem. Funciona? Sim, claro, pois é uma história de perseguição e sobrevivência sem maiores firulas e qualquer um entenderia de toda forma, mas faltou  cuidado a Hester de justificar essa escolha estilística.

Por outro lado, a arte do mesmo Hester funciona a contento, com traços fortes, que dão a impressão de inacabados, rimando bem com a devastação do lugar onde a ação se passa e ampliando o comentário político de fundo. Também gosto que o roteirista/desenhista não economiza na violência, mas também não a explicita demais e como ele evita fazer de seu protagonista um super-herói invencível, o que torna mais valiosa a presença da família que o ajuda ao longo da frenética aventura. Não é uma história particularmente memorável, mas ela sem dúvida alguma resulta em uma leitura prazerosa.

G.I. Joe: A Real American Hero – Silent Missions: Beach Head (EUA, 2025)
Roteiro: Phil Hester
Arte: Phil Hester
Arte-final: Travis Hymel
Cores: Lee Loughridge
Editoria: Alex Antone
Editora: Skybound (Image Comics)
Data original de publicação: 02 de abril de 2025
Páginas: 23

Jinx

O roteirista Dan Watters e a artista/roteirista grega Dani voltaram ao básico de Interlúdio Silencioso e elegeram a ninja Jinx, do mesmo clã de Snake Eyes e Storm Shadow, criada em 1987, como a protagonista de sua história muda, uma escolha que automaticamente torna essa imposição de não se usar diálogos e onomatopeias algo mais lógico e “fácil” de aceitar. Além disso, a dupla criou um artifício que reputo muito bom e que faz toda a diferença aqui: Jinx coloca uma bomba em uma instalação Cobra e toda a narrativa se passa durante a contagem regressiva de 20 segundos para tudo ir para os ares, o que significa que cada página lida equivale a um segundo de ação, de imediato estabelecendo uma urgência e uma dinâmica raras de serem vistas por aí.

Na verdade, dois artifícios foram usados, pois a arte de Dani foi concebida para ser colorida por Brad Simpson com principalmente duas cores, o vermelho escarlate do traje que é marca do traje de Jinx e um belo azul claro que se assemelha ao tradicionalmente usado no traje do Cobra Commander. Dessa maneira, há todo um charme para a sucessão de quadros, charme esse ampliado pela tensão criada mesmo que nós saibamos que nada de sério acontecera à Jinx, lógico, mérito da dupla de roteiristas e da artista, e também pelo uso consciente da violência, ou seja, de maneira necessária para se contar a história sem infantilizá-la ou sem apelar para momentos fora do quadro.

Não posso dizer que Jinx é uma daquelas histórias que ficam na memória do leitor por muito tempo, pois nada que é feito aqui já não  foi feito antes dezenas e dezenas de vezes, mas, ao revés, não tenho dúvida alguma em afirmar que, se essa HQ tivesse sido publicada lá atrás, no lugar de Interlúdio Silencioso, ela poderia ter tido efeito semelhante, mesmo que não introduza personagem novo algum. No mínimo dos mínimos, há mais mérito puramente artístico no que Dani desenha do que o limitado Hama consegue fazer nesse quesito.

G.I. Joe: A Real American Hero – Silent Missions: Jinx (EUA, 2025)
Roteiro: Dani, Dan Watters
Arte: Dani
Cores: Brad Simpson
Editoria: Alex Antone
Editora: Skybound (Image Comics)
Data original de publicação: 09 de abril de 2025
Páginas: 23

Spirit

Spirit, um nativo americano que sempre age em parceria com sua águia-de-cabeça-branca Freedom, surgiu inicialmente como figura de ação em 1984, mesmo ano em que outros grandes personagens da franquia surgiram, como Duke, Baronesa e Storm Shadow. Ele é o rastreador por excelência, sem em sintonia com a natureza e respeitoso das tradições de seu povo ancestral. Ele pode não ser um ninja, mas sua habilidade principal e sua estoicidade fazem dele uma escolha inspirada para uma HQ sem falas e sem onomatopeias, especialmente porque o roteirista e desenhista brasileiro Leonardo Romero, responsável pelo ótimo design da série Seu Amigão da Vizinhança Homem-Aranha, não reinventou a roda e criou uma história em que Spirit faz aquilo que Spirit foi criado para fazer: rastrear.

E o que ele rastreia nas florestas dos EUA? Uma gigantesca e misteriosa criatura que vem matando animais por ali, animal esse que, não demora a ficar claro, não é exatamente animal, mas sim uma aterradora criação da organização Cobra. O diferencial dessa HQ, para além do óbvio, é que não há inimigos humanos, o que é uma abordagem refrescante e ajuda na fluidez da ausência de balões de fala, mas o que realmente chama a atenção é a arte enganosamente simples de Romero, que tem um traço muito característico que naturalmente torna a narrativa com aparência mais… infantil. No entanto, vejam bem, isso não é de forma alguma uma característica negativa, pois ela funciona bem dentro do espírito (he, he, he) da história de fundo ecológico que ele conta, além de ser muito bonita e vistosa por si só, algo que é acompanhado pelas cores nobres e dessaturadas da também brasileira Cris Peter.

E a cereja no bolo é que Romero tem um excelente comando de distribuição de quadros, fazendo ótimas experimentações com até mesmo o uso de páginas duplas com quadros internos sem perder o ritmo e sem criar confusão para o leitor, algo que não é incomum quando essa técnica é empregada. Com isso, ele realça a nobreza natural de Spirit e entrega uma história que eu facilmente chamaria de atemporal. Não seria nada mal, aliás, se essa dupla artística retornasse para o personagem ou, sendo sincero, qualquer outro personagem da franquia G.I. Joe que carregue características semelhantes ao protagonista dessa breve história.

G.I. Joe: A Real American Hero – Silent Missions: Spirit (EUA, 2025)
Roteiro: Leonardo Romero
Arte: Leonardo Romero
Cores: Cris Peter
Editoria: Alex Antone
Editora: Skybound (Image Comics)
Data original de publicação: 16 de abril de 2025
Páginas: 23

Roadblock

Provavelmente um dos mais famosos personagens da gigantesca galeria de personagens de G.I. Joe, Roadblock é um enorme soldado da artilharia pesada que provavelmente é o menos indicado a ganhar um one-shot mudo justamente por ele ser quem é, ou seja, um grandalhão que não atira com arminhas leves e sim metralhadoras quase do tamanho de uma pessoa, além de basicamente ser imparável na luta corporal. Retirar as palavras e, principalmente, as onomatopeias de uma publicação do personagem é arrancar fora sua essência, sua alma, pois ele não é nada sem uma M60 na mão estraçalhando seus inimigos enquanto grita com eles a todo pulmão.

E Andrew Krahnke parece saber disso e não faz o menor esforço para criar uma história muda de verdade, seguindo a linha da HQ protagonizada por Beach Head, que nada mais é  do que uma história normal em que nenhuma letra ou palavra foi inserida. Mas há um agravante aqui, já que o roteirista/artista basicamente nos conta a mesma história da clássica Interlúdio Silencioso, trocando Snake Eyes por Roadblock, Scarlett por Lady Jaye e Storm Shadow por Wild Weasel em uma história em que o artilheiro precisa resgatar a infiltradora dos Joes de um comboio terrestre da organização Cobra. Não é, lógico, o fim do mundo que Krahnke não tenha criado algo mais diferente ou que tenha escolhido o mais improvável personagem para protagonizar uma história silenciosa, mas fica aquela impressão de que pouco esforço foi empregado aqui.

Isso fica particularmente evidente na forma um tanto quanto bagunçada com que Krahnke lida com a progressão de quadros, fazendo basicamente o oposto do trabalho de Leonardo Romero com Spirit e também distanciando-se da ação frenética com clareza que Phil Hester imprime em seu trabalho com Beach Head. No final das contas, esse one-shot fica aquém dos demais, ainda que, se visto sozinho, funciona ali no limite de uma narrativa medianamente simpática para o espalhafatoso Roadblock.

G.I. Joe: A Real American Hero – Silent Missions: Roadblock (EUA, 2025)
Roteiro: Andrew Krahnke
Arte: Andrew Krahnke
Cores: Francesco Segala
Editoria: Alex Antone
Editora: Skybound (Image Comics)
Data original de publicação: 23 de abril de 2025
Páginas: 23

Duke

Duke é, sem dúvida alguma, uma escolha segura para protagonizar um  one-shot mudo, já que o personagem pode ser facilmente trabalhado como um agente solitário em uma missão dada sua propensão quase monomaníaca em fazer tudo de seu jeito. Com isso eu quero dizer que há pouco risco em usar o personagem, especialmente em uma história em que ele está realmente fazendo aquilo que ele faz de melhor, ou seja, matar antes e perguntar depois. Wes Craig, no roteiro e na arte acrescenta uma pequena, mas interessante camada extra na narrativa, porém, ao deixar a história ambígua quase até o fim. O que Duke faz exatamente ali na ilha em que chega? Trata-se de uma operação de resgate, de vingança, de assassinato?

Essa dubiedade de propósito funciona, assim como funciona a abordagem mais sombria e raivosa dada ao personagem, em uma ambientação hostil, mas que ele basicamente ignora, atropelando com máxima violência todos os obstáculos que se põem à sua frente. É uma história que, também, contra uma outra história por trás quando tudo é revelado e Craig consegue até mesmo incutir curiosidade no leitor em saber mais sobre o que está por trás do que vemos acontecer, lembrando de longe o que Larry Hama fez ao conectar Snake Eyes com Storm Shadow ao final de Interlúdio Silencioso.

Usando muitos espaços negativos na arte, Wes Craig reduz sua história ao básico, ao que há de mais visceral e não economiza nas representações gráficas do que a raiva de Duke o leva a fazer em sua missão, algo que Jason Wordie replica com cores básicas e chapadas sempre quando pode. Duke é, talvez, o “coringa” dos personagens dos Joes e, nas mãos certas, funcionaria em qualquer tipo de história, mesmo as mais experimentais, e, ainda bem, não é diferente aqui.

G.I. Joe: A Real American Hero – Silent Missions: Duke (EUA, 2025)
Roteiro: Wes Craig
Arte: Wes Craig
Cores: Jason Wordie
Editoria: Alex Antone
Editora: Skybound (Image Comics)
Data original de publicação: 30 de abril de 2025
Páginas: 23



[Fonte Original]

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