Esta edição da série Godzilla vs. Marvel é um emaranhado de ideias que não se conectam. O leitor tenta entender o caminho do roteiro, se esforça para encaixar os personagens e a presença do kaijuzão protagonista, mas sem sucesso. O resultado é uma história que, apesar de suas ambições, não entrega uma experiência coesa e envolvente. A trama começa com Sunfire enfrentando Godzilla nos estaleiros de Imabari (Japão), só que rapidamente se fragmenta em uma série de eventos desconexos: a introdução do Tri-Sentinelmechakaiju (confesso que pirei na arte, mas odiei o uso desse “megazord”, que é uma criação conjunta da Tsugunai Robotics e Trask Industries); o treinamento dos X-Men na Sala de Perigo e a busca pelo Super-Adaptoid num depósito em Boulder (Colorado, EUA). O problema é que o roteiro não consegue amarrar esses eventos em um arco narrativo claro. A história salta de uma cena de ação para outra — Godzilla destruindo um navio, o Super-Adaptoid enfrentando o monstro com poderes mimetizados dos X-Men, o robô híbrido lutando contra ambos — sem oferecer um fio condutor que dê sentido a esses momentos. Praticamente esboços sem uma boa colagem.
Os temas abordados, como o preconceito contra mutantes e, por tabela, contra os kaijus, além do ciclo de medo que leva à criação de armas cada vez mais destrutivas, e, por fim, a vingança pessoal de Kaneto contra Godzilla, têm potencial, mas são tratados com superficialidade. A discussão sobre a natureza de Godzilla, levantada por Xavier ao sugerir que o monstro age com motivação própria, poderia ser um ponto forte do texto, especialmente quando ele mergulha nas memórias do kaiju e descobre que seu ataque em 1955 foi um ato de contenção contra Anguirus, não de destruição gratuita. No entanto, o momento é resolvido sem explorar as devidas implicações. O paralelo entre o ódio aos mutantes e a construção do Tri-Sentinelmechakaiju também é apenas rascunhado, perdido no meio das batalhas visualmente boas, mas sem algo melhor que as ampare. A história tenta flertar com questões políticas e sociais, como o embate entre a abordagem pacifista de Xavier e a beligerância de Kaneto, mas essas ideias nunca ganham profundidade. É como se o roteiro quisesse dizer algo importante, mas se contentasse em apenas aludir a essas coisas.
A arte é o único elemento que consistentemente se destaca (basicamente um padrão, nessas séries). O design do Tri-Sentinelmechakaiju, com suas cabeças mecânicas inspiradas em Biollante, Battra e Fire Rodan, além de suas asas laranjas e tentáculos, é visualmente impressionante e captura a escala aterrorizante de um monstro híbrido. As cenas de ação, como o confronto entre Godzilla e o Super-Adaptoid ou a destruição do robô, têm uma diagramação que prende o olhar, com traços que enfatizam a grandiosidade dos combates, como deveria ser. Mas é claro que a força visual não compensa a fraqueza do roteiro. Em alguns momentos, a arte parece até sobrecarregada pela necessidade de compensar o enredo, resultando em painéis que, embora bonitos, não transmitem a emoção ou o peso narrativo que a trama exige.
Godzilla redirecionando sua fúria para o Tri-Sentinelmechakaiju e os X-Men percebendo que o verdadeiro perigo vem da humanidade, é um fechamento temático bacaninha que já vimos nas outras edições da série, mas que chega tarde demais e de forma rasa. A revelação de que Kaneto errou ao julgar Godzilla como um monstro irracional não tem a força necessária porque a história não investiu tempo suficiente em construir essa conexão. O quadrinho termina refletindo sobre o medo e a intolerância, mas essa nota soa forçada, como se Fabian Nicieza quisesse injetar profundidade em uma narrativa que passou a maior parte do tempo correndo atrás de algo, sem jamais alcançar. Mais uma oportunidade desperdiçada. Para os fãs, pode haver algum prazer nos visuais e nas batalhas, mas a falta de coesão faz com que o quadrinho seja rapidamente esquecido.
Godzilla Vs. X-Men (EUA, 14 de maio de 2025)
Roteiro: Fabian Nicieza
Arte: Emilio Laiso
Cores: Federico Blee
Letras: Clayton Cowles
Capa principal: Tony S. Daniel
25 páginas