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sexta-feira, maio 2, 2025

Crítica | Thunderbolts (1997) – Vol. 1 – Plano Crítico

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  • Há spoilers escandalosos.

Não sou exatamente fã da fase dos quadrinhos de super-heróis nos anos 90, com os designs exagerados e cafonices narrativas típicas dessa era tomando conta do gênero, mas no meio de tudo isso, tivemos muitas histórias icônicas, além de um período de crescimento financeiro gigantesco na indústria. Uma boa porção das melhores obras na década partiam de elementos subversivos, que iam contra a maré de tramas genéricas de pura porradaria que tomaram conta das prateleiras. Thunderbolts, escrito pelo genial Kurt Busiek, certamente se enquadra nessa ideia, com a primeira edição da série se tornando um marco com sua reviravolta inesquecível.

Originalmente, os Thunderbolts surgiram como substitutos dos Vingadores, que em sua grande maioria foram dados como mortos em uma batalha gigantesca com Onslaught. A equipe parecia um misto dos Novos Guerreiros com Youngblood em suas caracterizações extravagantes e caricatas no time composto por Citizen V, MACH-I, Songbird, Atlas, Meteorite e Techno, todos de certa forma pastiches de outros heróis famosos da editora. Quando o título foi lançado, a visão superficial é a de um novo grupo de super-heróis extremamente convencional que se “voluntariam” para ajudar a humanidade na ausência dos Vingadores, até termos o twist: os integrantes da equipe são na verdade membros dos Mestres do Terror, clássica equipe de super-vilões liderada pelo Barão Zemo.

É uma ideia tão ousada para uma HQ mainstream, especialmente nessa época que a maioria dos autores não tinham a mesma liberdade criativa atual. A partir do momento que as identidades secretas são reveladas – Barão Zemo, Beetle, Screaming Mimi, Goliath e Moonstone – a percepção da narrativa muda completamente, saindo de um grupo qualquer de heróis para uma história inusitada que apresenta uma dinâmica diferente, ainda mais pensando em quão raro eram quadrinhos protagonizados por vilões. O restante do primeiro volume lida diretamente com a introdução da equipe, incluindo uma edição de flashback de todos os membros, e um delineamento do plano: ganharem a confiança popular para terem acesso à agências governamentais, tecnologia de ponta e arquivos confidenciais.

Depois da reviravolta, Busiek estabelece um tom mais protocolar, o que é compreensível, já que o autor foca em estabelecer os objetivos da equipe e mostrar suas interações internas. Gosto bastante da maneira paciente que o roteiro mostra a evolução do grupo, com exploração de elementos da mídia e da opinião popular como meio dos Thunderbolts atingirem suas metas, já nesse primeiro volume tendo acesso ao QG do Quarteto Fantástico. Tudo aqui tem um tom de crime internacional e até elementos leves de espionagem – não à toa, a Viúva Negra faz uma ponta -, com destaque para uma característica que acho subestimada em quadrinhos do gênero: super-vilões inteligentes e criativos; até porque ninguém merece criminosos que roubam joalherias e bancos. O que me perde um pouco nesse início são alguns cacoetes dos anos 90, com lutas exageradas, uma arte meio disforme, uma estrutura visual ruim para as ações resumidas a franca pancadaria (zero senso coreográfico ou espacial) e uma narrativa caótica que tem robôs gigantes, monstros de laboratório, horror corporal e outros elementos esquisitos que nem sempre se encaixam, apesar de Busiek ter um certo tato em manter tudo isso mais na superfície do seu roteiro profundo.

Outro fator interessante desse início da série é a característica psicológica do texto de Busiek, que passa a demonstrar como alguns membros da equipe passam a gostar da vida super-heroica, dos agradecimentos públicos e da satisfação em ajudar pessoas, utilizando Moonstone – uma psicóloga – como filtro para o leitor entender essa transformação (chega a ser uma característica expositiva em determinados momentos que a vilã externaliza tudo, mas ainda interessante de ler). O drama tem substância e espaço narrativo, explorando relacionamentos românticos, traumas infantis e um certo cansaço dos vilões com as diversas derrotas ao longo dos anos. A sugestão é de que o plano da equipe está desmoronando antes mesmo de começar a dar certo, apesar do trato com Barão Zemo se manter, felizmente, da mesma forma: maniqueísta e maquiavélico, interessado unicamente em seus objetivos, sem ver tudo entrando em colapso ao seu redor.

À medida que o volume avança, o roteiro entra mais e mais fundo nas dinâmicas da equipe, com destaque para a entrada inesperada e não planejada de uma nova heroína no grupo, chamada Jolt, que não tem ideia do que está acontecendo. O jogo de segredos e o esquema complicado dos vilões fica ainda mais difícil com uma “invasora” que precisa estar por fora de tudo, gerando uma certa tensão interna e conflitos interessantíssimos para os próximos volumes. Quem imaginaria que um grupinho qualquer de heróis teria um plot twist desse tamanho? A cartada da Marvel funciona e Busiek estabelece o que parece ser uma série extremamente cuidadosa e curiosa com vilões fingindo serem heróis… mas com o perigo sendo tão externo quanto interno, com um grupo que está implodindo ao mesmo passo que é uma ameaça global!

Thunderbolts (1997) — Vol. 1 | EUA, abril a agosto de 1997
Contendo: Thunderbolts – Vol. 1 #1 a 5 + Anual #1, Distant Rumblings #-1, The Incredible Hulk #449, Tales of the Marvel Universe one-shot e Spider-Man Team-Up #7
Roteiro: Kurt Busiek
Arte: Mark Bagley, Vince Russell
Cores: Joe Rosas
Letras: Dave Lanphear
Editoria: Tom Brevoort, Bob Harras
Editora: Marvel Comics
296 páginas



[Fonte Original]

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