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sexta-feira, maio 9, 2025

Comércio entre Brasil e China manterá trajetória de alta

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A história da economia brasileira seria outra se não fosse o enorme aumento do comércio com a China neste século. O gigante asiático ajudou a transformar o agronegócio brasileiro, deu uma mão para o Brasil se tornar um grande exportador de petróleo e catapultou a indústria extrativa de minérios. O Brasil virou grande exportador de commodities para seu maior parceiro (basicamente soja, petróleo e minério de ferro), e esse panorama deve se manter no próximo período.

Mas analistas apontam riscos e oportunidades que exigem mais atenção, especialmente pelas incertezas trazidas com o acirramento da guerra comercial iniciada pelo governo do presidente americano, Donald Trump. A projeção inicial é de que mais produtos chineses devem chegar ao mercado brasileiro. Porém, as negociações sobre tarifas entre EUA e China, iniciadas nesta semana, trazem novos elementos ao cenário.

Relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC) de abril aponta que a batalha tarifária levará a China a diversificar o destino de suas exportações, e a América do Sul deve ser a segunda região visada (expansão de 9% no volume de vendas). O Brasil deve abocanhar a principal fatia desse crescimento na região. “É quase impossível não acreditar que vai ser gerado um excesso de oferta no mercado mundial, o que não significa necessariamente uma má notícia”, diz Lucas Ferraz, coordenador do centro de negócios globais  da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para ele, isso pode beneficiar o Brasil com insumos mais baratos, o que tem potencial de aumentar a competitividade da indústria.

Logicamente, o risco de um “tsunami” de produtos chineses baratos preocupa, mas o governo tem instrumentos para impedir medidas anticoncorrenciais, antiga preocupação de diversos setores nacionais. O valor das exportações também pode ser impactado negativamente, já que o preço das commodities no mercado internacional está em queda. O barril de petróleo brent, referência global, atingiu no dia 7 de abril o menor valor desde 2021 (US$ 63,30). O governo não dá sinais de preocupação com esses dados e até o momento descarta a adoção de medidas imediatas. O risco, para o economista da FGV, é haver excessos na contenção às importações.

As ferramentas precisam ser usadas com parcimônia, defende Ferraz. “O Brasil é o terceiro país que mais impõe medidas antidumping no mundo, mas é apenas o 27º maior importador. É importante se proteger de práticas desleais, mas essa discussão já está acontecendo antes mesmo de a gente sentir os efeitos.”

Do ponto de vista da demanda chinesa, a perspectiva é positiva para o Brasil. O crescimento da China no primeiro trimestre foi acima do esperado, lembra Lia Valls, pesquisadora associada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj): alta de 5,4% do PIB. Isso, segundo ela, pode reverter uma queda nas exportações brasileiras para a China em 2024.

Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), afirma que a diminuição no ano passado foi causada por fatores conjunturais, como a queda de preço de commodities e menor oferta de grãos.

“O índice de preço das exportações para a China apresentou recuo de 7,7%, houve diminuição de 17% no preço da soja, de 5% em petróleo e de 4,5% no minério de ferro, na comparação interanual. Já o volume embarcado apresentou recuo de 1,6%. A quebra da safra de soja e milho, em 2024, explica essa redução. A produção de soja apresentou recuo de 5,1% e a de milho, de 12,3%. Com isso, os embarques de soja ao país reduziram 2,6% e os de milho, em 86%”, detalha a secretária.

Se a China repetir o que fez no primeiro governo Trump, pode comprar mais agronegócio do Brasil”

— Roberto D. Damas

Para Valls, as perspectivas são de aumento das exportações. “Talvez nada tão espetacular como antes, mas um crescimento positivo.” O pior cenário, para a economista, é uma repetição do acordo assinado por EUA e China no primeiro mandato de Trump, em que Pequim se comprometia a comprar mais de US$ 200 bilhões em mercadorias e serviços dos americanos, incluindo carne e soja. Com a pandemia de covid-19, esse pacto não prosperou.

Um salto pode vir da soja, diz Valls. Com ela concorda o economista Roberto Dumas Damas, do Insper. “Se a China repetir o que fez no primeiro governo Trump, pode comprar mais agronegócio do Brasil”, afirma. Para ele, haverá um aumento provável da pauta comercial. “Se isso vai ser favorável, depende de cada segmento. Trata-se de um jogo de xadrez.” Pode ser que os EUA ofereçam mais grãos à China para amenizar a guerra comercial, ele adverte, como também faz Valls.

Já as importações devem continuar em alta. “A perspectiva também é de crescimento, especialmente se for mantido o ritmo recente de atividade econômica no Brasil, pois o desempenho das importações está diretamente relacionado ao dinamismo da economia – com destaque para os investimentos produtivos e o consumo de bens duráveis”, argumenta Tatiana Prazeres. “Os dados mostram que o Brasil teve em 2024 uma pauta de importações fortemente voltada para insumos e bens de capital, essenciais para aumentar a produtividade. Apenas máquinas, aparelhos e materiais elétricos responderam por 26,1% do total, seguidas de perto por caldeiras, máquinas e instrumentos mecânicos, com 17,2%”, explica.

Por outro lado, a China já se consolidou como o maior parceiro comercial do Brasil, posto que ocupa desde 2009. No ano passado, o país representou 28% das nossas exportações (os EUA, em segundo lugar, absorveram 12%, e a Argentina, na terceira posição, 4%) e foi responsável por 24,3% das nossas importações (seguido por EUA, com 5,5%, e Alemanha, com 5,25%). Essa proporção deve continuar. “A China é o maior importador mundial, respondendo por cerca de 12% de todas as importações globais. Trata-se de um mercado dinâmico, com grande capacidade de absorção e cadeias produtivas altamente integradas. A perspectiva para os próximos anos é positiva”, afirma Prazeres.

[Fonte Original]

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