A economia argentina cresceu menos do que o esperado em março — o mês que antecedeu ao novo acordo de empréstimo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A atividade econômica da Argentina caiu 1,8% em março em relação a fevereiro. Este foi o pior resultado mensal desde dezembro de 2023. Em termos anuais, a atividade econômica teve alta de 5,6% em março, segundo informou nesta quarta-feira (21) o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec).
“Já esperávamos uma queda da atividade em março, diante de um quadro que já projetava uma atividade bastante impactada pela incerteza em torno do acordo com o FMI e do que isso poderia implicar em termos cambiais”, disse Kevin Sijniensky, analista econômico da consultoria Econviews.
Ele ressalta, porém, que os dados preliminares de abril “já mostram uma leve recuperação”.
“Com os números de março, o primeiro trimestre registrou um crescimento anual de 6,1% e de 1,5% em relação ao quarto trimestre”, afirmou Sijniensky, fazendo a ressalva de que a base da comparação anual é bastante baixa, uma vez que o país passou por uma severa retração econômica no início do ano passado.
“Para todo o ano de 2025, esperamos um crescimento de 4,6%, embora a maior parte disso seja efeito da herança estatística”, disse Sijniensky.
A mesma volatilidade que impactou a atividade econômica em março já tinha elevado a inflação dos preços ao consumidor daquele mês para 3,7%, com a expectativa de que um novo programa do FMI acarretasse uma desvalorização de 10% do peso. Mas isso não se confirmou e, em vez disso, a moeda local se valorizou dentro de uma banda administrada que vai de 1.000 a 1.400 pesos. Com isso, a inflação do mês de abril desacelerou para 2,8% em abril — 47,3% em termos anuais.
“Março foi o último mês completo do regime cambial anterior [de um câmbio fixo e de controles cambiais]”, disse o fundador da consultoria Perspectivas Económicas, Luis Secco. “É provável que a expectativa de uma mudança, uma vez que a política cambial existente era insustentável, possam ter influenciado na queda da atividade. Mas, além das incertezas sobre o acordo com o FMI, é preciso observar outros dados importantes sobre a estagnação da economia”, afirmou Secco.
“Os dados do comércio exterior de abril, por exemplo, continuam mostrando um aumento significativo nas importações enquanto as exportações seguem bastante fracas”, continuou Secco. “Obviamente, se a atividade se estabilizar nesses níveis, algum grau de tensão e frustração com o governo surgirá na opinião pública”, acrescentou.
Apesar dos números menos favoráveis divulgados ontem, a economia argentina vem mostrado algum sinal de impulso com as políticas de austeridade do presidente libertário Javier Milei no primeiro semestre de 2024. Entre outubro e dezembro, as exportações, os gastos do governo e do consumidor e as despesas de capital lideraram um crescimento trimestral acima do esperado, embora a atividade econômica mostre dificuldade de de sair da estagnação e os índices de pobreza da população se mantenham em níveis altos.
Os números do Indec divulgados ontem mostraram crescimento em relação a março do ano passado nos setores de Intermediação financeira (29,3%) e Construção (9,9%). Por outro lado, cinco setores tiveram baixas na comparação com o mesmo período de 2024, com as maiores quedas nos setores de eletricidade, gás e água (-4,3%) e hoteis e restaurantes (-3,6%). (Com agências internacionais)