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domingo, maio 11, 2025

Entenda os possíveis desdobramentos das negociações comerciais de Trump

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Quanto mais o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fala sobre seus esforços para negociar acordos com parceiros comerciais do país, mais confuso fica o quadro das tarifas. Sua equipe parece confortável com isso, dizendo que Trump usa a “incerteza estratégica” em seu benefício.

Trump diz que os EUA não precisam assinar nenhum acordo, e que poderiam assinar 25 deles agora mesmo. Diz que quer acordos justos com todas as partes, e que não se importa com os mercados de outros países. Diz que sua equipe pode sentar-se à mesa para negociar os termos de um acordo, e que ele próprio poderia simplesmente impor uma série de tarifas.

“Estou tendo dificuldades para entender o sentido disso”, escreveu Chad Brown, um pesquisador sênior do centro de estudos Peterson Institute for International Economics, via e-mail.

Embora a equipe do presidente cite o livro de Trump “A Arte da Negociação” como prova de que ele tem um plano maior, boa parte do mundo está em suspense. Isso tem resultado em um mercado de ações volátil, no congelamento de contratações pelas empresas e em todo tipo de incertezas, mesmo com Trump prometendo novas fábricas e empregos no horizonte.

A seguir, algumas possibilidades de desdobramentos das negociações comerciais:

Trump ainda quer as tarifas

Como parte de qualquer acordo, Trump quer manter algumas de suas tarifas. Ele acredita que os impostos sobre a importação podem gerar uma arrecadação enorme para um governo federal que está muito endividado, embora outros países vejam como o objetivo principal de qualquer acordo livrar-se das tarifas.

“Elas são uma coisa linda para nós”, disse Trump recentemente sobre as tarifas. “Se você puder usá-las, se conseguir dar um jeito de usá-las, isso vai nos deixar muito ricos. E estaremos pagando dívidas, estaremos reduzindo seus impostos de forma muito significativa, porque entrará tanto dinheiro, que conseguiremos reduzir seus impostos ainda mais do que o corte de impostos que você [já] vai estar recebendo.”

No acumulado de 2025, o governo dos EUA arrecadou US$ 45,9 bilhões em tarifas, cerca de US$ 14,5 bilhões a mais do que em 2024, segundo o centro de estudos Bipartisan Policy Center. Essa arrecadação poderia aumentar graças à tarifa básica de 10%, à de 145% sobre os produtos chineses e à de até 25% sobre o aço, o alumínio, os automóveis e as importações provenientes do México e Canadá.

Para atingir as metas declaradas de Trump, de pagar os US$ 36 trilhões da dívida e reduzir o imposto de renda, as tarifas precisariam levantar pelo menos US$ 2 trilhões ao ano sem causar um impacto na economia que levasse a uma queda na arrecadação total. Matematicamente, isso seria quase impossível.

Como funcionam as negociações?

O governo republicano divulgou que 17 de seus 18 principais parceiros comerciais já apresentaram documentos delineando possíveis concessões que eles estão dispostos a fazer. Chegar a um consenso sobre os termos seria apenas o começo de qualquer negociação comercial.

No entanto, líderes estrangeiros dizem que ainda é incerto o que exatamente Trump quer ou como os acordos poderiam ser formalizados em acordo que possam durar. Eles também não esquecem que Trump aprovou o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês) em 2020, apenas para impor novas tarifas aos dois mesmos parceiros em 2024.

Durante encontro com Trump na terça-feira (6), o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, sinalizou que a próxima versão desse acordo precisará ser reforçada para evitar uma repetição das tarifas relacionadas ao fentanil, impostas neste ano por Trump e vistas pelo Canadá como arbitrárias.

“Algumas coisas vão precisar mudar”, disse Carney.

Os EUA podem alcançar um acordo com a China?

As tarifas de 145% sobre a China — e as de 125% impostas por Pequim aos EUA em retaliação — pairam sobre todo o processo de negociação. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, reconhece que essas tarifas não são “sustentáveis”.

As primeiras conversas entre EUA e China devem começar neste fim de semana, na Suíça, mas provavelmente estarão limitadas a buscar formas de reduzir as tensões em um grau suficiente que permita dar início a negociações mais significativas.

O ponto central é que a China é a principal fabricante do mundo, o que também a torna uma grande exportadora, capaz de suplantar em muitos aspectos as indústrias locais dos outros países. Como a China reprime o consumo interno e tem foco na produção, o restante do mundo acaba comprando seus produtos, porque não há demanda interna chinesa suficiente. Os EUA querem reequilibrar o comércio, mas também impuseram tarifas a países que poderiam ser seus aliados na defesa de seus setores automotivo e tecnológico contra a China.

“Obviamente, nesse quebra-cabeça do comércio exterior, a China é a maior peça”, disse Bessent nesta semana. “Aonde chegaremos com a China?”

Lin Jian, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, sinalizou que uma maneira importante de o governo Trump avançar nas conversas seria recuar em sua retórica e nas tarifas punitivas de importação.

“Se os EUA realmente quiserem resolver a questão por meio do diálogo e negociação, deveriam parar de ameaçar e de pressionar, e envolver-se em um diálogo com a China com base na igualdade, respeito e benefício mútuo”, disse Lin na terça-feira (06).

Perguntado na quarta-feira se reduziria as tarifas contra a China como condição para iniciar as negociações, a resposta de Trump foi “não”.

O presidente também contestou declarações do governo chinês de que seu governo teria pedido para negociar em Genebra. “Bem, acho que eles deveriam voltar e estudar seus arquivos”, disse Trump.

O Congresso precisaria aprovar algum acordo?

Trump impôs suas tarifas gerais de forma unilateral, sem necessidade da aprovação do Congresso, valendo-se para isso da Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional de 1977, o que gerou diversos processos judiciais. O governo também sustenta que qualquer acordo para alterar essas tarifas não precisaria da aprovação do Congresso.

No passado, presidentes, inclusive o próprio Trump em seu primeiro mandato, quando chegou ao acordo comercial “Fase Um” com a China, só podiam negociar “acordos mais limitados com foco em questões bilaterais específicas de comércio exterior e de tarifas”, segundo um relatório atualizado em abril pelo Serviço de Pesquisas do Congresso (CRS). Outros exemplos de acordos limitados incluem um assinado em 2023 sobre minerais críticos e outro em 2020 sobre comércio digital com o Japão.

O desafio agora é que Trump também incluiu barreiras não tarifárias, entre as quais as normas de segurança automotiva e os impostos sobre valor agregado cobrados na Europa, como parte das negociações. Ele quer que outros países modifiquem as normas não tarifárias deles em troca de uma redução das novas tarifas impostas pelos EUA. Por sua vez, esses países podem questionar os subsídios concedidos pelos EUA a suas empresas.

Na teoria, seria necessária a aprovação da Câmara e do Senado para concluir um acordo que envolvesse “barreiras não tarifárias e exigisse mudanças na lei dos EUA”, segundo o relatório do CRS.

Seria realmente um “acordo”, se Trump simplesmente o impusesse?

Se os outros países não fizerem o que ele quer, Trump indicou que simplesmente fará algum tipo de arranjo interno e fixará uma tarifa, embora tecnicamente já tenha feito isso com suas tarifas no “Dia da Libertação”, anunciadas em 2 de abril. Esses impostos sobre as importações derrubaram os mercados financeiros, o que o levou a suspender algumas das novas tarifas por 90 dias e aplicar a taxa básica mais baixa, de 10%, enquanto as negociações estão em andamento.

Parece que Trump está disposto não impor as tarifas de suas ameaças iniciais se acreditar que os outros países estão fazendo concessões suficientes, o que, essencialmente, significa que os EUA não abririam mão de nada, já que as tarifas são novas. No entanto, Trump também poderia retirar essas tarifas sem necessariamente obter muitas concessões em troca.

“Trump é notoriamente conhecido por fazer exigências maximalistas e, depois, recuar conforme as negociações avançam, então veremos por quanto tempo ele se aferrará a essa fórmula”, disse William Reinsch, assessor sênior do Center for Strategic and International Studies, um centro de estudos de Washington. “Mas, até agora, está bastante claro que os países que chegam esperando uma negociação comercial ‘normal’, com concessões substanciais de ambos os lados, estão sendo rejeitados.”

[Fonte Original]

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