Há uma mudança estrutural nos gastos da população, além de aumento da inflação, e isso afeta renda e pode estar provocando a aceleração na troca de marcas mais caras pelo cliente pelas mais baratas nas classes de menor renda.
A análise é de Belmiro Gomes, presidente do Assaí, segunda maior rede de varejo alimentar do país, com mais de R$ 80 bilhões em vendas ao ano.
“Há algo mais estrutural acontecendo, e tivemos ainda essa questão forte das ‘bets’ [apostas e jogos de azar online] com projeção de mais de R$ 400 bilhões de gastos [até R$ 30 bilhões ao mês apenas em ‘bets’, segundo o Banco Central]. Então, não é só inflação”, disse ele a analistas, em teleconferência com analistas.
Segundo a direção, a rede não perdeu volume de janeiro a março, mas ganhou e isso é mais animador.
Semanas atrás, o BC informou dados fechados do primeiro trimestre, em termos de movimentos com apostas on-line no país, e valor girou entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões por mês. Considerando média, se anualizar esse valor, são R$ 300 bilhões gastos com isso pelos brasileiros. O Brasil já e um dos maiores mercado de jogos e apostas on-line do mundo — em menos de quatro anos de atuação mais forte, é o terceiro maior mercado global, segundo a Associação Nacional de Jogos e Loterias.
Para se ter uma ideia do tamanho desse montante, as redes de supermercados no Brasil — maior negócio de varejo do Brasil — faturaram R$ 1,067 trilhão em 2024, o equivalente a 9,12% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo a Associação Brasileira de Supermercados. Então, em cerca de 3 a 4 anos de forte crescimento, apenas as bets (sem considerar joguinhos on-line) são quase 30% do maior negócio de varejo brasileiro, de alimentos e bebidas.
Apesar da regulamentação dessas empresas estrangeiras por meio de certificações, empresário do varejo têm dito nos bastidores que falta maior esforço de conscientização por parte do governo e da sociedade civil junto à população, especialmente quanto à educação financeira.
As companhias se transformaram numa das maiores fontes de investimento publicitário para meios de comunicação (rádios, TVs) e “influencers” digitais.
Ainda na teleconferência desta sexta-feira, o Assaí projetou cerca de 10 lojas novas em 2026 e 10 em 2027, em termos de aberturas, e sem aquisições no radar — o número está abaixo do registrado em anos anteriores, pelo foco maior em desalavancagem do grupo.
Os dados mostram que a dívida líquida da rede foi de R$ 11,48 bilhões acima dos R$ 11,17 bilhões de um ano atrás, mas o lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) melhorou, aliviando o índice de endividamento.
Houve um aumento na linha encargos sobre a dívida, causado pelo impacto do maior volume de dívida bruta média no período. Além disso, a linha “encargos sobre a dívida” continua sendo afetada pela marcação a mercado, oriunda de “swaps” para CDI de dívidas indexadas ao IPCA.
Sobre Ebitda ajustado, passou de R$ 3,6 bilhões para R$ 4,2 bilhões de janeiro a março de 2025, com isso, na relação entre dívida líquida e ebitda, o índice caiu de 3,75 vezes no primeiro trimestre de 2024 para 3,15 vezes neste ano.
A companhia vem, desde o ano passado, como meta central, a redução desse indicador. A rede mantém projeção de atingir 2,6 vezes ao fim de 2025.
“Os números do primeiro trimestre mostram solidez e consistência e seguimos firme na trajetória de desalavancagem”, disse Gomes.
Segundo relatório de analistas, o trimestre foi positivo, com a companhia entregando o melhor janeiro a março de sua história, em termos de rentabilidade.
O Assaí reportou uma receita bruta de R$ 20,3 bilhões (7,8% de alta anual) e receita líquida de R$ 18,6 bilhões (7,7% de alta anual) de janeiro a março frente a 2024.
O lucro líquido foi de R$ 117 milhões (95% de alta).