Os rendimentos dos Treasuries dispararam nesta quarta-feira, especialmente nos vencimentos mais longos, com o mercado preocupado com a deterioração do déficit das contas públicas dos Estados Unidos à medida que parlamentares debatem o projeto orçamentário do presidente americano, que prevê corte de impostos. Esse movimento se estendeu ainda mais e impulsionou os juros para as máximas após um leilão de T-bonds de 20 anos, que apresentou uma demanda levemente abaixo do esperado pelo mercado. Com o risco fiscal no radar dos investidores e a pressão dos rendimentos dos Treasuries, as bolsas em Nova York fecharam no negativo. O dólar americano teve seu terceiro dia consecutivo de queda.
Por volta das 18h (de Brasília), os rendimentos dos Treasuries com vencimento em dois anos subiam para 4,030%, de 3,977% no fechamento anterior, e os rendimentos dos Treasuries com vencimento em dez anos avançavam para 4,604%, ante 4,491% na última sessão. Já os rendimentos dos Treasuries com vencimento em 30 anos eram negociados a 5,095%, de 4,979%. Nos últimos dias, o mercado vinha testando dois “níveis psicológicos” importantes para o mercado de Treasuries, as marcas de 4,50% e 5% para os títulos de dez e de 30 anos, respectivamente. No entanto, essa barreira foi facilmente rompida no pregão desta quarta e os rendimentos foram negociados acima desses valores durante a maior parte do dia.
Em relatório, o Bank of America (BofA) observa que, embora o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela Moody’s na semana passada não tenha sido o principal gatilho para a inclinação da curva dos rendimentos dos Treasuries, foi um alerta para os investidores que vinham ignorando a deterioração fiscal do país. “Ao contrário do esperado no início do ano, o déficit dos Estados Unidos não deve melhorar”, dizem os economistas.
Eles afirmam que a política fiscal expansionista limita o espaço do Federal Reserve (Fed) para cortar juros, enfraquecendo o apelo dos Treasuries como hedge contra recessão e tornando posições de “duration” mais caras. Além disso, o banco destaca que os prêmios de risco de inflação estão muito baixos e os Estados Unidos nunca dependeram tanto de investidores estrangeiros.
Pela tarde, o leilão de T-bonds de 20 anos mostrou uma demanda menor do que a média, o que contribuiu para piorar o humor do mercado e levou os rendimentos para as máximas da sessão. Embora a demanda tenha sido suficiente para cobrir a oferta em 2,46 vezes (“bid-to-cover”), a venda saiu com um rendimento de 5,047%, bem acima da média de 4,613% nos últimos seis leilões.
Sobre o leilão, George Saravelos, economista do Deutsche Bank, observa que a parte mais preocupante da reação do mercado é o enfraquecimento do dólar. Na visão dele, isso é um sinal claro de uma greve dos compradores estrangeiros de ativos americanos e dos riscos fiscais associados aos Estados Unidos. “Os investidores estrangeiros não estão mais dispostos a financiar os déficits dos Estados Unidos aos preços atuais”, ele diz, e acrescenta que o aumento do risco fiscal também será negativo para o mercado de ações.
Se houver mais uma disparada nos rendimentos dos Treasuries, Ian Lynen e Vail Hartman, estrategistas de renda fixa do BMO Capital Markets, esperam que Trump ou Scott Bessent, secretário do Tesouro, se manifestem a respeito. “Se isso acontecerá na forma de declarações tranquilizadoras ou medidas concretas é a grande incógnita no mercado de juros”, eles afirmam.
Em Wall Street, o índice Dow Jones fechou em queda de 1,91%, aos 41.860,44 pontos, o S&P 500 recuou 1,61%, aos 5.844,61 pontos, e o Nasdaq cedeu 1,41%, aos 18.872,643 pontos. Todos os setores, com exceção de comunicação, fecharam no negativo. Uma das poucas forças positivas no dia veio das ações da Alphabet, dona do Google, que subiram 2%, com o mercado reagindo bem a novas ferramentas de inteligência artificial anunciadas pela empresa.