Após forte alta na última sessão, os rendimentos dos Treasuries tiveram queda nesta quinta-feira, movimento que foi provocado por dados mais fracos da economia americana, sugerindo uma inflação menor e uma atividade menos aquecida. Isso ajudou a impulsionar parte das bolsas de Nova York – embora o rali das ações de tecnologia tenha perdido o fôlego visto nas últimas sessões. Os setores com melhor desempenho no dia foram os defensivos.
Por volta das 18h (de Brasília) os rendimentos dos Treasuries com vencimento em dois anos caíam para 3,969%, de 4,057% no fechamento anterior, e os rendimentos dos Treasuries com vencimento em dez anos recuavam para 4,430%, ante 4,538% na última sessão. Os rendimentos dos Treasuries com vencimento em 30 anos eram negociados a 4,893%, de 4,975%. No mesmo horário, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente uma cesta de outras seis moedas fortes, cedia 0,23%, aos 100,8 pontos.
No cenário macro, os dados da economia americana divulgados nesta quinta-feira vieram mais fracos do que o esperado. O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) teve queda de 0,5% no mês de abril ante março, ficando abaixo da estimativa média dos analistas consultados pelo “The Wall Street Journal”, que apontava para uma alta de 0,3%. Na base anual, o indicador ficou em 2,4%, representando uma desaceleração sobre a última leitura, que marcou 3,4%.
As vendas no varejo vieram em linha com o consenso, marcando uma alta de 0,1% na passagem de março para abril. Mas o grupo de controle da pesquisa, que simula o desempenho do consumo no Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos caiu 0,2%, abaixo da estimativa de alta de 0,3%.
Ian Lyngen e Vail Hatman, estrategistas de renda fixa do BMO Capital Markets, avaliam que o pior da guerra comercial parece ter passado, mas ressaltam que manchetes sobre acordos bilaterais ainda podem afetar o mercado. Na visão deles, o mercado agora depende dos próximos dados econômicos para confirmar se uma desaceleração foi evitada ou se foi mesmo desencadeada pelo aumento da incerteza. No entanto, como os novos níveis de tarifas ainda não foram definidos, os investidores talvez só consigam medir os impactos com mais clareza no terceiro ou quarto trimestre.
“Os dados de abril são comparáveis a abrir uma cápsula do tempo — interessantes, mas com utilidade limitada para prever o que vem pela frente”, diz Steven Blitz, da TS Lombard, em relatório. Na visão dele, os dados ainda refletem distorções causadas por compras antecipadas devido à expectativa de tarifas e não capturam totalmente os impactos dos aumentos de preços que virão. No entanto, ele vê que os números sugerem uma desaceleração na atividade. “Um corte de juros em julho ainda está longe de ser garantido, mas a sequência recente de indicadores sugere que a probabilidade é maior do que os 33% precificados atualmente pelo mercado”, ele diz.
Mas apesar dos dados mais fracos, a preocupação com o equilíbrio fiscal dos Estados Unidos tem crescido entre os participantes do mercado, à medida que o Congresso americano tenta aprovar um projeto que aumentaria ainda mais o déficit. “O acordo comercial entre EUA e China sugere uma baixa disposição para impor tarifas que penalizem o consumidor americano. No fim das contas, mesmo considerando a arrecadação (agora reduzida) com tarifas, o déficit orçamentário dos EUA continuará aumentando – e o déficit em conta corrente provavelmente seguirá o mesmo caminho”, comenta George Saravelos, do Deutsche Bank, em nota.
Já em Wall Street, o índice Dow Jones subiu 0,65%, aos 42.322,75 pontos, o S&P 500 teve alta de 0,41%, aos 5.916,93 pontos, e o Nasdaq recuou 0,18%, aos 19.112,319 pontos. Todas as bolsas caminham para encerrar a semana no positivo e o S&P se mantém em alta no acumulado do ano, após registrar queda de mais de 15% no auge dos temores com a guerra comercial. Entre os setores, serviços públicos (+2,12%) e itens básicos de consumo (+2%) lideraram os ganhos, enquanto consumo discricionário (-0,68%) e comunicação (-0,42%) constituíram as maiores perdas do dia.