A inflação da Argentina desacelerou mais do que o esperado em abril, apesar de uma mudança na política cambial que muitos apostavam que aumentaria a volatilidade nos preços.
O índice de preços ao consumidor subiu 2,8% no mês, bem abaixo da alta de 3,7% de março, segundo dado oficial divulgado ontem. Em termos anuais, a inflação desacelerou para 47,3%, menor taxa em quatro anos. Os aumentos de preços foram liderados por alimentos e bebidas não alcoólicas.
Este foi o primeiro dado de inflação desde a flexibilização dos controles de capital (“cepo”) e de mudança do regime cambial para um sistema de bandas, anunciado no dia 11 de abril.
O resultado ficou abaixo da previsão feita pelo Banco Central argentino de 3,2% e foi comemorada pelo governo argentino. O presidente Javier Milei usou as redes sociais para parabenizar o ministro da Economia, Luis Caputo, que chamou de “o melhor da história”, e zombar dos economistas que criticam seu governo.
José Lezama, diretor do Instituto Geo de Pesquisa econômica, atribui a desaceleração da inflação a dois dois fatores. “Primeiro, há poucos pesos na economia, o que gera efeitos sobre o câmbio. Por outro lado, há uma forte competição comercial devido à entrada de importações, o que gera pressões de queda dos preços”, disse ele, acrescentando que “é provável que, a médio, longo prazo, tenhamos menos inflação”.
A força do peso também contribui para manter a inflação contida, uma vez que favorece as importações — que ganharam mais impulso com o fim das restrições das empresas para aquisição de dólares para pagar pelas compras externas. Por outro lado, o peso forte prejudica as margens e a competitividade dos exportadores.
A mudança no regime cambial faz parte do novo programa de US$ 20 bilhões da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em março, na expectativa de um acordo com o FMI, esperava-se uma desvalorização de 10% do peso, o que pressionou os preços. Mas essa desvalorização acabou não ocorrendo e, em vez disso, o peso se fortaleceu dentro da banda estabelecida pelo Banco Central.
A cotação do dólar paralelo passou a se aproximar da cotação oficial, e não o contrário como era esperado, segundo Nicolas Alonzo, analista-chefe da consultoria Orlando J. Ferrerés y Asociados. “A unificação foi bem-sucedida.”