Continuando as edições de Legacy of Vader, correspondente ao arco The Reign of Kylo Ren, chegamos à quarta edição, na qual Kylo Ren tenta compreender o legado de seu avô, Darth Vader. Nas edições anteriores, ele visitou Tatooine, o planeta natal de Anakin, descobrindo que este era escravo antes de se tornar o grande vilão da saga. Agora, ao chegar a Naboo, planeta-chave do Episódio I de Star Wars, suas descobertas aprofundam-se sobre a narrativa Skywalker antes dos trágicos acontecimentos do Episódio IX.
Textualmente, Charles Soule expande a mitologia de Naboo, um planeta tão relevante para os Prequels. Assim como em sua visita a Tatooine, Kylo Ren, de certa forma, tem revisado os eventos dos Prequels pelo ponto de vista de Vaneé para entender como alcançar o poder de Vader. No entanto, ele percebe, cada vez mais, que, em seu orgulho, ignorar o passado é mais confortável do que admitir as fragilidades de seu reinado como Supremo Líder após matar Snoke. Trata-se de uma história de Anakin às avessas: Kylo não se entrega às dores, mas finge ser imune a elas, planejando mais mortes.
Nesse sentido, os flashbacks do Episódio II – o romance entre Anakin e Padmé – e do Episódio VIII – a luta de Rey e Kylo no salão vermelho – se conectam. Como é padrão neste arco e nas histórias de Kylo Ren escritas por Soule, a ilustração, com tons leves de vermelho, criada pela parceria entre Stefano Raffaele e Nolan Woodard, contrasta fortemente com a expressão aterrorizada e desgostosa de Ben Solo. Tematicamente, seja pelo romance, seja pelo choque dramático dos personagens, ao confrontar o passado com a morte da mãe (Anakin) ou tentar deixar o passado para trás (Ben), a associação dos flashbacks é acertada para essa narrativa de legado, apego e desapego.
Além disso, a força do roteiro, aliada à arte com traços mais leves e cores intensas, está em destacar uma relação óbvia, mas frequentemente esquecida, sobre Naboo: Padmé e Palpatine, duas figuras opostas originadas de uma mesma linhagem familiar. Uma representa a democracia republicana; o outro, o império ditatorial. Esse detalhe reforça a conexão entre a família Skywalker e o grande vilão Sheev Palpatine, presente nos seis filmes de George Lucas. Seria isso uma justificativa da Lucasfilm para apaziguar os fãs em relação ao retorno do Imperador em A Ascensão Skywalker? Talvez.
O que realmente importa é a estratégia de Soule ao ambientar essa história em Naboo. Além de retratar o planeta durante o período do Império Galáctico, o autor utiliza flashbacks sobre apoiadores políticos – que ganham e perdem com as mudanças políticas – e desenvolve um conflito envolvendo posses e famílias em torno de uma antiga mansão. Essa é a parte mais burocrática da história, que introduz um conflito para que Ben tenha sua cena de ação Sith, para a satisfação dos leitores de HQs. Apesar de ser uma boa sequência de ação, o que realmente se destaca é como Darth Vader, anos após sua passagem, deixou na mansão o legado de um fantasma apaixonado, que protege tanto a mansão quanto o legado de Padmé.
Por isso, a raiva de Kylo Ren intensifica-se no desfecho da narrativa. Valorizar o passado e a linhagem familiar é seu maior medo, ao contrário de Vader. Contudo, ele não consegue usar isso para se fortalecer, como Anakin fez. Como Star Wars é uma obra cinematográfica que se inspira em HQs, o arco Legacy of Vader ganha força ao delinear cada vez mais o perfil de Kylo Ren: um vilão singular, agora sem máscara, em uma saga que tenta refletir os tempos atuais, onde jovens maus se escondem por trás de uma tela.
Star Wars: Legacy of Vader #4 — (Estados Unidos, 2025)
Roteiro: Charles Soule
Arte: Stefano Raffaele
Cores: Nolan Woodard
Letras: VC’s Joe Caramagna
Capa: Derrick Chew
Editoria: Mikey J. Basso, Drew Baumgartner, Mark Paniccia, C.B. Cebulski
23 páginas