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terça-feira, maio 6, 2025

Crítica | TVA (2024) – Plano Crítico

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Adaptações cinematográficas e televisivas da Marvel e da DC se inspiram, obviamente, nos quadrinhos, mas algumas vezes ao longo das décadas (principalmente nos últimos anos) o oposto também acontece, com produções audiovisuais influenciando obras do Big Two. Isso acontece aqui na primeira HQ solo da TVA, ou, traduzindo, a AVT (Agência de Variância Temporal), que é o cenário principal da série Loki. Uma espécie de sequência que não mexe tão diretamente nos eventos do seriado (Loki é apenas mencionado e seus atos não ganham qualquer desenvolvimento), mas que continua a história de diversos personagens, como Morbius, B-15, Ouroboros e Sylvie, a HQ é uma das obras mais curiosas quando pensamos na interconexão entre o UCM e os quadrinhos da Marvel, porque efetivamente dá seguimento para arcos do seriado, podendo impactar diretamente o que veremos da agência em futuras produções da franquia audiovisual, além de ter figuras da série televisiva sendo transferidas para o universo principal da Marvel Comics. Diferente das HQs de prelúdio e de acompanhamento dos filmes/séries, temos um quadrinho que tem ligação completa com o UCM. Se algo mais a fundo será explorado nesse sentido, teremos que ver, mas é bacana ver essa expansão multimídia.

Escrita por Katharyn Blair, roteirista da segunda temporada de Loki, a obra apresenta uma Agência de Variância Temporal com uma nova roupagem e novos objetivos depois que o Loki do UCM salvou o multiverso. Basicamente, Morbius e B-15, juntos de uma versão “consertada” da Sra. Minutos, montam uma equipe de desajustados que, aparentemente, perderam suas dimensões, para que o grupo possa ajudar em manter o multiverso organizado. Nesse sentido, a premissa lembra bastante o famigerado Exilados, dos anos 2000, ou até as diversas tramas da equipe Excalibur, do Capitão Britânia, introduzindo um grupo de heróis de versões alternativas com missões interdimensionais, sem amarras à mitologia do universo principal da Marvel e uma tábula rasa para contos caóticos pelo multiverso. E, claro, a equipe é montada com párias solitários, cheios de segredos e traumas, aos poucos encontrando saídas de seus vácuos emocionais na força coletiva e em novos laços criados no meio de situações difíceis.

Gosto bastante do início do volume. Blair contextualiza rapidamente a AVT atual logo na primeira edição, colocando os personagens familiares da série televisiva em posições mais de coadjuvantes e de suporte (é muito bacana ver todos eles nos quadrinhos!), com foco no corpo principal dos outcasts, incluindo Spider-Gwen (a protagonista efetiva da HQ), Capitã Carter, Jimmy Hudson, Gambit (uma versão que perdeu a Vampira) e a misteriosa Ingrid, uma personagem completamente nova e a única que não tem uma versão original delineada no panteão da Marvel. Após a contextualização e organização da agência, o texto eficientemente apresenta uma nova ameaça ao Multiverso, que inclui elementos oníricos, trazendo um certo tom de suspense e até de horror, além de uma dinâmica gostosa entre uma pegada bem humorada entre o grupo disfuncional e uma abordagem do roteiro com camadas de conspiração e intriga, incluindo a possibilidade de um traidor (mais uma vez) dentro da agência.

A arte de Pere Pérez com cores de Guru – eFX (pseudônimo do veterano Jochen Weltjens) é puro carisma, trazendo os elementos visuais da série em seu teor “burocrático” e de escritório, mas também com uma ilustração cartunesca que traz o ar de sci-fi multidimensional da história e a leveza do enredo. No entanto, os artistas não ganham tanto para fazer em termos de ação, no problema geral da narrativa de Katharyn Blair, que é talvez autocontida demais, sem explorar um pouco melhor o conceito do multiverso e expandir a lore da AVT, além de uma estrutura um pouco cansativa na segunda metade da obra, com muitas conversações e pouco envolvimento do leitor na aventura em si, que fica ali mais emperrada em deduções e explicações do grupo (de muitas formas, a roteirista carrega o caráter expositivo do seriado).

Conceitualmente, também não gosto do rumo da aventura à medida que a ameaça principal é revelada. Vou evitar spoilers, mas a trama recebe um tratamento místico que na minha visão não combina com a equipe (ninguém tem poderes mágicos), nem com a proposta de ficção científica desse cenário, com o vilão ficando de certa forma deslocado em um desfecho sem um clímax propriamente dito – temos, também, uma participação da Wanda (não a do UCM) que não chama a atenção, retratando mais uma versão caótica e genérica da Feiticeira Escarlate. Felizmente, parece que o antagonista não voltará, abrindo portas para um novo tipo de aventura se a minissérie ganhar uma continuação, seja aqui, seja na televisão (confesso que adoraria um caráter procedural, com novos volumes abordando uma ameaça interdimensional diferente), além de um twist interessantíssimo com o(a) traidor(a) no final do arco.

A primeira HQ da Agência de Variância Temporal, e consequentemente a primeira obra compartilhada entre o UCM e a Marvel Comics, não é tão narrativamente inspirada ou tão notável assim, mas mesmo entre problemas, é uma obra que chama a atenção, tanto por uma interligação com o UCM que atiça a curiosidade do leitor, podendo expandir o que é feito na série original (ou talvez aproveitar um material abandonado com o descarte da trama com Kang pelo estúdio), quanto pela apresentação de uma equipe extremamente simpática com o mesmo cenário charmoso da série. A integração entre o grupo do seriado – Morbius, B-15, Ouroboros, Sylvie e Sra. Minutos – e a nova equipe – Spider-Gwen, Capitã Carter, Jimmy Hudson, Gambit e Ingrid – é o grande destaque de uma HQ carismática e com potencial em uma eventual continuação (realmente gostaria que não fosse só uma minissérie), só ainda não exatamente claro como será feita essa sequência. Preferiria que fosse nos quadrinhos, mas seria incrível ver esse novo grupo de personagens no audiovisual.

TVA — EUA, dezembro de 2024 a abril de 2025
Contendo: TVA – #1 a 5
Roteiro: Katharyn Blair
Arte: Pere Pérez
Cores: Guru – eFX
Letras: Joe Sabino
Editoria: C.B. Cebulski, Kaeden McGahey, Jordan D. White
Editora: Marvel Comics
140 páginas



[Fonte Original]

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