Após o rebaixamento da nota máxima de crédito dos Estados Unidos pela Moody’s, que em um primeiro momento assustou os mercados, as bolsas tiveram leve alta em Nova York e os rendimentos dos Treasuries ficaram no negativo nesta segunda-feira. Investidores aproveitaram para comprar na baixa, o que reverteu o “sell-off” ao longo do dia. Mas apesar dessa recuperação, o mercado vê a mudança de rating como uma confirmação dos temores sobre o aumento do déficit americano e avalia que, no longo prazo, os operadores devem passar a exigir maior prêmio de risco para os títulos da dívida pública dos Estados Unidos. O dólar recuou.
Em Wall Street, o índice Dow Jones avançou 0,32%, aos 42.792,07 pontos, o S&P 500 fechou em alta de 0,09%, aos 5.963,60 pontos, e o Nasdaq subiu 0,02%, aos 19.215,463 pontos. Entre os setores, saúde (+0,96%) e itens básicos de consumo (+0,42%) lideraram os ganhos, enquanto energia (-1,55%) e consumo discricionário (-0,27%) tiveram as maiores quedas.
Na sexta-feira, a agência de classificação de risco Moody’s cortou a nota de crédito dos Estados Unidos de “Aaa”, que constitui o grau máximo de investimento, para “Aa1”, destacando o aumento da dívida americana como o principal motivo por trás do rebaixamento. Isso acontece em um momento em que o mercado vem demonstrando preocupação com o equilíbrio fiscal nos Estados Unidos, com as promessas de campanha do presidente Donald Trump de cortes de impostos e diante de um projeto de lei que tramita no Congresso americano que poderia aumentar ainda mais o déficit.
Mais cedo, os rendimentos dos Treasuries disparavam, com os juros das T-bonds de 30 anos chegando a superar a marca de 5%. No entanto, com a abertura das negociações à vista, quando os investidores pessoa física — que têm liderado o movimento de comprar na baixa nas últimas semanas — começam a operar, esse movimento começou a se reverter, e as bolsas americanas, que iniciaram o pregão no negativo, devolveram boa parte das perdas durante a sessão.
Para o Morgan Stanley, esse é um bom momento para comprar ações americanas. Em relatório, estrategistas liderados por Michael Wilson avaliam que o acordo entre a China e os Estados Unidos na semana passada reduziu os riscos de uma recessão. Com isso, na visão deles, o principal risco de curto prazo para as ações americanas está relacionado às taxas de juros de longo prazo, com maior risco de o mercado entrar em correção caso os rendimentos dos Treasuries de dez anos superem o nível de 4,50% – o que aconteceu nesta segunda após o rebaixamento dos Estados Unidos pela Moody’s. “Nós aproveitaríamos essa queda para comprar”, eles dizem.
Os estrategistas estão otimistas para o mercado de ações neste ano, estimando que o S&P 500 irá chegar a 6.100 pontos. Eles também afirmam, no relatório, que o acordo com a China deve ajudar a sustentar a confiança das empresas e a continuidade das revisões de lucros para o S&P 500 pode impulsionar ainda mais o índice de ações.
Na mesma linha, Adriano Cantreva, sócio da Portofino Multi Family Office, avalia que o equilíbrio fiscal nos Estados Unidos já vinha pesando sobre os preços dos ativos há algum tempo e o rebaixamento da Moody’s apenas confirma esse movimento. “Os investidores estão mais cautelosos em relação a ativos de longo prazo. Não é uma notícia que deve alterar os preços no curtíssimo prazo, mas é mais um dado que reforça essa cautela”, ele afirma.
“Sem dúvida, o que está no foco do mercado agora é o progresso nas negociações tarifárias com outros países e o orçamento americano, especialmente a possibilidade de um eventual corte de impostos”, ele ressalta. Mas mesmo com a dívida elevada, Cantreva destaca que ainda há demanda pelos Treasuries e não acredita em uma queda repentina na busca por ativos dolarizados, como tem sido temido por parte do mercado.
A BlackRock continua vendo os ativos americanos como peças-chave nos portfólios globais, mas também afirma que o rebaixamento pela Moody’s reforça a visão de que os investidores devem exigir um prêmio de risco maior para manter títulos de longo prazo dos Estados Unidos.
“Quando as ações caíram, o dólar e os Treasuries também recuaram, levantou-se questionamentos sobre a confiança dos investidores nos ativos norte-americanos. Não acreditamos que seja o caso. O dólar continua forte em termos históricos”, dizem os analistas.
No entanto, eles alertam: “Os investidores exigem mais prêmio de risco para manter Treasuries, dado o déficit fiscal persistente, a inflação elevada e a volatilidade dos títulos. O cenário incerto faz com que seja impossível ter convicção em apenas um cenário central nas nossas estratégias de longo prazo.”
Por volta das 18h (de Brasília), os rendimentos dos Treasuries com vencimento em dois anos recuavam para 3,979%, de 4,014% no fechamento anterior, e os rendimentos dos Tresuries com vencimento em dez anos caíam para 4,454%, ante 4,484% na sessão anterior. Já os rendimentos dos Treasuries de 30 anos, que chegaram a superar a marca de 5% na máxima do dia, eram negociados a 4,905%, de 4,954%. No mesmo horário, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente uma cesta de outras seis moedas fortes, cedia 0,73%, aos 100,35 pontos.
O dia também foi marcado por discursos de dirigentes do Federal Reserve (Fed), que reforçaram a narrativa de “esperar para ver” do banco central americano.
O presidente da distrital do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse ver espaço para apenas um corte de juros neste ano. Ele disse que ainda há muita incerteza no cenário econômico e que é preciso maior clareza antes de apoiar qualquer mudança no ritmo da política monetária, o que pode levar de três a seis meses, segundo ele. “Hoje as coisas estão muito instáveis, há muita incerteza”, ele disse. “Para mim, isso significa que, antes de querer que nossa política tome qualquer direção mais drástica, precisamos deixar as coisas se resolverem”.
Sobre o rebaixamento pela Moody’s, ele afirmou que isso pode ter um impacto negativo sobre o custo de capital e a economia americana. “Com esse rebaixamento, haverá implicações para o custo do capital e várias outras coisas, e isso pode causar um efeito dominó na economia”, ele disse, em entrevista à CNBC.
O presidente da distrital de Nova York, John Williams, também afirmou nesta segunda que pode levar meses até que os dados econômicos ofereçam maior clareza sobre o impacto da política comercial. “Não será em junho que vamos entender o que está acontecendo, nem em julho”, ele afirmou.
As principais bolsas de Nova York fecharam em leve alta nesta segunda-feira (19), após operarem a maior parte do pregão no negativo. Em um dia marcado pela volatilidade nos mercados acionários e de renda fixa, Wall Street se mostrou altamente sensível ao desempenho dos Treasuries após o rebaixamento de rating dos Estados Unidos pela Moody’s. A entrada de investidores de varejo nas bolsas e nos Treasuries levou os rendimentos dos títulos de dívida dos EUA a caírem e deu suporte para os índices exibirem ganhos, mesmo que modestos.
No fechamento, o índice Dow Jones subiu 0,32%, aos 42.792,07 pontos; o S&P 500 teve alta de 0,09%, aos 5.963,60 pontos; e o Nasdaq ganhou 0,02%, aos 19.215,46 pontos. Os setores de saúde (0,96%) e consumo discricionário (0,42%) exibiram as maiores altas. A Gilead Sciences subiu 3,57% e a AstraZeneca ganhou 1,42%, enquanto a Microsoft valorizou 1,01%.
O rebaixamento de rating dos EUA pela Moody’s, que citou o crescente grau de endividamento do país, levou o rendimento dos títulos públicos americanos acima de níveis considerados cruciais pelo mercado. A taxa da T-note de 10 anos, por exemplo, passou da marca de 4,5%, enquanto o yield da T-bond de 30 anos ficou acima de 5% nas máximas intradiárias. O movimento, no entanto, se dissipou no decorrer da tarde, levando o rendimento dos títulos para o campo negativo e dando suporte às bolsas.
Neste sentido, os economistas da BlackRock notam que manter a sustentabilidade da dívida dos EUA depende de financiamento amplo e constante de investidores estrangeiros pelo mercado de Treasuries. “O rebaixamento reforça o desafio da sustentabilidade fiscal dos EUA que há muito tempo sinalizamos, especialmente sobre os persistentes déficits orçamentários dos EUA em um momento em que taxas de juros mais altas estão aumentando o custo da dívida”, disseram.
A BlackRock também aponta que, se essa dinâmica prejudicar a confiança de detentores de títulos estrangeiros, o aumento do prêmio de risco nos Treasuries poderá elevar ainda mais os rendimentos dos títulos e, consequentemente, do custo da dívida. “Optamos por uma posição de compra em títulos indexados à inflação e crédito global neutro com grau de investimento, considerando spreads mais amplos”, acrescentaram.